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Brasília Online

19/03/2006

O plano de Alckmin para vencer Lula

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

Qual será a estratégia do pré-candidato tucano a presidente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para tentar encurtar a diferença nas pesquisas em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva até a chegada do horário eleitoral gratuito em setembro?

Pesquisa Datafolha publicada neste domingo mostra que a simples oficialização de Alckmin como candidato o fez subir seis pontos percentuais em relação ao último levantamento, de 20 e 21 de fevereiro. Hoje, Lula lidera no Datafolha com 42%. Alckmin subiu de 17% para 23%. O tucano também melhorou seu desempenho na simulação de segundo turno --50% do petista contra 38% dele.

A pesquisa é muito boa para Alckmin. Dá gás na partida e o permite se sentar à mesa com o PFL em melhores condições para negociar uma coligação. Mas ainda há uma diferença de 19 pontos percentuais no primeiro turno e de doze pontos no segundo turno. Diante da pergunta de como Alckmin fará para reduzir a vantagem petista, um auxiliar direto do governador paulista responde: ele apenas vai se apresentar ao eleitor.

Qualidades e defeitos de Lula são de amplo conhecimento nacional. Alckmin é um desconhecido. Seus auxiliares vão, obviamente, mostrar apenas as qualidades. Caberá à imprensa desvendar seus defeitos.

A primeira medida do time eleitoral de Alckmin será vender o pré-candidato como um administrador experiente, com uma obra de 12 anos no governo de São Paulo para exibir. Doze anos? Sim. Alckmin vai misturar o seu governo ao de Mário Covas, de quem foi vice-governador. A dupla se elegeu para o Palácio dos Bandeirantes em 1994.

Alckmin se apresentará como o herdeiro de Mário Covas, governador tucano que morreu em 2001 e que é um símbolo de moralidade para o PSDB. Ou seja, colar em Covas e se distanciar de Fernando Henrique Cardoso, presidente da República por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002).

Aí começarão os problemas de Lula. É fácil bater em FHC. Difícil atacar Covas.

Alckmin vai se confundir com Covas, usar sua imagem como escudo. Além da ligação com um governador que morreu de câncer e ao qual foi leal e respeitoso, Alckmin terá 12 anos de obras em São Paulo para vender a marca de administrador experiente.

A carreira política do governador será resumida mais ou menos assim: "Lutou contra a ditadura militar de 1964 ao ingressar ao antigo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) em 1972. Foi o vereador mais votado de Pindamonhangaba, presidente da Câmara Municipal e quatro anos depois prefeito de sua cidade natal. Em 1986, elegeu-se deputado federal e foi o autor do projeto de Código de Defesa do Consumidor e relator do projeto que virou a Lei de Benefícios da Previdência Social. Virou vice de Covas e a história se fecha com a ligação com essa figura mítica do tucanato".

Ou seja: a intenção será criar um vínculo de simpatia com o eleitor que não conhece Alckmin e que hoje está ancorado em Lula. Ao mesmo tempo, será vendida uma imagem difícil de ser atacada pelos petistas. Ao chegar ao horário eleitoral gratuito, a parte da campanha que mais importa, o tucano espera estar colado em Lula nas pesquisas. Nesse período, assumiria a ponta e se elegeria presidente da República.




O marqueteiro

O jornalista Luiz González será o marqueteiro de Alckmin. O publicitário Duda Mendonça, que fez a campanha de Lula em 2002 e que estará fora destas eleições, diz que González é o marqueteiro mais competente em atividade hoje no país.

Detalhe: Duda fez a campanha de Marta em 2004, quando a petista perdeu para Serra. O marqueteiro do prefeito foi González, um dos donos da GW Comunicação.




Palocci fica

Na sexta-feira de manhã, Lula embarcou para Santa Catarina pensando no discurso para defender o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Ao discursar, as palavras presidenciais foram: "Eu devo muito, devo muito, mas muito de tudo que nós fizemos a um homem chamado Antonio Palocci. Não é economista, é médico, por isso, ele ganhou respeitabilidade no mundo inteiro pela sobriedade e pela seriedade no trato das questões econômicas".

Com o que foi revelado até hoje sobre o ministro, o presidente não vai tirá-lo do cargo nem aceitar eventual pedido de demissão, como antecipou a Folha na quarta-feira em sua edição impressa. O presidente pretende segurar novas acusações. Lula acha que, sem Palocci, perderá a reeleição. Ficaria com a credibilidade comprometida perante o mercado e abriria espaço para Alckmin nessa área.




Operação PMDB

Lula vai acelerar negociações partidárias em abril. Sua meta é conseguir a adesão do PMDB. Hoje, o acerto seria o seguinte: o partido não lança candidato próprio, fica livre para coligações regionais e apóia Lula em pelo menos 14 Estados. Obviamente, dependerá de os governistas conseguirem abortar a candidatura presidencial própria, projeto defendido por parte da ala oposicionista.




Informante secreto

Na madrugada da última terça-feira, Lula recebeu um telefonema. Um amigo com trânsito no tucanato lhe disse que o triunvirato tucano acabara de fazer reunião com Serra e que a tendência era mesmo Alckmin ser o candidato. Quando saiu o resultado oficial, na tarde da terça, Lula disse: "Eu já sabia".




Vestido para a guerra

Palavras de Lula a um auxiliar no meio da semana: "A eleição vai ser duríssima. Eu queria que não fosse assim. Mas não vai ter jeito. Vamos ter de bater pesado [nos tucanos]".

Noutra conversa, o presidente pediu a um ministro que reforçasse as pontes com o empresariado. "Esse pessoal gosta mais do Alckmin", comentou.




Bênção divina

A auxiliares, Alckmin se diz "predestinado" a ser presidente. É fato que o destino lhe sorriu novamente quando derrotou José Serra na disputa pela candidatura tucana. O prefeito era um candidato mais competitivo para o começo da partida, mas o governador não piscou e ganhou a parada.




Mágoa paulistana

Serra atribui ao triunvirato tucano a sua derrota para Alckmin. Tem dito que, no jantar do Massimo, os três lhe garantiram que a candidatura seria sua se a assumisse claramente. O prefeito está mais chateado com Tasso Jereissati, presidente do PSDB, que dizia ter controle sobre o processo e que mostrou não ter comando nenhum.

O triunvirato responsabiliza Serra pela derrota. Conta que, se ele tivesse assumido a candidatura após o Carnaval, como combinado, hoje seria o postulante. Hesitou. Deixou Alckmin confiante a ponto de aumentar suas forças no partido.




Acertar o calendário

Uma das principais vantagens que Serra leva em conta para avaliar se disputa o governo paulista é a possibilidade de acertar o calendário. Se ficar na prefeitura, escolherá entre ser candidato à reeleição e, de novo, pensar em abandonar um mandato no meio. Se conquistar o Palácio dos Bandeirantes, ele seria candidato em 2010 sem esse problema. A outra grande vantagem é encontrar um Estado com as contas saneadas e com cerca de R$ 9 bilhões para investimentos. Serra diz que Alckmin não conseguiu gastar todo o dinheiro que tem disponível para investir.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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