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Alemão puro, nu e perverso
SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online
O modelo carioca Filipe Iecker, 24, sabe apontar o seu ponto forte. "Sou um loiro puro. Meus bisavós paternos eram alemães." Foi essa "beleza ariana" (conceito nazista, mas ainda comum de se ouvir) que conquistou o mundo da moda e da publicidade, em campanhas de lojas de departamento e marcas de surfe.
Em 2006, Filipe desfilou na Fashion Rio, atraindo as lentes do fotógrafo e maquiador Fernando Torquato, aquele que tirou as fotos da nudez de Reynaldo Gianecchini. Os gays enlouqueceram com o tipão --uma das fotos de Filipe foi parar na coluna de David Brazil na "G Magazine". Não demorou muito para pintar o convite para posar para a revista.
Divulgação |
Filipe Iecker faz a linha "loiro sofisticado" em Ilha Bela |
"Fazia tempo que não saía um loiro na revista. Aí me chamaram", conta o rapaz, capa da "G" deste mês. Ok, Filipe não é nenhum Diego Alemão, que faz a linha "bom moço da Globo" e recusou convites para ensaios de nudez em nome da tradição, propriedade e família, conceitos meio nazistas, mas ainda comuns de se ouvir.
Já Filipe topou tudo. Vestiu cuecão de couro, calçou coturnos, usou algemas, máscaras, velas, todos os clichês fetichistas do loiro perverso, do homem colonizador, europeu, objeto sexual ao alcance de suas mãos --ou pelo menos aos leitores da revista gay.
"Faço dois personagens no ensaio: o aristocrata, o rico, o bom de vida. As fotos foram feitas em uma mansão em Ilha Bela [litoral norte de São Paulo] para dar esse clima. O outro é o lado proibido desse homem, seus fetiches", conta o moço, que tem namorada.
Divulgação |
"Meus avós paternos eram primos", diz Filipe, explicando origem alemã |
Não se incomoda em ser estímulo para a masturbação dos gays? "Não me incomodo em ser desejado. Até gosto. Tenho muitos amigos gays. Nunca tive preconceito."
O rapaz ficou meio sem jeito quando o questiono se alguma vez rolou uma experiência homossexual. Faço esse tipo de pergunta, sem nenhuma expectativa de ouvir uma resposta diferente. Todos dizem "não". Mas um fiapo de esperança me faz repetir sempre a mesma questão.
Parênteses: Na semana passada, conversei o cantor Fagner. Recentemente, sites gays repercutiram que ele havia confessado um suposto caso gay no passado, em uma entrevista à revista "Quem". Não era nada disso. Fagner disse que o repórter abordou o assunto, e ele resolveu, digamos, tirar um sarro com o jornalista. Afirmou que nunca havia ouvido falar na "Quem" --pensava que era uma revista de música.
Definindo-se como um "cara de sorte" por ter o apoio de sua família e por conviver com pessoas de "mente aberta", Filipe repetiu o que sempre escuto de modelos que posam sem roupa: eles querem passar a imagem de uma preocupação artística --como se a nudez apenas pelo motivo financeiro fosse algo a se ter vergonha. O rapaz promete fazer um curso de interpretação e virar ator. "Faria filme pornô?", provoco. "Não", responde.
A conversa termina. Desligo o telefone. O loiro puro, aristocrata, perverso e fetichista, com sua beleza ariana emoldurada pelo mar azul e um penhasco de Ilha Bela, era apenas uma fantasia fake, uma imagem manipulada, um prazer efêmero. Ainda bem que, no próximo mês, haverá outro em seu lugar.
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Modelo carioca diz que fará curso de interpretação para deslanchar carreira de ator; ele descarta fazer pornô |
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