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Brasília Online

17/06/2007

Lula sente o golpe no caso Vavá

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cometeu erros na última semana ao comentar o envolvimento do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, na Operação Xeque-Mate. Transmitiu a imagem de político bastante incomodado quando atingido por uma investigação da PF (Polícia Federal).

A primeira reação pública de Lula foi correta, elogiável até. Em viagem à Índia, disse na manhã de 5 de junho que tinha carinho "extraordinário" pelo irmão, que não acreditava no envolvimento dele com a máfia dos caça-níqueis, mas que, se a PF tinha indício de algum crime, "paciência". Vavá deveria ser investigado como qualquer um dos outros 190 milhões de brasileiros. Lula cumpriu bem o papel de irmão e de presidente.

Viajou para a Alemanha e se negou a tratar do assunto enquanto não voltasse ao Brasil. Nesse período, grampos que se tornaram públicos revelaram que Vavá tinha, sim, tentado traficar influência no governo do irmão. Se teve sucesso, é outra história. A simples tentativa, diz a PF, é crime. E, portanto, algo grave em se tratando de quem se tratava.

Na última segunda-feira, dia 11, Lula reuniu seus principais ministros e discutiu medidas para evitar o que se chamou no encontro de "abusos" da PF. Até aí, tudo bem. É correta a exigência de que a polícia não atropele direitos e garantias individuais em suas apurações. Se atropelar, deve responder por isso.

Lula, porém, começou a se queixar pública e reservadamente da PF e da imprensa. Na quarta, disse que não via nada "de bonito" na imprensa brasileira. Na quinta, saiu-se com essa: "Quem viaja muito o mundo às vezes volta decepcionado com a imagem que se cria do Brasil lá fora. Aliás, eu acho que o Brasil é o único país em que os brasileiros viajam para fora e falam mal do Brasil. Você não vê um suíço falar mal da Suíça, você não vê um italiano falar mal da Itália, mas os brasileiros adoram falar [mal]". Bobagem pura.

Na terça-feira à noite, dia 12, voltou a comentar o envolvimento do irmão. Defendeu-o novamente, insistindo na tese de que não tinha capacidade para lobista --um lambari em meio a pintados. Nessa entrevista, queixou-se dos vazamentos, atribuindo-os única e exclusivamente à PF.

O tom emocional dos últimos dias, bem diferente do adotado em Nova Déli, é evidência de que Lula sentiu o golpe. O presidente teme que Vavá possa lhe trazer ainda muita dor de cabeça. Há ainda muita coisa mal contada nessa história.

*

Renan preocupa

Há discreta preocupação no Palácio do Planalto em relação à situação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Interessa a Lula um Renan algo enfraquecido. Mas não interessa ao presidente a queda do peemedebista.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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