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17/04/2010

Datafolha aumenta preocupação de Lula com Ciro

KENNEDY ALENCAR
Colunista

A pesquisa Datafolha divulgada hoje, 17 de abril, aumentou a preocupação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o isolamento de Ciro Gomes (PSB) na disputa pelo Palácio do Planalto. É uma preocupação mais política do que eleitoral.

Vamos explicar.

O Datafolha trouxe Ciro numericamente atrás da pré-candidata do PV, a senadora Marina Silva (AC). Ela marcou 10%. Ele, 9%. É uma situação de empate técnico, mas é a primeira vez que acontece. Há mais do que o impacto psicológico.

De meados de dezembro para cá, Ciro desceu dos 13 pontos percentuais para 9 pontos. Marina foi de 8% para 10%. A trajetória do deputado federal do PSB, portanto, é de queda paulatina.

Isso deve alimentar a hesitação do PSB em manter Ciro na disputa presidencial. O partido dá sinais de que prefere se aliar à pré-candidata do PT, Dilma Rousseff. Mais: Lula continua achando que, para Dilma, é melhor que Ciro não concorra.

Hoje, no Datafolha, a saída de Ciro levaria o pré-candidato do PSDB, José Serra, a ampliar sua diferença sobre Dilma. Mas o presidente da República acredita que é uma distância que pode ser tirada ao longo da disputa. Logo, ele não teme o impacto eleitoral da saída de Ciro. Pelo contrário.

Lula teme o impacto político. Ciro é um aliado fiel do governo petista. Ajudou a segurar as pontas no escândalo do mensalão. Participava do gabinete de crise, seleto grupo de ministros para administrar a crise. Fez, viu e ouviu muito. Um Ciro magoado é tudo o que Lula não deseja neste momento.

O presidente faz agora uma avaliação política dos prós e contras de atuar para tirar Ciro do jogo.

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Origem da confiança

No cenário principal da pesquisa Datafolha, Serra marcou 38%. Dilma obteve 28%. A pré-candidata do PV, Marina Silva, 10%. E Ciro, 9%.

Na simulação sem Ciro, Serra agrega quatro pontos. Atinge 42%. Dilma vai a 30%. E Marina fica com 12%. Ou seja, uma análise fria recomendaria ao governo e ao PT estimular Ciro a permanecer na disputa, a fim de evitar uma eventual vitória de Serra no primeiro turno.

Mas Lula tem confiança na virada do jogo. Pesquisas qualitativas que chegaram ao conhecimento do presidente mostram que muitos eleitores ainda não sabem que Dilma é a candidata de Lula. Informados da ligação entre os dois, a maioria dos entrevistados nesses pequenos grupos de discussão opta pela petista.

Resumindo: simulando o cenário de setembro, quando todas as campanhas terão feito exaustivo uso do horário eleitoral gratuito na TV e no rádio, essas pesquisas qualitativas mostrariam que Dilma seria beneficiária de uma segunda onda de transferência de votos de Lula.

O que poderia atrapalhar isso? Um grande erro de campanha, como transformar um aliado fiel em inimigo feroz com extremo potencial de dano.

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Ânimo verde

O resultado do Datafolha trouxe ânimo a Marina, mas a senadora precisará aguardar outros levantamentos para descobrir se está em processo de subida gradual. Por ora, sua ascensão está dentro da margem de erro da pesquisa _dois pontos percentuais para mais ou para menos.

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Jogo duro

A pesquisa mostra que Serra será osso duro de roer. Ele tem feito um bom começo de campanha. Desapareceram as críticas sobre sua demora em assumir a candidatura. Tem realizado uma campanha profissional. Sinaliza que toma muito cuidado em relação a erros que não pode cometer contra a candidata de um governo popular.

Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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