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Brasília Online

25/03/2006

Lula teme dano eleitoral com "caso Francenildo"

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

'A cada dia que arrastamos isso, o PIB perde um ponto e o Lula perde um ponto nas pesquisas', diz um dos principais auxiliares do presidente, ao comentar o episódio da quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo Costa. Talvez seja um exagero em relação ao Produto Interno Bruto, pois a economia ainda está descolada da crise política, mas tende a ser verdade em relação ao cacife eleitoral do presidente.

Lula e seus principais ministros temem o 'caso Francenildo' já tenha tido impacto eleitoral negativo e que tenha sido reduzida a dianteira que o presidente apresentou no domingo passado na pesquisa Datafolha em relação ao seu principal oponente, o pré-candidato do PSDB a presidente, o governador Geraldo Alckmin (SP).

Lula tinha 19 pontos de frente no primeiro turno (42% a 23%) e 12 pontos na segunda fase (50% a 38%).

Auxiliares do presidente já encomendaram pesquisa para aferir o tamanho do dano, que deverá levar o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, a deixar o governo.

Até pouco tempo atrás, o PSDB enfrentava uma agenda negativa, dividido entre lançar à Presidência o governador Geraldo Alckmin (SP) ou o prefeito paulistano, José Serra. Lula vivia agenda positiva, com notícias de impacto para os mais pobres e viagens pelo país com inaugurações que lhe garantiam espaço no noticiário nobre televisivo.

Essa agenda se inverteu. E isso preocupa o comando do governo. Lula crê que precisa agir rapidamente. E deverá proceder assim nesta segunda. Reservadamente, o presidente afirma que quem quebrou ilegalmente o sigilo do caseiro deve pagar e que esse episódio não foi decisão de governo. Acredita que o governo perdeu a 'batalha da comunicação' no 'caso Francenildo' e que não pode passar à história como conivente com quebra de direitos individuais.

O caseiro sustenta que Palocci freqüentou a casa alugada em Brasília por ex-auxiliares para fazer lobby e dar festas com garotas de programa. Palocci disse à CPI dos Bingos que nunca foi à casa. Em reuniões do governo, admitiu ter ido à casa para atividade de caráter privado, mas nunca para participar de corrupção.

Desde sua revelação, Francenildo teve o sigilo bancário quebrado ilegalmente e virou alvo de investigação de órgãos do Estado. O episódio, um atentado aos direitos constitucionais, é um dos maiores erros do governo petista.




Substituição complicada

Lula sempre conviveu mal com a política econômica de rigor fiscal e monetário de Palocci. O conservadorismo do Banco Central o levou a explosões de humor de palavras impublicáveis. Palocci sempre precisou convencê-lo do rumo a seguir.

Com a saída de Palocci, o presidente terá de ser o fiador da política. Segundo ministros, Lula está disposto a sê-lo de modo inequívoco. Não tem alternativa se quiser se reeleger.




Máxima incontestável

O governo e o PT são os autores dos episódios que mais desgastam a gestão Lula e o partido.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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