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Brasília Online

18/11/2007

Conversor da TV digital cria chance de negociata

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

A entrada do Brasil na era da TV digital tem chance de virar uma grande negociata. Com demanda mais do que garantida, empresários que fabricarão o conversor de sinal para os atuais aparelhos de TV desejam cobrar R$ 750 por produto. É dinheiro suficiente para comprar uma TV nova de 29 polegadas.

Quanto custarão os novos televisores que receberão sinal digital se o conversor sair na faixa dos R$ 750? Curiosamente, essas novas TVs serão mais caras, mas a indústria não estima uma elevação de custo que mude significativamente os preços atuais. Estamos diante de um absurdo, mas um absurdo que foi relatado por empresários ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em encontro na última quarta-feira, no Palácio do Planalto.

"Não se pode achacar o povo", espantou-se Lula, segundo relato de quem estava na reunião que contou com empresários do ramo de TV e integrantes da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão). O governo estimava um custo por conversor de cerca de R$ 250, já alto. Em outros países, esse tipo de equipamento vale mais ou menos US$ 100, o que, na cotação de hoje, equivaleria a algo entre R$ 170 e R$ 180.

Lula disse aos empresários que adotaria medidas para impedir achaque aos consumidores. A transmissão digital no Brasil na TV aberta terá início em 2 de dezembro. TVs já em uso precisarão do conversor do sinal digital para o analógico se o consumidor quiser receber a nova transmissão, que terá melhor qualidade de imagem. Haverá um período de transição, de 10 anos, no qual conviverão transmissões digital e analógica. Mas, obviamente, a maioria das pessoas desejará o conversor.

O presidente está preocupado com o impacto político negativo de um conversor que custe os olhos da cara. A escolha do padrão japonês de TV digital foi vendida como uma evolução tecnológica que beneficiaria o consumidor. Mas conversor acima de R$ 250 parece abuso por causa da demanda garantida.

Na conversa com Lula, empresários alegaram que, no início da produção, não teriam escala para lucrar. Assim, o custo do conversor necessariamente seria maior. Falaram em queda no futuro. Lula e auxiliares argumentaram que os empresários ganhariam bastante no médio e longo prazo porque a TV é, de longe, o meio de comunicação de massa mais importante do país. Praticamente todo o território nacional recebe sinal de TV.

O setor industrial que lucrará com a escolha do padrão japonês já recebeu incentivos do governo, como redução de impostos e linhas de financiamento. Uma ação do Estado que impeça abuso dos fabricantes deve estar no topo da agenda do governo, caso não queira transformar num fiasco a entrada do país na era da TV digital.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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