Brasília Online
Toshiba abandona projeto de semicondutor no Brasil
KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online
Apesar da nova onda de investimentos japoneses no Brasil por ocasião do centenário da imigração oriental, a Toshiba desistiu de instalar no país uma fábrica de semicondutores. Essa fábrica seria uma contrapartida ao padrão de TV digital japonês, escolhido pelo governo Lula em 2006.
A Toshiba chegou a estudar seriamente o projeto, mas o abandonou por falta de mão-de-obra qualificada e de uma cadeia de fornecedores que pudesse sustentar uma fábrica de alta tecnologia. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda tinha esperança de instalação desse tipo de indústria.
Mas há notícias boas acompanhando o ano do centenário da imigração japonesa, como a nova onda de investimentos do país do sol nascente. Depois de amargar perdas nos anos 80, sobretudo na época da hiperinflação, empresas japonesas voltaram a incrementar projetos econômicos.
Motivo: previsibilidade econômica e baixa inflação, legados do Plano Real (1994). A responsabilidade com que os governos FHC e Lula trataram a economia dá, portanto, resultados que deverão vitaminar um ciclo longo de desenvolvimento sustentado.
Nos últimos 50 anos, o Japão investiu quase US$ 20 bilhões no Brasil, de acordo com dados da agência de comércio exterior nipônica. Em 2007, foram pouco mais de US$ 500 milhões. Avalia-se que haverá um salto nesse ano, mas as estimativas variam muito. Há previsões de que até 2015 os japoneses terão investido US$ 50 bilhões no Brasil.
Empresários japoneses priorizam a área de energia (principalmente etanol) e a indústria automobilística. Cresceu o número de executivos de grandes empresas que visitam o Brasil em busca de negócios. Eles, porém, ainda se queixam do excesso de burocracia e de insegurança jurídica, apesar de o país ter avançado nos últimos anos na definição de regras para setores da economia. Também pedem um sistema tributário mais eficiente _assunto debatido no Congresso Nacional faz mais de dez anos e que volta aos holofotes com a recente proposta encaminhada pelo governo Lula.
Dos países do Brics, o Brasil é tido pelos japoneses como o mais confiável no longo prazo. Os investidores avaliam que o país tem mais vantagens comparativas do que Rússia, Índia, China e África do Sul. Bric foi um termo cunhado pela Goldman Sachs, banco de investimento dos EUA, para designar países em desenvolvimento que poderiam ser tornar a maior força econômica mundial até 2050. A África do Sul foi adicionada posteriormente.
A recente crise Colômbia versus Equador e Venezuela causa certa apreensão. A América do Sul é uma das regiões mais pacíficas do mundo. Conflitos de natureza militar tendem a assustar investidores.
Este é um relato de como a segunda economia do mundo enxerga hoje o Brasil.
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Simbolismo
O representante da família imperial japonesa que visitará o Brasil será o príncipe Naruhito. Data: 18 de junho. Cem anos antes, o navio Kasato Maru chegava a Santos com a primeira leva de imigrantes após viagem de 52 dias.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite. E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br |