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Brasília Online

18/02/2006

Lula usará teoria conspiratória contra PSDB

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

A retomada de uma teoria conspiratória para inviabilizar o governo do PT é uma "arma secreta" que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva guarda para usar na campanha eleitoral se for instalado um clima de guerra com a oposição _o que parece, hoje, ser a tendência.

Lula tem discutido com poucos petistas de sua confiança seu discurso de campanha. No Palácio do Planalto, avalia-se que a recuperação do presidente nas pesquisas eleitorais levará a oposição a bater mais duro novamente, como tem feito o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Nesse contexto, Lula e o PT deverão radicalizar a estratégia de tentar opor pobres à elite. As acusações de corrupção contra o PT e o governo seriam tratadas como manobras de uma elite insatisfeita com um governo voltado para os mais pobres.

Nas pesquisas qualitativas feitas pelo Palácio do Planalto, um dado chama atenção. Entre os entrevistados, aparece com freqüência a avaliação de que Lula é vítima de uma tentativa de inviabilização de sua gestão.

"Estava na cara que não iam deixar o Lula governar" e o "O Lula não vai terminar o mandato. Não vão deixar" são comentários que aparecem nesses levantamentos qualitativos. As pesquisas qualitativas reúnem um número pequeno de entrevistados de perfil social semelhante. Exemplo: eleitores de classe D e E simpáticos a Lula ou eleitores de classe D e E que votaram em Lula em 2002 e hoje estão em dúvida. Nesse eleitorado de perfil socioeconômico mais pobre e menos escolarizado, há um terreno fértil para que vingue a teoria conspiratória.

Membros da cúpula do governo e do PT sabem que retomar a teoria conspiratória renderá críticas dos chamados formadores de opinião. Mas eles avaliam que esses formadores falam para uma classe média dos grandes centros urbanos e não para as populações mais pobres e com menor grau de escolarização. Por isso, Lula deverá centrar suas forças ainda mais no eleitorado pobre da região Nordeste e das grandes periferias urbanas.

Isso não significa abandonar o eleitor de classe média, para o qual a "lista de Furnas" seria um contraponto ao "mensalão". Essa lista, suspeita de uma falsificação, traz o nome de políticos adversários do PT que teriam recebido recursos ilegais da estatal de energia à época do governo Fernando Henrique Cardoso.

O governo tentará usar essa lista para tentar mostrar que PSDB e PFL não teriam autoridade moral para atacar o PT. O governo e os petistas acreditam que isso "zeraria" o jogo no campo ético e permitiria a comparação entre as gestões Lula e FHC, na qual avaliam que têm resultados vantajosos para cotejar com o período tucano (1995-2002).

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Mote eleitoral

Ainda no quesito comparação de governos entre Lula e FHC, estrategistas do presidente trabalham com a idéia de que o petista em três anos fez mais do que os tucanos em oito anos. Essa comparação será feita independentemente de o candidato tucano a presidente ser o prefeito de São Paulo, José Serra, ou o governador paulista, Geraldo Alckmin. Obviamente, o governo acha mais fácil associar Serra a FHC, pois o prefeito foi ministro do ex-presidente. Apesar de Alckmin não ter participado da gestão FHC, sua candidatura também será atacada como um volta ao passado.

O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), é um exemplo de governista que elaborou uma lista de dados para comparação na qual Lula se sai melhor do que FHC.

"Lula fez, faz e fará mais do que os tucanos" dificilmente será um slogan de campanha. Mas será uma idéia a nortear o discurso eleitoral do petista, que tem dito a amigos que julgou acertada a decisão de postergar o anúncio de uma candidatura atuando na prática como candidato.

Além de estar vivendo um bom momento, colhendo os frutos de ter elevado o salário mínimo de R$ 300 para R$ 350 a partir de abril, Lula avalia que a polarização com o PSDB lhe é favorável.

Os tucanos seriam carimbados como elitistas que tiveram a chance de governar o Brasil durante oito anos e que não teriam apresentado resultado superior ao de Lula.

O presidente avalia que o eleitorado entenderá o discurso de que ele não fez tudo o que podia, mas teria feito mais do que o antecessor. De quebra, poderá insistir na teoria conspiratória de que os tucanos tentam inviabilizar seu governo em parceria com uma elite, a mesma que, ironia do destino, tem sido beneficiada por uma política econômica conservadora e parecida com a do tucanato.

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Presente fotográfico

Membros da cúpula do PT disseram que o PSDB deu um presentão a Lula: a foto da última semana na qual quatro caciques do partido jantam num dos restaurantes mais caros e sofisticados de São Paulo para decidir quem será o candidato tucano a presidente. Estavam lá o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), o governador de Minas, Aécio Neves, e o prefeito de São Paulo, José Serra, o mais forte presidenciável tucano.

Esse retrato ajudaria a estratégia petista em dois pontos. Traz FHC para o centro do debate eleitoral, o que reforçaria a iniciativa do PT de dizer que a eleição do PSDB é uma volta ao passado. Facilitaria ainda o expediente petista de comparar números da gestão de Lula à de FHC.

Por último, seria útil à tentativa do PT de carimbar os tucanos como elitistas que querem tirar do poder Lula, o "representante dos pobres". Não sai por menos mil reais uma conta naquele restaurante (Massimo) para quatro pessoas, ainda mais com duas garrafas de vinho.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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