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Brasília Online

20/07/2008

Meirelles quase perdeu a presidência do BC

KENNEDY ALENCAR
colunista da Folha Online

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, quase deixou o cargo na virada de abril para maio. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu trocá-lo quando Meirelles o procurou para dizer que pensava em deixar o banco em 2009 a fim de disputar o governo de Goiás no ano seguinte. O presidente disse que seria melhor antecipar a mudança. O presidente do BC ficou surpreso, mas não teve como voltar atrás. E começou a dizer a pessoas próximas que deixaria o cargo.

Mais uma vez, a sorte, ou o melhor, o azar do governo Lula salvou Meirelles. No primeiro mandato, apareceu uma crise todas as vezes em que Lula e os opositores da política monetária se julgavam fortes para atacar o BC.

Dessa vez, Meirelles foi salvo por um fator econômico: a disparada da inflação levou Lula a desistir da mudança. O presidente avaliou que a mudança poderia contaminar as expectativas de inflação para 2008 e que poderia indicar algum relaxamento na intenção de combater a alta dos preços até o final de seu mandato, em 2010.

Havia duas opções na cabeça de Lula: indicar o diretor de Normas do Banco Central, Alexandre Tombini, que tem se dado melhor com a Fazenda nas discussões econômicas, ou tentar convencer o relutante economista Luiz Gonzaga Belluzzo a assumir o posto.

Na hipótese Belluzzo, havia chance de o superávit primário ser elevado para, pelo menos, 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Seria uma forma de evitar reação negativa do mercado a um economista visto como desenvolvimentista e descrito por ele próprio como "keynesiano". Belluzzo tem defendido um aperto fiscal até maior nas reuniões internas do governo, das quais participa na condição de conselheiro. Lula já o convidou a assumir postos na área econômica, mas ele recusou.

Na alternativa Tombini, o governo avalia que o mercado o receberia bem. A quase saída de Meirelles foi muito influenciada pela péssima relação dele com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os dois sempre se estranharam, mas na virada de abril para maio, quando o Brasil recebeu o grau de investimento, os dois viveram seu pior momento.

Para Meirelles, Mantega quis faturar politicamente o grau de investimento (grosso modo, um selo internacional de que o Brasil é um cumpridor de seus compromissos externos). O presidente do BC ficou chateado. Chegou a dizer a Lula que Mantega lhe dava chá de cadeira de horas e que demorava dias a dar retorno a um telefonema. Meirelles falou que se sentia desrespeitado pelo colega da Fazenda.

Mantega bombardeava Meirelles. Principal argumento: o BC teria errado ao não reduzir os juros mais rapidamente quando podia e tinha de voltar a subir a taxa Selic no primeiro semestre devido à alta da inflação.

Lula preferiu manter Meirelles no posto, deixando claro que deseja que o Banco Central atue para que a inflação volte ao centro da meta oficial do governo, que é de 4,5% ao ano pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Reservadamente, o Planalto já admite que a inflação deverá superar o teto da meta oficial, que é de 6,5% ao ano. No sistema de meta de inflação do Brasil, há um intervalo de dois pontos percentuais para cima ou para baixo em relação ao centro de 4,5% a fim de acomodar choques.

Na última semana, um auxiliar de Lula disse que Meirelles fica e mais forte.

*

Herança maldita?

Lula está preocupado com a possibilidade de eventual descontrole inflacionário contaminar a sua sucessão em 2010. Teme especialmente uma espécie de troco do PSDB: discurso de que o governo petista poderá deixar uma "herança maldita" na economia, o que poderia afetar a chance do candidato ou candidatos do campo lulista à Presidência.

Em conversas reservadas no mês de maio, Lula chegou a dizer que já podia ver o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizendo nas eleições de 2010 que o PT desorganizara a economia, legando inflação em alta, crescimento econômico em queda e risco de crise cambial devido a um real valorizado na comparação com o dólar.

*

Opinião de conveniência

Dá uma tristeza ver o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), criticar deputados, procuradores e juízes que vazam documentos. Ele disse que eles parecem "peneira". Chinaglia mira mesmo é na relação desses agentes públicos com a imprensa.

Mas ele pensava diferente quando integrava a Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara no primeiro mandato do tucano Fernando Henrique Cardoso. Adorava um holofote e um vazamento para para tratar do Caso Sivam (imbróglio sobre compras de radares para a Amazônia).

O antigo deputado Arlindo era bem melhor do que o atual presidente Chinaglia.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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