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Brasília Online

16/08/2009

Pesquisa traz preocupações a Serra e Dilma

KENNEDY ALENCAR
colunista da Folha Online

A mais recente pesquisa Datafolha sobre a sucessão presidencial mostra um quadro de estabilidade que deverá preocupar os dois principais pré-candidatos ao Palácio do Planalto: o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

Aos olhos de hoje, a pesquisa reforça a ideia de que o mais provável será um duelo entre Serra e Dilma no segundo turno de outubro do ano que vem. Por ora, apostar nesse cenário parece ser o mais sensato.

Mas faltam quase 14 meses para a disputa em primeiro turno. É tempo suficiente para surpresas. E há fatos novos em campo.

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Efeito Marina no PSDB

Primeiro, vamos ao resultado do levantamento. Serra continua a liderar com 37%. Teve oscilação negativa de um ponto percentual em relação à última pesquisa, realizada no final de maio. Em março de 2008, ele obteve 38%. Foi a 41% no final de novembro do ano passado. Manteve esse índice até meados de março deste ano. Caiu para 38% no final de maio. E agora marcou os 37% acima citados.

Não dá para falar em tendência de queda de Serra. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Mas dá para especular, levando em conta a curva de 41% de novembro de 2008 aos 37% deste mês de agosto. O tucano permanece estável na liderança, mas a oscilação negativa pode ter algo a ver com a entrada da senadora Marina Silva (AC) no jogo presidencial. Ela vai deixar o PT para disputar a Presidência pelo PV.

Os tucanos comemoraram a eventual candidatura de Marina. Avaliam que ela prejudicará mais Dilma do que Serra. Pode ser uma avaliação precipitada. Vamos aguardar as próximas pesquisas.

Opinião: o discurso de Marina tem potencial para atrair parte do eleitorado mais rico e mais escolarizado que, insatisfeito com o PT no poder, estacionou sua preferência no tucanato.

Oscilações negativas de um ou dois pontos, dentro da margem de erro, se mantidas nas próximas pesquisas, afetarão o cenário de favoritismo de Serra. Essas oscilações não devem ser descartadas.

Marina tirará votos do PT, mas também do PSDB.

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Parou por quê?

A pesquisa vai gerar preocupação entre os estrategistas de Dilma. Candidata de Lula, a ministra vinha crescendo de março de 2008 ao final de maio de 2009. Agora parou. Parou por quê? Eis a questão.

Vamos aos números da petista --em pesquisas, vale mais a curva, a tendência, do que o número absoluto de um levantamento. Dilma saiu de 3% no final de março de 2008 para 8% quando novembro terminou. Foi a 11% em março deste ano. E voltou a subir, conquistando 16%, no final de maio. De lá para cá, manteve a marca de 16 pontos percentuais.

É justo reconhecer que a candidatura de Dilma ganhou fôlego. Mas vale notar que, do final de março ao final de maio deste ano, ela deu um salto de 5 pontos. Do fim de maio ao começo de agosto, ficou parada, segundo a pesquisa.

Especulação: os efeitos negativos da crise econômica podem ter freado a sua ascensão, que tenderia a ser retomada com a recuperação da economia já em curso neste momento. Pode ser. Mas também pode ser que Dilma tenha se aproximado de um teto ao qual chegou embalada pelo suporte do presidente Lula, cuja popularidade é alta. Agora, ela teria de mostrar serviço por conta própria. Nessa hora, surgiu Marina.

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O fato novo

Os três pontos percentuais da senadora do Acre não podem ser considerados uma marca ruim. Ela estava totalmente fora do debate presidencial, o que significa não aparecer na mídia e nas conversas do meio político. No cenário com Marina, Serra obteve 36%. Dilma, 17%. Ciro 14%. E Heloisa Helena, 12%.

A 14 meses da eleição, Marina tem tempo para se tornar conhecida e crescer. Convenhamos: quem viu Dilma sair de 3% para 11% em um ano poderá ver Marina repetir o trajeto.

É fato que o PV é um partido sem estrutura nacional. Tem pouco tempo de TV e rádio no horário eleitoral gratuito. Enfrentará dificuldade para arrecadar recursos financeiros. E há muita gente com currículo esquisito na legenda.

Mas Marina é um fato novo, tem bom apelo para ser vendida, diria um marqueteiro. Ambientalista com os pés no chão e com uma história pessoal semelhante à de Lula, ela pode se apresentar como diferente dos políticos tradicionais porque isso é um fato.

Quem acompanha política sabe que Marina é diferente. Não fez tudo para ficar no poder. Não atua na base do é dando que se recebe. Enfim, há predicados que tendem a gerar simpatia numa faixa do eleitorado, sobretudo na mais escolarizada e mais rica. Será preciso, claro, combinar com os russos: o grosso do eleitorado, fatia menos escolarizada e de menor renda.

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De volta ao jogo principal?

Ciro Gomes (PSB) manteve os 15% da última pesquisa. Sua trajetória no Datafolha é a seguinte: 20% em março de 2008, 15% no final de novembro, 16% em março de 2009, 15% no final de maio deste ano e 15% agora.

Tem peso, mas não é o preferido de Lula, que ainda deseja mais que ele concorra ao governo paulista do que à Presidência. O presidente continua a apostar num confronto plebiscitário entre Serra e Dilma.

Essa é uma visão arrogante. Lula não enxerga ou finge não enxergar o fator Marina. Talvez seja interessante manter Ciro na contenda presidencial, a fim de que dois candidatos do atual campo governista defendam a sua administração.

Não vale um centavo furado a história de que Marina não vai atacar o governo. Basta ler suas declarações aos jornais.

Talvez seja interessante o presidente esquecer essa possível candidatura de Ciro ao governo paulista, algo artificial demais para funcionar. Alguns petistas acham melhor contar com mais uma opção numa eleição presidencial que vai ser dura. Ciro já entendeu isso e se reposicionou. Tirou gás do projeto paulista.

O governo confia na recuperação da economia e no conjunto de suas realizações para eleger Dilma. É uma estratégia respeitável e correta. Será suficiente?

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Aliança PSOL-PV sairá?

A senadora Heloisa Helena (PSOL), que marcou 12%, mantém um bom patamar no Datafolha. Tinha 14% no final de maio de 2008 e repetiu a taxa em novembro. Caiu para 11% em março deste ano. Oscilou negativamente para 10%. E agora obteve 12%.

HH é peça importante da corrida presidencial, mas pode fazê-la ficar mais interessante se fechar uma aliança do PSOL com o PV. Não seria um acordo fácil. Há divergências entre as duas siglas, mas um acerto, obviamente, reforçaria Marina.

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O jogo vai esquentar

Falando da própria senadora do Acre, já foram abordadas as vantagens e dificuldades. Por ora, ela é o novo. Vamos ver que discurso construirá. O eixo ambiental numa candidatura ao Palácio do Planalto é desejável, é inovador, mas não pode virar samba de uma nota só.

Se quiser entrar no jogo para valer, ela terá de convencer o eleitorado de que tem propostas melhores do que as de Serra e de Dilma.

Ele é um candidato respeitável, com boas passagens pelo Ministério da Saúde, pelo Congresso, pela Prefeitura de São Paulo e pelo governo paulista.

Ela é a representante de um partido que faz uma boa administração. Lula honrou o compromisso essencial de melhorar a vida dos mais pobres, o que é muita coisa num país como o Brasil.

Parece que vai ser uma eleição legal.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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