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Brasil lado B

24/12/2001

CHURRASQUINHO DE GATO

Saiba como começou esta mania e veja uma receita popular da iguaria

As histórias sobre churrasquinhos de gato são as mais populares. E não ficam apenas nas lendas ou grelhas improvisadas de entradas de shows, estádios, na frente da casa das moças da Rua Augusta, na feira de São Cristóvão (Rio) , nas ruelas que saem da Dantas Barreto, no Recife, ou nas margens do rio Guaíba, em Porto Alegre.

Seja em São Paulo, no Rio, Recife, Fortaleza, Natal ou Feira de Santana... Come-se mais gato no Brasil do que se imagina. E é prato de primeira, como nos garante os estudos do mestre Câmara Cascudo. Na sua época, porém, o pesquisador ainda não tinha conhecimento do bichano na brasa, comum nos dias que correm.

"Comem o gato sempre por estúrdia, divertimento, curiosidade. Não é quitute regular e comum nos cardápios populares. Não há o chat grillé mas invariavelmente guisado, refogado, bem adubado, dando sabor de galinha para quem nunca saboreou lebre", conta o etnógrafo no documento Antologia da Alimentação no Brasil, de 1977.

"O mais recomendado é o preto, cinzento, mourisco. Desaconselhados os vermelhos nas sucessivas gradações cromáticas."

Na sua receita, Cascudo recomenda ainda: "Enterram a cabeça e as patas antes de preparar a carne sob pena de não tomar os temperos".

Louvado por Noel Rosa tão-somente pela vocação percussionista, os gatos não acabam as suas sete vidas apenas nos batuque dos tamborins da Mangueira, do Estácio e do Salgueiro. O costume de levá-los ao forno veio com os primeiros portugueses que chegaram ao Rio. (Em Coimbra, ainda hoje existe uma sociedade dos Gaticidas, grupo de universitários chegados a uma bagaceira com o tira-gosto que mia).

Nos ensinamentos de Cascudo, o gato preto é o mais procurado, pela excelência tenra e suculenta, pedindo alho, cebola moída, açafrão, batatinha cortada, rodela de ovo duro, azeite e vinagre, num refogado de capricho, deixando um cristão no "teque de geriza", como dizem os caipiras mais antigos de São Paulo.

A arte de caçar bons gatos em Portugal exige muito cuidado e zelo, segundo o folclorista. No prenúncio do mal, os bichanos, matreiros, fugiam com facilidade. Para que a caçada não fosse tão desleal com os felinos, todas as casas tinham um buraco logo na calçada -era a chance de refúgio. Havia também todo um código de conduta: quando se matava um gato, dava-se intervalos longos, de 5 a 6 dias, para a nova busca.

Importantíssimo: as gatas eram poupadas.

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