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Brasília Online

31/05/2008

Assustado com inflação e juros em alta, Lula aperta "cinto fiscal"

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de elevar o superávit primário em mais 0,5 ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) é resultado da seguinte conclusão: há mesmo uma ameaça inflacionária e, sem ajuda da política fiscal, restaria ao Banco Central pegar pesado na política monetária. Ou seja, elevar os juros até a Lua.

É nesse contexto que deve ser entendida a decisão presidencial de apertar o "cinto fiscal". Havia sugestão para um aperto maior. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo sugeriu ao presidente uma meta de superávit primário de até 5% do PIB. A meta atual é de 3,8%. Lula já topou passá-la para 4,3%. E provavelmente vai terminar 2008 na casa dos 4,5%. Grosso modo, o superávit é toda a economia do setor público para pagar os juros de sua dívida.

A marca de fantasia "Fundo Soberano" vai servir para divertir o esquerdismo do ministro da Fazenda, Guido Mantega. O que interessa é que Lula vai frear a tendência de elevação dos gastos públicos. Isso é bem importante.

Na virada do primeiro para o segundo mandato, Lula resolveu abrir a porteira. Agora, vai dar uma trancada.

Até pouco tempo atrás, Lula dizia que não faria um superávit maior. Argumentava que gastaria mais dinheiro para seus projetos desenvolvimentistas e que jamais faria economia adicional para beneficiar o sucessor. Nada como uma ameaça para mudar os planos presidenciais.

Apareceu uma inflação maior do que a esperada. O Banco Central seguiu seu roteiro tradicional: subir os juros. Lula temeu esfriar demais a economia nos seus dois últimos anos de mandato e também ficou com medo de legar ao sucessor uma "herança maldita".

Vai aqui um elogio para o presidente: nas vezes em que foi chamado a tomar decisões para evitar catástrofes econômicas, ele não hesitou. No começo do primeiro mandato, jogou fora, por exemplo, aquelas receitas econômicas inaplicáveis do PT de então. Lula tem sido um bom presidente, apesar de erros graves na política e de uma soberba que o faz, por exemplo, ter a imprensa brasileira em pior conta do que ela realmente é.

Ao elevar o superávit primário, Lula espera que o Banco Central não seja tão rigoroso no atual processo de elevação dos juros. Na semana que começa, haverá nova reunião do BC sobre juros. A tendência é elevar a taxa em 0,5 ponto percentual novamente. Os juros básicos (Selic) estão hoje em 11,75% ao ano.

O presidente acredita que, ao economizar mais para pagar juros, conseguirá atenuar esse processo. Lula deverá ter sucesso nessa estratégia. Pelo menos, foi isso o que sinalizou Henrique Meirelles, o presidente do Banco Central, em conversas reservadas com o presidente da República e seus conselheiros econômicos.

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Estilos

Em Brasília, a pessoa faz o cargo. Pedro Malan e Antonio Palocci Filho foram ministros da Fazenda de primeira grandeza. Já Mantega manda menos do que Belluzzo.

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Na forca

O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) pode apelar o quanto quiser para o absurdo discurso de que é vítima das elites em sua luta em defesa dos trabalhadores. Paulinho defender trabalhador é piada. Se ele não renunciar ao mandato, tende a ser cassado. Ninguém mais na Câmara duvida de que ele participou da quadrilha que fraudou empréstimos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômica e Social).

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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