Colunas

Brasília Online

05/03/2006

Aécio é ameaça para unir Serra e Alckmin

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

A possibilidade de o governador de Minas, Aécio Neves, voltar à disputa do PSDB pela candidatura ao Palácio do Planalto é, por ora, uma ameaça para tentar pôr limites à guerra de bastidores entre o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador paulista, Geraldo Alckmin. Algo na linha "se vocês não se entenderem, nenhum dos dois será o candidato".

No entanto, Aécio pode acabar como solução de última hora caso Serra seja preterido e resolva vetar Alckmin para se vingar.

O prefeito de São Paulo deseja ser candidato a presidente. Disse isso ao triunvirato tucano que coordena o processo de escolha no famoso jantar para o qual o governador não foi convidado. Mas impôs condições. Exemplos: a união do partido, lembrando que foi abandonado por parte da legenda em 2002, e responsabilidade da sigla pela arrecadação de recursos, temendo que fique com dívida difícil de quitar como quatro anos atrás.

Serra tenta ganhar tempo para dar uma resposta definitiva ao partido porque pretende avaliar os riscos de sua pretensão e porque Alckmin emite sinais de que não aceitará pacificamente uma derrota. Governador e prefeito têm reclamado muito um do outro em conversas reservadas. Seqüelas parecem inevitáveis a essa altura do campeonato.

Composto por Aécio, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o trio prefere o prefeito, que eles julgam mais competitivo do que o governador. O PFL, aliado preferencial dos tucanos, também.

Alckmin perderá pouco se sair do governo do Estado e não for candidato. Entregará o Palácio dos Bandeirantes por apenas nove meses ao PFL. Poderá ainda tentar o Senado. Já Serra tem muito a perder. Se deixar a prefeitura, precisa ter a garantia de que será candidato. Ele ainda tem quase três anos de mandato a cumprir.

Se Alckmin esticar a corda demais, a ponto de fechar o caminho para Serra, o prefeito poderá vetá-lo em benefício de Aécio, contam tucanos próximos ao prefeito.

Habilidade política não falta a Aécio, que tem os pés no chão e sabe que uma eventual candidatura presidencial não depende somente de vontade pessoal, algo que Serra e Alckmin não parecem compreender muito bem dado o modo como estão guerreando. O governador mineiro também foi um dos poucos oposicionistas que não julgaram que Lula havia morrido eleitoralmente. Ele sabe, portanto, que será difícil bater o petista. Seu projeto presidencial é para 2010.

Qual é a chance, então, de Aécio ser candidato agora? Hoje, pequena. Mas a surpreendente inabilidade do comando tucano para conduzir a disputa entre Serra e Alckmin não recomenda descartar tal hipótese. Aécio tem praticamente garantida a reeleição para o governo de Minas. Esse é o caminho natural. Mas a política brasileira, como mostra o retorno de Lula à condição de favorito após o escândalo do "mensalão", é pródiga na produção de surpresas.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca