Colunas

Brasília Online

17/08/2008

Governo prevê dólar a R$ 1,70 no final do ano

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

O governo federal trabalha com o cenário de que o dólar termine o ano cotado em torno de R$ 1,70. Na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, a moeda americana estaria se recuperado depois de encontrar o que seria o seu piso em relação ao real: o patamar de R$ 1,60.

Mantega disse ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que julga positivo o cenário de leve alta do dólar na comparação com o real, porque sacrificará menos setores exportadores, aqueles que mais se queixam de que o câmbio estaria muito valorizado. O ministro acredita que isso ajuda a evitar um desastre nas contas externas no médio prazo.

O que pode interferir negativamente nesse cenário algo róseo traçado por Mantega?

Uma elevação excessiva dos juros no país, avalia o próprio ministro em conversas reservadas.
Mantega está preocupado com a próxima decisão do BC (Banco Central) sobre a taxa básica, a Selic. Se os juros subirem 0,75 ponto percentual, como na última reunião, haverá tensão com Lula. A próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o órgão do BC que fixa os juros básicos a cada 45 dias, está marcada para 9 e de 10 de setembro.

Lula deseja que o BC suavize o processo de alta dos juros. A Selic hoje está em 13% ao ano. O presidente teme que os juros altos esfriem muito a economia, reduzindo significativamente as taxas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2009 e 2010, seus dois últimos anos de mandato.

Mantega se preocupa com o câmbio. Acha que, se o BC continuar elevando os juros, poderá contribuir decisivamente para voltar a desvalorizar o dólar na comparação com o real. Isso, pensa o ministro da Fazenda, poderia gerar uma crise no médio prazo.

Para Mantega, há um processo de valorização do dólar em todo o mundo, com repercussões no Brasil. Apenas uma Selic ainda mais alta, considera o ministro, poderia colocar o Brasil na contramão. Na sexta, a moeda americana terminou o dia cotada a R$ 1,639 para venda. Em agosto, o dólar já acumulou alta de 4,86%, o que é significativo para o período.

O BC tem afirmado que atua com o objetivo de trazer a inflação para o centro da meta em 2009, já que as previsões para a taxa neste ano estão próximas do teto da meta. O sistema de metas de inflação prevê um centro de 4,5% ao ano pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). Mas há um intervalo de dois pontos percentuais para cima ou para baixo a fim de acomodar choques.

*

Chega pra lá

No estilo doce que lhe é peculiar, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) convidou o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, a encerrar uma conversa. O executivo teria cruzado a linha entre a boa educação e a arrogância ao defender os interesses da empresa na disputa pelas usinas do rio Madeira. A empreiteira quer, digamos assim, uma ajuda a mais do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

*

Papelão

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, convenceu o presidente de que não seria possível punir tecnicamente os generais do Alto Comando do Exército que foram ao evento do Clube Militar do Rio para criticar os ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vanucchi (Direitos Humanos).

Eles não usaram fardas nem deram entrevistas. Segundo Jobim, isso significa que não poderiam ser punidos. Na platéia, estava presente o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, um notório torturador da ditadura militar de 1964. E o evento tinha o objetivo de não permitir eventual revisão da Lei da Anistia.

Não é a primeira vez que Jobim mia quando os militares rugem. Não será a última.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca