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Brasília Online

28/06/2009

Lula e DEM tentam salvar Sarney

KENNEDY ALENCAR
colunista da Folha Online

Sobrevivência política. Essa é razão que une o DEM e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na operação desencadeada nos últimos dias para tentar segurar José Sarney (PMDB-AP) na cadeira de presidente do Senado Federal.

Lula orientou o PT e aliados políticos no Senado a apoiar Sarney. Ruim com ele, pior sem ele. O presidente teme que o enfraquecimento do PMDB no Senado, Casa do Congresso na qual tem maioria instável desde o primeiro mandato, leve a uma crise política na reta final do seu governo.

Exemplo: a CPI da Petrobras ainda deverá ser instalada. Se o PMDB do Senado for estraçalhado pela crise, há boa chance de o governo pagar o pato numa investigação congressual que nasceu por iniciativa do PSDB.

Mais: Lula sabe que o socorro a Sarney tende a ser retribuído em apoio à eventual candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, ao Palácio do Planalto. O tempo de TV do PMDB e sua forte presença nacional seriam úteis na disputa presidencial do ano que vem.

Sem alternativa diante de fatos constrangedores, Sarney se agarrou ao "padrinho" Lula, que possui alta popularidade mesmo em tempo de crise. O peemedebista argumentou que a mídia faz campanha contra ele para atingir o petista. Difícil acreditar nisso por uma razão muito simples: a caixa-preta de ilegalidades, irregularidades e imoralidades do Senado está aí para todo mundo ver. A imprensa apenas retrata os podres.

E o que o DEM tem a ver com isso? Tudo.

Desde a redemocratização do Brasil, em 1985, peemedebistas e democratas (antigos pefelistas) se revezam no comando dos principais cargos do Senado. Nos últimos 15 anos, uma aliança entre o PMDB e o ex-PFL bancou a gestão de Agaciel Maia na direção-geral do Senado. Gestão que é um caso de polícia.

Senadores fisiológicos, como Efraim Morais (DEM-PB), estiveram no comando da 1ª secretaria, órgão responsável pela administração do orçamento de cerca de R$ 2,8 bilhões de reais por ano do Senado.

Sarney foi eleito com apoio do DEM. Mesmo que uma parcela dos democratas se sinta incomodada com os respingos dos petardos em Sarney, o partido está amarrado ao peemedebista.

Lembrança histórica: Sarney foi o presidente da Arena, o partido da ditadura militar de 1964. Depois, ingressou na Frente Liberal, que apoiou a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. A Frente Liberal virou o Partido da Frente Liberal, o PFL, que hoje tem o interessante nome de Democratas.

Por ironia do destino e em nome de projetos futuros, Lula, Sarney, PMDB e DEM foram parar no mesmo balaio na atual crise.

E ainda tem gente que acha que falar em reforma política, com nova regra de financiamento de campanha, não faz sentido. Mas isso é assunto para outra coluna. Por hoje é só, pessoal.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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