Colunas

Brasília Online

04/02/2007

As apostas do PT para suceder Lula

Além da disputa pelo poder congressual, a eleição para presidente da Câmara foi palco de demarcação de terreno entre os aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito de 2010. Ciro Gomes (PSB) distanciou-se do PT, que se dedicará nos próximos anos a construir um novo projeto presidencial. Lula, que disputou cinco vezes o Palácio do Planalto, não poderá concorrer.

É cedo para análises definitivas. Leitores indagam como é possível avaliar uma disputa tão distante. Ora, é da natureza dos políticos tomar decisões de acordo com seus planos de médio e longo prazo. E foi isso o que andou acontecendo nos últimos dias.

A vitória do deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP) na eleição da Câmara fortaleceu a seção petista de São Paulo. Esse grupo foi o que mais perdeu quadros nas crises do mensalão e do dossiegate. A maioria trabalha a favor do sonho presidencial da ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. E pressiona Lula para que a coloque na pasta da Educação.

Dois outros petistas compõem com Marta o que seria uma espécie de primeiro pelotão do partido: o governador da Bahia, Jaques Wagner, e o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel.

Wagner e Pimentel integram o grupo que atribui à hegemonia paulista do PT a origem das grandes crises do governo Lula. Wagner está no primeiro mandato na Bahia. Hábil articulador e amigo do peito de Lula, ele terá o desafio de fazer uma administração com boa repercussão nacional. O presidente da República está disposto a ajudá-lo.

Mas sabemos que o carlismo não ficará assistindo de camarote. Há previsão de trovoadas no caminho de Wagner, sobretudo se seus aliados forem mal nas eleições municipais de 2008. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), cujo grupo foi apeado do poder após 16 anos, já se prepara para tentar obter maior número de prefeitos e vereadores do que os aliados de Wagner.

Fernando Pimentel, que está no segundo mandato na prefeitura, é tido como barbada para o governo de Minas em 2010. No PT, há quem defenda que ele integre o primeiro escalão de Lula a partir de 2009, quando sairá do cargo municipal, e se prepare como alternativa ao Palácio do Planalto.

Moderado na economia e na política, é um petista que o mercado adora. Poderia ser um novo Antonio Palocci Filho. Se Aécio não viabilizar a candidatura presidencial em 2010, cresceria a possibilidade de Pimentel ser o nome de Minas na sucessão de Lula.




Patrus, Tarso e Dilma

Os ministros do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, das Relações Institucionais, Tarso Genro, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, também surgem como presidenciáveis nas avaliações petistas, mas hoje parecem ter menos chance de emplacar do que Marta, Wagner e Pimentel.

Patrus é também um político de Minas, o segundo mais importante Estado da Federação. Toca uma área do governo que teve êxito reconhecido nas urnas em 2006, a social. Afina-se com Pimentel no pensamento moderado sobre economia e política. Pode ser uma surpresa.

Voz moderada do segundo mandato, apesar das diferenças com a política econômica de Palocci, Tarso Genro tem comprado brigas com o grupo paulista do PT, sobretudo com a corrente que domina o partido, o Campo Majoritário, força ainda muito identificada com as idéias do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Somente um rearranjo de forças no PT lhe viabilizaria a candidatura. Tarefa hercúlea.

Um trunfo de Tarso é a boa relação que tem mantido com o PMDB, partido que forma o núcleo da aliança que sustenta Lula no segundo mandato. Peemedebistas elogiam a sua condução nas articulações sobre a presidência da Câmara e na negociação a respeito do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

A um passo do Ministério da Justiça, Tarso precisará vencer a desconfiança de partidarização da Polícia Federal. Se vier mesmo a substituir o sagaz Márcio Thomaz Bastos, e se avançar no difícil terreno da segurança pública das grandes cidades, o PT poderia se render à sua candidatura. O ministro, porém, gosta sempre de afastar a possibilidade de ser candidato. Nas conversas reservadas, coloca-se fora do páreo. Mas é da política, todos os cotados agem assim.

Dilma Rousseff é lembrada como presidenciável por ser a ministra mais poderosa do segundo mandato. Apesar de tocar o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) num comitê gestor com os colegas da Fazenda e do Planejamento, ela se comporta como a dona do plano desenvolvimentista.

Petistas, porém, avaliam que Marta está anos-luz à frente de Dilma na preferência partidária. Ela teria de se revelar um talento em articulação política, o que não parece ser o caso dada a forma dura como trata colegas e subordinados. Tem ainda relação ruim com a imprensa.

Dilma possui uma biografia respeitável. Militante de organização clandestina que combateu a ditadura militar de 1964, foi prisioneira. Apesar desse currículo, é uma "novata" no PT. Mineira, ela fez carreira no PDT de Leonel Brizola (seção gaúcha desse partido) antes de ingressar nas fileiras petistas.

Mais: a avaliação de que existe uma "Super Dilma" no governo é equivocada. Nem de longe ela tem o poder que Dirceu deteve na Casa Civil. É mais correto dizer que existe hoje no governo um "Super Lula". Dilma é a principal voz do presidente na relação com os outros ministros, mas isso é tema para outra coluna.




Vaccarezza, o articulador

Deputado federal de primeiro mandato, o médico Cândido Vaccarezza, 52, foi o mais importante estrategista da eleição de Chinaglia para o comando da Câmara. Começou na política estudantil, entrou no PT numa ala radical. Migrou para a moderada e antiga Articulação. Depois integrou o grupo que peitou a Articulação no início dos anos 90, o extinto HV, Hora da Verdade. Hoje faz parte do campo político da ex-prefeita Marta Suplicy. Foi dirigente em várias esferas da burocracia petista.

Amigo de Dirceu, trabalha arduamente como o ex-chefe da Casa Civil, mas é mais discreto. Na bancada federal do PT, ele é boa aposta na articulação política. Não admite, mas teve papel de destaque nas negociações para que o PMDB da Câmara e uma parcela do PSDB hipotecassem apoio à eleição de Chinaglia. "Não foi um trabalho de formiguinha nem de cooptação na base de favores, a eleição de Arlindo foi uma arquitetura de grandes lances políticos", diz. Arlindo é como Chinaglia é chamado no PT por todo mundo.

Segundo Vaccarezza, o PT na presidência da Câmara deverá ter nova relação com o PMDB e o PSDB. Considera que os peemedebistas deveriam ser os aliados preferenciais dos petistas nas eleições de 2008 e 2010. Defende uma convivência civilizada com o PSDB. Acha que pode ser menos dura e mais respeitosa, de parte a parte.




Correção

Em entrevista na versão impressa de hoje da Folha, foi transcrita incorretamente uma declaração de Vaccarezza. A frase correta é "Acho que o presidente deve ser generoso com os aliados e deve ser generoso com o PT, que está sub-representado". E não "Acho que o PT deve ser generoso...".




Ainda Serra e o PT

A pensata "O PT e José Serra" levou leitores a perguntar se seria possível uma aliança entre o governador de São Paulo e os petistas na eleição de 2010. Muito difícil, para não dizer impossível. O PT deverá apresentar seu candidato. Serra ainda precisará vencer o duelo tucano contra o habilidoso governador de Minas, Aécio Neves.

No entanto, uma disputa que deixasse mágoas entre o postulante petista e um candidato como Ciro Gomes (PSB) poderia permitir um entendimento no segundo turno entre PT e PSDB, avaliam dirigentes moderados dos dois partidos. Seria possível, apesar do ainda alto grau de combustão nas relações entre tucanos e petistas. Aécio Neves, por exemplo, insiste em manter pontes com Lula e o PT pensando no futuro.

Não custa lembrar que, no auge do escândalo do mensalão, quando ministros e auxiliares de Lula achavam que tudo estava perdido e que um tucano seria eleito presidente em 2006, havia discreta torcida para que Serra e não Geraldo Alckmin fosse escolhido candidato a presidente dos tucanos.

PT e PSDB têm travado uma guerra fratricida nos últimos anos. Mas integrantes dos dois partidos vêem afinidade ideológica entre Serra e parcela do PT. A política não está dividida entre vilões e mocinhos. Ainda bem.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca