Colunas

Brasília Online

24/06/2006

Lula carimba Alckmin como volta ao passado

KENNEDY ALENCAR
Colunista da Folha Online

O discurso de lançamento da candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha um recado principal para o eleitor: tentar carimbar a candidatura do tucano Geraldo Alckmin ao Palácio do Planalto como uma volta ao passado.

"O Lula delimitou o terreno da discussão, dizendo que ele quer ficar, e os tucanos querem voltar. O PSDB não é algo novo em relação ao PT", avaliou com precisão o ex-prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, candidato petista ao governo de Sergipe.

Lula e o PT não querem deixar que Alckmin se venda como uma novidade, como alguém que seria uma ruptura em relação aos grupos políticos que já assumiram o poder no país.

Daí a vinculação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lula repetiu à exaustão, num detalhado balanço comparativo, o que ele fez em 42 meses de governo. Sempre dizendo que realizou mais do que o tucano em oito.

Em um figurino Dalai Lama, Lula disse que ele e o vice, José Alencar, enfrentariam na campanha "preconceitos, ódios, invejas" e que irão "demonstrar paz, humildade e muito amor ao povo brasileiro". E pediu aos militantes: "Preparem não as armas. Preparem as pétalas de rosas para responder aos tiros dos adversários."

O presidente achou uma expressão feliz para mote de um segundo mandato: declarou que seu objetivo não é o superávit na economia, mas o "superávit social". Afirmou que a educação será a "prioridade máxima". Prometeu realizar a reforma política no primeiro ano de um eventual segundo governo, no qual continuaria "aprofundando o trabalho de mudanças" que deu início em 2003.

Ou seja, tentou manter em suas mãos a "novidade" da eleição. "O sonho não acabou. A esperança não morreu", discursou, admitindo que ainda é preciso "fazer muito mais".

No fundo, o resumo do discurso é o que Déda observou. Lula demarcou um terreno para discussão, tentando encurralar o tucano Alckmin. Disse que é candidato porque "os pobres estão menos pobres" após sua administração e que o tucano não seria um avanço, mas um retrocesso. E afirmou, em tom de alerta: "As vozes do atraso estão de volta".




Berzoini em alta

A convenção do PT em Brasília confirmou o armistício entre as tendências do PT. Lula atribui a um hábil trabalho do presidente do PT, Ricardo Berzoini, a união petista pós-mensalão. Nunca o PT esteve tão em paz.




Dia de candidato

Algo tímido, Guido Mantega (Fazenda) foi um dos ministros mais requisitados pelos militantes para tirar fotografias.




Slogan adaptado

Entre os discursos de presidentes de partidos que apoiarão Lula, as palavras de Eduardo Campos (PSB) foram as mais elogiadas pelo público petista. Campos até introduziu um caco no novo slogan petista. "Lula de novo, com a força do povo" virou "Lula de novo, com a força do povo, e a esperança de um Brasil melhor".




À la Fidel

O próprio Lula admitiu nos bastidores do palco da convenção que o seu discurso havia sido longo demais. Uma hora e meia. Disse que, como era o primeiro, precisava ser daquele jeito. Lula intercalou as leituras de um texto num teleprompter de fibra ótica com improvisos em tom emocional.




Nova metáfora

Numa parte improvisada, Lula disse que a viola estava "azeitada" quando se referiu à experiência adquirida por ele e seu grupo de ministros. Queria dizer "viola afinada".




Ufa!

A produção da convenção sofreu com o candidato do PT ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante. Ele se recusou a se sentar na segunda fileira de cadeiras.

"Vou sentar aqui mesmo", disse, de cara amarrada. E pegou lugares para ele e Olívio Dutra na primeira fila, reservada aos beneficiados por programas sociais chamados por Lula de "convidados especiais" da convenção.




Óleo sobre tela

"Francisco Alexandre, nome artístico Franlex", dizia o pintor de 27 anos que saiu de Araripina (PE) para entregar um quadro do presidente ao próprio. Conseguiu ao final do longo discurso e depois de ter insistido muito com a assessoria.
Kennedy Alencar, 42, colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre bastidores do poder, aos domingos. É comentarista do telejornal "RedeTVNews", de segunda a sábado às 21h10, e apresentador do programa de entrevistas "É Notícia", aos domingos à meia-noite.

E-mail: kennedy.alencar@grupofolha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca