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12/09/2007

Como fingir "estar na moda"

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

"Nova York" é um fetiche gay. Em países pobres e periféricos, como o Brasil, há um deslumbramento (cego e acrítico, muitas vezes) com tudo o que é ditado pela metrópole mais famosa dos EUA. Para muitos, expor roupas de marcas que reforçam os conceitos de "rico, sofisticado, urbano e cosmopolita" funciona como uma afirmação de status, de poder aquisitivo e até de bagagem cultural, principalmente em círculos sociais emergentes ou pseudos, onde a necessidade de ostentação flerta com impulsos patológicos.

Fotomontagem/AP e Reuters
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Nos últimos dias, a semana de moda de Nova York difundiu para a mídia mundial as coleções de primavera. Para a mídia gay (incluindo blogs), as imagens dos desfiles masculinos servem como um prato cheio para exibir modelos lindos. Em geral, as legendas para essas fotos se limitam a identificar as grifes. Predomina um certo automatismo em processar as milhares de fotos produzidas nos desfiles. Os tipos físicos dos modelos definem mais a escolha e hierarquização das imagens do que a qualidade de criação dos estilistas.

A tribo fashionista tupiniquim tenta parir (ou imitar) "tendências" com a chancela de vozes autorizadas, como tradicionais revistas de moda ou opiniões de celebridades. Nos últimos dias, era comum ouvir e ler discursos sobre a moda dos meninos em NY: "A camisa pólo listrada está de volta", "A calça branca voltou com tudo", "Hype é levantar a gola da camisa".

A retórica do "estou por dentro da moda" é uma praga que assola os points gays. Quem evita acompanhar os desfiles, campanhas e editorias corre o risco de ser sumariamente classificado como um "loser" (perdedor), expressão usada com freqüência nesse meio para apartar as tribos.

A incorporação desses mantras vai ter efeito na vida real. Em alguns clubes, na hora da paquera, muitos só perdem tempo com quem ostenta as grifes mais reluzentes. Não seria exagero afirmar que alguns casais se formam pelo poder de atração entre as marcas. Em alguns casos, quem veste uma roupa "made in Brasil" está condenado a se sentir um estranho no ninho.

É evidente que ninguém precisa se sentir culpado por ser aficionado em moda ou por valorizar um vestuário sofisticado, identificando-se com os valores da cultura americana. Também não dá para se curvar sempre a uma visão cor-de-rosa de que a moda é apenas a expressão da busca do belo, de estilo, do conforto corporal, fechando os olhos para os interesses econômicos de uma indústria que manipula a nossa vaidade, o nosso desejo de ser aceito e acolhido socialmente.

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