Colunas

Brasília Online

18/07/2004

Planalto prepara intervenção no Senado

RAYMUNDO COSTA
Especial para a Folha Online, de Brasília

O Planalto está preparado para fazer uma intervenção cirúrgica no Senado, a partir de agosto, para tentar resolver o crônico problema de maioria do governo na Casa. O cenário para o segundo semestre é pior que o enfrentado até agora, quando Lula teve de passar por uma derrota humilhante no projeto de salário mínimo de R$ 260.

Além da falta de maioria estável, causada em grande parte pela eterna divisão do PMDB, há sinais de deterioração na própria coalizão governista.

O senador Geraldo Mesquita (AC), por exemplo, planeja trocar o PSB pelo PSOL da senadora Heloisa Helena (AL), em fase de criação. O Planalto já não contabiliza os votos dos senadores Magno Malta (ES) e Marcelo Crivella (RJ), ambos do PL. A eleição também está levando para a oposição Duciomar Costa (PTB-PA).

Se não bastasse, há dificuldades também no PT, onde os senadores Cristovam Buarque (DF), Paulo Paim (RS), Flávio Arns (PR) e Serys Shlessarenko (MT) assumem a cada dia uma postura mais crítica em relação ao governo Lula, algumas vezes associados a partidos que já estiveram com o Planalto e hoje são oposição como o PDT.

Para tentar mudar esse quadro o governo vai trabalhar com o que no Senado se chama de "O grupo", também conhecido pela sigla BZD --Base do Zé Dirceu. Trata-se, como o próprio nome diz, de um grupo de nove senadores, a maior parte deles em partidos formalmente da oposição.

Há senadores do PFL, como João Ribeiro (TO) e Edison Lobão (MA), e até um tucano, o senador Eduardo Siqueira Campos (TO). "O grupo" está sob a esfera de influência do senador José Sarney (PMDB-AP) e tem como um de seus objetivos a sua reeleição para a presidência do Senado em fevereiro de 2005.

O ministro José Dirceu (Casa Civil) já teve uma reunião com o grupo todo e conversas pontuais com Siqueira Campo ao longo da última semana. Está acertada uma nova conversa para agosto, quando será discutido como resolver a questão da maioria do governo independentemente se haverá ou não reeleição para Sarney.

"O grupo" pretende atuar como um bloco já a partir de agosto, ou seja, independente das orientações de seus partidos de origem. Tudo vai depender da negociação com o Planalto. Ainda não há uma definição clara sobre o futuro partidário de cada um deles.

O Planalto gostaria de filiá-los a partidos aliados no Senado, mas isso dependerá muito da situação regional de cada um. E essa é uma discussão que eles preferem deixar para depois das eleições municipais de outubro.

Além de "O grupo", a articulação palaciana passa também por Sarney e sua filha Roseana. Pelo menos até outubro, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) deve manter uma atitude de morde e assopra com o governo, por conta da eleição de Salvador. Pode morder ou assoprar mais dependendo do grau de intervenção do governo na campanha da capital e outras cidades-chave para o poderio do pefelê na Bahia.

O grande nó a ser desatado é o da reeleição. Rejeitado em uma primeira votação na Câmara, o projeto está pronto para ser novamente apreciado pelos deputados. No chamado núcleo duro do governo aposta-se que ele será votado e aprovado. Restaria aguardar pela melhor oportunidade. A cúpula do PMDB vê de outro modo e acha que o projeto "está no sal", na expressão de um ministro.

Aprovada a reeleição, a expectativa é sobre o poder de reação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), candidato ao posto de presidente do Senado. O de Sarney ficou conhecido quando os senadores aprovaram o salário mínimo de R$ 275 com uma acachapante diferença de 13 votos.

A pauta do segundo semestre do Senado é vital para o governo. E polêmica. O projeto de nova lei de biossegurança ainda não teve o aval das comissões técnicas. O que prevê as chamadas PPP (Parcerias Público-Privadas), fundamental para o governo deslanchar obras de infra-estrutura, sofre o pesado bombardeio do senador tucano Tasso Jereissati (CE). Nesse quadro, é urgente, para Lula, resolver a questão da maioria.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca