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Brasília Online

06/11/2005

Guerra PT-PSDB favorece conservadores

KENNEDY ALENCAR
colunista da Folha Online

A promessa de guerra total entre PT e PSDB por conta da sucessão presidencial de 2006 favorece os planos de partidos mais conservadores para as eleições do próximo ano. PMDB e PFL avaliam que, a depender do grau dos ataques, petistas e tucanos se enfraquecerão mutuamente e perderão cacife eleitoral.

Peemedebistas e pefelistas priorizam o final da verticalização _regra eleitoral que induz os partidos nos Estados a repetir a aliança que selam no pleito presidencial. Com ela, há amarras que impedem uma farra geral de coligações nos Estados, com os casamentos mais diferentes e incoerentes.

Será um retrocesso, mas é uma manobra que conta com o apoio dos presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Sem a verticalização, PMDB e PFL poderiam lançar candidatos a presidente só para constar ou para se aventurar, ficando livres nos Estados.

No PMDB, o governador Germano Rigotto (RS) é a última novidade. Nos bastidores, ele tem angariado apoio para vencer as prévias do partido e ser o candidato a presidente.

Dividida entre governistas e oposicionistas, a cúpula do PMDB avalia que os favoritos para vencer a eleição presidencial continuam a ser PT e PSDB. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já decidiu que concorrerá, mas ainda não disse de público. O PSDB hoje está entre o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador paulista, Geraldo Alckmin.

A campanha presidencial promete ser a mais dura dos últimos anos. Basta ver como petistas e tucanos têm se matado no Congresso e na propaganda política. Nesse contexto, peemedebistas consideram que um nome como o de Rigotto, de perfil algo "certinho", possa surpreender. Por ora, é apenas isso. Uma aposta.

O PMDB dificilmente apoiará a candidatura presidencial de Anthony Garotinho, ex-governador do Rio que muitos do partido julgam ter a marca da aventura carimbada na testa. O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Nelson Jobim, perdeu fôlego ao se envolver demais na defesa do deputado federal José Dirceu (PT-SP), ameaçado de cassação no escândalo do mensalão.

Jobim já foi peemedebista e poderia voltar ao partido em abril, pois há brecha legal para que possa se filiar em 2006 e concorrer a um cargo. Entretanto, os peemedebistas acreditam que Jobim está mais interessado em ser vice de Lula do que em disputar diretamente ao Palácio do Planalto.

No quadro atual, haverá muita dificuldade para a ala governista do PMDB fechar uma aliança com Lula, apesar de o presidente ainda acalentar esse sonho. E o grupo oposicionista dificilmente conseguirá levar o PMDB a apoiar um tucano.

Seria, portanto, conveniente uma candidatura Rigotto sem verticalização. Ele poderia ser abandonado se não empolgar ou virar a salvação da lavoura peemedebista. Em 2002, Rigotto começou a campanha com 3%. Elegeu-se governador do Rio Grande do Sul.

O Brasil tem um cenário político tão dinâmico, para usar um eufemismo, que não é recomendável descartar a possibilidade de uma surpresa em 2006. PT e PSDB estão empenhados numa guerra de destruição, apesar de ainda haver articulações para estabelecer um limite no conflito. Uma certa paz interessa a petistas e tucanos, mas os fatos da crise política, sobre os quais não têm controle, dificultam esse acordo de cavalheiros.

Uma coisa é certa: 2006 será um ano de campanha sangrenta.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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