Colunas

Brasília Online

26/04/2009

Doença de Dilma abala cenário da sucessão de 2010

KENNEDY ALENCAR
colunista da Folha Online

A revelação de que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) faz um tratamento contra câncer linfático muda significativamente o debate e as articulações políticas para a sucessão presidencial de 2010. Aumentou o grau de imponderabilidade, mas é possível vislumbrar alguns cenários.

O mundo político, de PT a PSDB, de DEM a PMDB, só falou disso no final de semana. É delicado tratar de assuntos de saúde no noticiário político, mas se torna necessário quando há interesse público.

A principal luta de Dilma agora é pela vida. É auspicioso que ela tenha descoberto o linfoma no estágio mais inicial, o que aumenta bastante a chance de cura. Tomara que a ministra se recupere. A medicina avançou muito e poderá curá-la.

É humano torcer por quem enfrenta grandes desafios. Nesse sentido, tende a crescer a simpatia pela eventual candidatura de Dilma pelo PT. Ela já enfrentou outros momentos complicados em sua vida, prisão e tortura durante a ditadura militar, por exemplo. É uma lutadora, o que não deve ser desprezado. Uma Dilma curada e "santificada", digamos assim, poderia virar a favorita na sucessão.

Outro cenário é de maior dificuldade. O Brasil já viveu o trauma de Tancredo Neves, que morreu antes de assumir a Presidência da República. A saúde de um potencial presidente é assunto de interesse público. Por isso, fez bem a ministra ao dar publicidade total aos detalhes da doença assim que a Folha revelou que ela se submetia a um tratamento médico.

A notícia tem um lado político ruim. Enquanto não houver certeza de recuperação médica, ficará mais complicado costurar apoios políticos e empresariais à eventual campanha de Dilma. Mais: o estresse de uma disputa presidencial pode ser prejudicial à saúde --isso sem contar os tensos afazeres da ministra mais importante do governo. Ela poderia sair do páreo presidencial por razões pessoais.

Por ora, o PT e o governo estão corretos ao sustentar que pouca coisa muda. É cedo mesmo. É preciso dar tempo ao tempo, mas não tanto tempo assim. A sucessão está longe, mas uma eventual troca de candidato, se vier a acontecer, deverá ser realizada até o início do ano que vem.

O nome reserva mais óbvio é o do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho. Mas ele tem, do ponto de vista político, desafios tão grandes quanto Dilma. Ainda que não seja responsabilizado pela quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa pelo STF (Supremo Tribunal Federal), haverá satisfações políticas a dar. Um candidato a presidente contestado por um homem do povo poderá naufragar na campanha.

Há muitos outros nomes no PT, mas todos são frágeis aos olhos de hoje. Entre os governadores petistas, há Jaques Wagner (Bahia) e Marcelo Déda (Sergipe). O primeiro é de um Estado grande, mas parece fadado a tentar uma reeleição. Apesar de governar um Estado pequeno, Déda é um quadro respeitado no PT e político com trânsito amplo na oposição. Ambos dependeriam da âncora política de Lula para entrar no jogo com alguma possibilidade de êxito, como dependeriam também outros muitos petistas que não vem ao caso registrar aqui.

A eventual saída de Dilma do páreo traria problemas. Alguns exemplos. O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), fez o compromisso de apoiar Dilma. Dar suporte a outro petista são outros quinhentos. A cúpula peemedebista havia abandonado o sonho de lançar Aécio Neves, governador de Minas, pelo partido, levando-o a sair do PSDB. Esse sonho poderá voltar com força.

O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) tem contra si o temperamento indomável, mas está bem posicionado nas pesquisas. Poderá voltar a ganhar força como eventual opção de Lula. A tese de um terceiro mandato para o petista, voltará a ser lembrada. No entanto, não deve ser levada a sério por dois motivos: a sociedade não aceita e Lula não quer porque tem consciência disso.

Há, portanto, incertezas grandes. Mas uma certeza merece registro: é bom que o Brasil tenha como opções presidenciais Dilma, Aécio, Ciro e o governador de São Paulo, José Serra. Todos eles pessoas públicas respeitáveis. Por último, votos de plena recuperação para a ministra, que mostrou no último ano, após aquele episódio do dossiê anti-FHC elaborado na Casa Civil, que tem credenciais políticas e pessoais para presidir o Brasil. Mulher com uma biografia cinematográfica, Dilma é uma boa pessoa e uma grande revelação da política brasileira. Boa sorte, ministra!

*

Correção

Foi escrito na primeira versão desta coluna que Marcelo Déda estava no segundo mandato à frente do governo de Sergipe. O petista cumpre o primeiro mandato.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca