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Brasília Online

04/06/2006

As armas de Mercadante e Serra em SP

Em reunião recente, ministros próximos a Luiz Inácio Lula da Silva e o próprio presidente consideraram a eleição paulista difícil para Aloizio Mercadante, mas não uma batalha já perdida.

Na pesquisa Datafolha divulgada no dia 25 de maio, o tucano José Serra seria eleito governador do Estado no primeiro turno com 56%. O petista Mercadante marcou 17%. Apesar do favoritismo de Serra, Mercadante tem as suas armas: colar em Lula para tentar obter o voto dos eleitores mais pobres e explorar o que chama de "passivo" do tucano.

Ex-líder do governo no Senado, Mercadante tem dito que está bem no segmento dos formadores de opinião (eleitorado mais rico e mais escolarizado). Ao colar em Lula, buscará se associar às realizações sociais que vitaminam eleitoralmente o presidente. Além da área social, o bom desempenho da economia contribui para o favoritismo de Lula nas pesquisas.

O "passivo" de Serra, na visão do PT, seria ter deixado a Prefeitura de São Paulo nas mãos do vice, o pefelista Gilberto Kassab. Eleito para governar a cidade por quatro anos, a deixou em menos de dois para concorrer a outro cargo. Mercadante acha que será possível desgastar mais Serra. Baterá ao máximo na tecla de que ele fez a prefeitura de trampolim político e tentará fazer o mesmo com o Estado para alcançar a Presidência.

O próprio Serra, franco favorito na disputa, tem articulado com cuidado a sua campanha para não ser surpreendido. Faz viagens ao interior e busca não se meter em polêmicas, resguardando a posição de líder.

Em resposta ao "passivo", o tucano dirá que o PT quebrou a prefeitura na administração Marta Suplicy e que deseja evitar que Mercadante venha a fazer o mesmo com o Estado.

Serra também terá mais de R$ 9 bilhões para investimentos em 2007, dinheiro que o ex-governador e correligionário Geraldo Alckmin não conseguiu gastar. Planeja grandes obras na capital, especialmente com metrô, e nas regiões mais pobres do Estado. Um segredo: tentará criar um programa social melhor do que o Bolsa-Família de Lula. Ou seja, Serra preparará as bases para tentar conquistar o Palácio do Planalto em 2010.

A disputa paulista será interessante. Se virar o jogo, Mercadante se consolidará como herdeiro de um PT pós-Lula. Se Serra vencer e fizer administração inovadora, vai se tornar fortíssimo candidato daqui a quatro anos.




Ciro no páreo

O PSB marcou sua convenção oficial para 28 de junho. Depois do encontro do PT, que se realizará no dia 24. Os socialistas querem aguardar o desenrolar das negociações sobre a chapa de Lula. Por ora, Ciro Gomes fez recuo estratégico. Não quer repetir os passos do senador José Agripino Maia (PFL-RN), que entrou na briga pela vice de Geraldo Alckmin e perdeu.




Lance decisivo

No PMDB de Minas, há muitos opositores à concessão ao ex-presidente Itamar Franco da legenda do partido para disputar o Senado. Se Itamar não a obtiver, o PT dirá que apoiará o atual vice-presidente da República, José Alencar (PRB), para tentar a vaga. Então, Lula teria uma saída para não repetir a dobradinha de 2002.

O presidente admite a possibilidade de Alencar ser novamente o seu companheiro de chapa. Mas o fará a contragosto e se necessário para não se indispor com o Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país.




Discurso para militante

Em reunião na quinta-feira (01/06) dos presidentes dos três partidos que apoiarão a reeleição de Lula, PT, PSB e PC do B, foi decidido que as legendas elaborarão até o dia 24 um texto comum que sirva de sugestão ao presidente para uma nova "Carta ao Povo Brasileiro". Nessa data, o PT oficializará a candidatura de Lula à reeleição.

Ao contrário de 2002, quando a "Carta" abraçou valores do mercado financeiro, numa guinada ao centro para não assustar empresários nacionais e internacionais, o documento de 2006 deverá ser voltado para os militantes tradicionais dessas siglas que se desapontaram com o "conservadorismo" do governo Lula em matéria econômica.




Parada dura

O novo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), assumiu o posto com uma prioridade. Não tentará apenas apaziguar os ânimos entre governo e oposição, mas também entre os próprios pefelistas e tucanos, que andam se matando quando o assunto é a candidatura Alckmin.

Jucá tentará criar um clima propício à votação do Fundeb, fundo para financiar a educação básica. O tema educação, aliás, será a principal bandeira de Lula na eleição, sempre numa linha de buscar fazer mais pelos mais pobres.




Ataque público, desculpa em privado

Depois de desmentir Orestes Quércia publicamente na quarta-feira, o sempre educado ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) telefonou para o ex-governador no dia seguinte para fazer uma embaixada.

Vida difícil, a do ministro. Disse de público que Lula não oferecera a vice ao PMDB, o que está todo mundo careca de saber que é uma inverdade. Ofereceu, sim. Cumprida a missão, Tarso tentou depois ajeitar a relação com Quércia. O ex-governador entendeu a "obrigação" do ministro de tentar proteger Lula, que ainda não assumiu publicamente a candidatura.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

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