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Brasília Online

01/07/2007

Lula rejeita meta de inflação de 4,25% em 2009

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Os bastidores do debate no governo sobre a meta de inflação de 2009 são reveladores da política econômica do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há nuance em relação ao rigor fiscal e monetário do primeiro governo.

Esse rigor foi suavizado em busca de um PIB (Produto Interno Bruto) superior ao primeiro mandato, cuja média anual foi de 3,4% após mudança metodológica do IBGE. A meta do governo em 2007 é de 4,5%. Para os outros três anos de poder de Lula, 5%.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, passou meses defendendo a diminuição da meta de inflação nos dois últimos anos do governo Lula. Queria que a atual meta de 4,5% ao ano fosse reduzida para 4% em 2009 e repetida em 2010.

Argumentava que, no sistema de metas de inflação, era importante dar passos no sentido de ir buscando a menor taxa possível. Esteve perto de convencer Lula. Mas o ministro Guido Mantega (Fazenda) colocou água no chope de Meirelles, como antecipou a Brasília Online.

Mantega aconselhou Lula a ouvir alguns economistas, como Luiz Gonzaga Beluzzo e Delfim Netto. Eles reforçaram o argumento do ministro da Fazenda, que acabou por convencer Lula: reduzir a meta significaria diminuir o espaço do Banco Central para baixar os juros, o que poderia ter impacto negativo no crescimento da economia.

A prioridade de Lula é elevar a taxa de crescimento da economia, não o controle da inflação, algo que ele considera realizado.

Mantega disse ao presidente que o BC mira abaixo da meta de inflação oficial. Exemplo: a meta de 2007 é 4,5%, mas projeção do próprio BC indica que a taxa deverá terminar o ano em 3,5%.

Ou seja, esse 1 ponto percentual abaixo do centro da meta, seria prova de excesso de conservadorismo monetário do BC. Reduzir a meta de inflação a partir de 2009 só estimularia esse suposto conservadorismo, disse o ministro da Fazenda ao presidente.

Meirelles insistiu em dizer que a inflação já está num patamar abaixo de 4% e que, portanto, não haveria sacrifício adicional. Mantega bateu o pé: e se houver turbulência no cenário internacional, que, hoje, é róseo?

Conhecendo o BC que tem, Lula preferiu não arriscar. E bancou os 4,5%. Na última hora, sob o argumento de que haveria dano à imagem da política econômica, Meirelles chegou a sugerir uma meta de 4,25%, mas Lula não lhe deu ouvidos.

No primeiro mandato, quando Lula se queixava dos juros altos, Meirelles dizia que a culpa era da meta de inflação. O BC só perseguia o que o CMN determinava. Agora, com projeção de inflação para 2007 em 3,5%, Lula diz ter certeza de que Meirelles e companhia exageram na dose no primeiro mandato. Simplesmente, não quis correr esse risco de novo.

Para tentar mascarar a derrota, Meirelles conseguiu que, após a reunião do CMN (Conselho Monetário Nacional) da semana passada, fosse divulgado que o BC trabalharia com uma meta informal de 4%. Ou seja, quis vender um empate que não aconteceu. O BC já trabalha com essa meta. Mais: existe um intervalo de dois pontos percentuais para mais ou para menos justamente a fim de dar ao BC flexibilidade para responder a circunstâncias mais ou menos adversas.

A emenda saiu pior do que o soneto. O mercado ficou confuso. O Palácio do Planalto cobrou explicações. E a imprensa foi apontada como culpada.

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Muito além

Na quinta-feira (28/06), quando disse que era preciso cuidado para não "execrar" as pessoas, Lula não tinha em mente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nem o seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá. Pensava em Silas Rondeau, ex-ministro das Minas e Energia.

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Prioridades do presidente

Nada de Renan e de meta de inflação. O que interessa mesmo a Lula é fazer deslanchar os investimentos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nos Estados. Já cuidou diretamente de São Paulo e Minas. O Rio será a próxima parada.

Na quinta-feira, fez reunião longa sobre projetos para a juventude. Na sexta, cuidou de investimentos em energia. E cobra da equipe soluções na área de segurança.

O presidente já disse que não quer saber de "projetos novos". Deseja colocar suas ações de governo em ordem em 2007 e cobrar resultados nos últimos três anos de mandato. Acha que, assim, terá um segundo mandato bem melhor do que o primeiro. E entrará na galeria de grandes presidentes.

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O mundo gira, a lusitana roda

Nos raros comentários algo explícitos sobre 2010, Lula continua dando a entender que o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) e a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) são suas principais apostas para encabeçar uma chapa das forças governistas na disputa pelo Palácio do Planalto.

Lula gosta de Ciro e confia nele. Ponto.

Acha que, se o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) deslanchar, Dilma se credencia para o jogo alto da política.

O governador de Minas, o tucano Aécio Neves, continua a ser um espécie de "plano B", sujeito a muitas precondições. A primeira delas seria deixar o PSDB pelo PMDB.

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Conselheiro

Lula tem conversado com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho. Recebe textos dele, com sugestões sobre economia. Os dois tomam um café de vez em quando.

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Desce do muro

A eleição de Leomar Quintanilha (PMDB-TO) para presidir o Conselho de Ética se revelou outro tiro no pé dado por Renan Calheiros e seus aliados no Senado. Contribuiu para desentocar o PSDB, que estava fazendo de conta que queria investigação.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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