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Brasília Online

30/03/2008

Turbulência política dá novo fôlego a BC

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os diretores da instituição têm um aliado que aparece de vez em quando para salvá-los de "conspirações" que nascem no próprio governo para interferir na política monetária. Esse salvador é a explosão de alguma crise ou turbulência política na administração Luiz Inácio Lula da Silva.

Nos últimos dois meses, ganhou força o grupo que tenta persuadir Lula de que o BC não pode elevar os juros em 2008. Essa ala argumenta que a taxa básica, a Selic, já está suficientemente alta (11,25% ao ano) e que elevá-la traria mais danos do que benefícios.

Segundo essa visão, o dólar se enfraqueceria ainda mais em relação ao real. Isso prejudicaria mais os setores exportadores. Elevaria um provável déficit comercial. E geraria uma fragilidade econômica que afetaria o crescimento da economia e a capacidade de o país enfrentar crises externas.

Lula simpatiza com a tese, mas morre de medo de que alguma interferência explícita na autonomia que concedeu ao BC produza danos mais rapidamente ainda. E com esse temor vai "enrolando" os desenvolvimentistas.

Nos bastidores, o presidente faz uma ou outra pressão sobre Meirelles, veta restrição à expansão do crédito e vai tocando a vida.

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é da ala "desenvolvimentista" e sempre aproveita para criticar o BC em reuniões reservadas.

Com a descoberta de que um dossiê contra o governo FHC, que ela chama de "banco de dados", foi elaborado dentro da Casa Civil, o governo foi levado para uma turbulência política. O caso ressuscitou uma CPI que estava morta, a dos Cartões Corporativos. E Dilma retrocedeu algumas casas no caminho para uma eventual candidatura presidencial.

Nas próximas semanas, Lula e Dilma não terão tempo para gastar energia com o BC. O banco já sinalizou que poderá aumentar os juros. Na semana que passou, a instituição elevou de 4,5% para 4,8% a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2008.

Mas também aumentou a previsão anual para a inflação, de 4,3% para 4,7%. O histórico do BC no governo Lula é suficiente rico em exemplos de que, com uma previsão de inflação assim, a tendência é a subida dos juros.

No governo, há quem acredite que o BC só está dando um recado para assustar o mercado, trabalhar as tais expectativas e manter a Selic onde ela está. Não parece ser a aposta mais realista.

*

2010, o jogo não está jogado

O Dilmagate trouxe um pouco mais de realismo a previsões políticas muito antecipadas. É fato que Lula está mesmo tentando viabilizar a candidatura presidencial da ministra da Casa Civil. Acha que Dilma seria a melhor candidata para perder ou para ganhar, de seu ponto de vista.

O projeto presidencial da ministra não está morto, mas sofreu uma grande avaria na última semana. A idéia de produzir um "banco de dados", vá lá, sobre gastos secretos do governo passado é de uma miopia política extraordinária para alguém que pretende chegar à Presidência.

O governo Lula e sua cúpula têm dificuldade de entender que o governo passado já passou. Não entendem também que a oposição está na oposição. Não compreendem que quem está no poder tem muito mais a perder com brigas políticas do quem não tem os cargos de mando no país.

De forma arrogante, Lula já subiu no palanque e disse que vai ganhar da oposição em 2010, elegendo um sucessor. Pode ser que consiga, pois seu governo apresenta bons números nas áreas econômica e social e a sua popularidade está nas nuvens. Mas o tropeço do Dilmagate alimenta certo ceticismo quanto ao sucesso desse plano.

*

Ambiente de corte

No ambiente de Brasília, Dilma é muito poderosa, e isso de alguma forma dá uma dimensão maior a ela do que realmente a ministra tem para ser candidata ao Palácio do Planalto.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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