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Destaques GLS

17/10/2007

Michês do Trianon

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

O estudante universitário Chico Felitti, 21, mergulhou no universo homossexual dos Jardins para elaborar um livro-reportagem, seu trabalho de conclusão do curso de jornalismo na PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, sem previsão de lançamento comercial. Um dos capítulos mais interessantes fala sobre a prostituição gay nos arredores do parque Trianon. Ele conversou com michês e clientes, encontrou menores vendendo o corpo, ouviu queixas de moradores em relação ao "antro de viados", expressão usada por um dos entrevistados.

Divulgação
Chico Felitti é autor de "Meca - Aspectos da Convivência Homossexual nos Jardins"
Chico Felitti é autor de "Meca - Aspectos da Convivência Homossexual nos Jardins"

Um dos principais relatos do trabalho é de Gabriel, um rapaz de 21 anos, da cidade gaúcha de Portão, vestido "de calça jeans clara, camisa branca de mangas compridas, corrente prateada no pescoço e gel no cabelo loiro", na descrição de Chico, que conferiu o RG do moço.

O michê diz que começou a se prostituir no centro, no breu da r. Amaral Gurgel. Ele economizou R$ 2.000 para conseguir, finalmente, ocupar um ponto na esquina da região do Trianon, o "filé mignon" do mercado do sexo, sem enfrentar problemas com polícia nem com garotos de programa mais antigos.

Gabriel faz três programas por noite --cada um a R$ 100 ou um valor maior, dependendo da "cara do freguês" e principalmente das condições da transa (sexo oral oscila entre R$ 25 e R$ 70, enquanto ser penetrado pelo cliente sai entre R$ 150 e R$ 300). Por mês, ele fatura R$ 5.000, em média.

"Uma vez, me contrataram para passar dois dias num flat. Pagaram R$ 1.500. Eram dois caras de Mato Grosso, que estavam em São Paulo a trabalho. Os dois eram casados, com mulher, família, e tudo mais. Passaram o fim de semana comigo", conta Gabriel no livro.

O rapaz promete deixar essa vida assim que comprar um apartamento e abrir uma loja de roupas. O autor do livro vê com desconfiança alguns relatos colhidos por perceber que os michês usam um discurso padronizado em diálogo com pesquisadores ou jornalistas.

Chico contabilizou, em uma noite de sexta, 27 michês na região do Trianon. O movimento começa por volta das 18h, quando o programa é mais caro. Vai até 5h da manhã, o chamado "horário da xepa", referência aos produtos de menor qualidade na feira, mais baratos.

Os garotos de programa do Trianon não têm medo dos policiais, segundo Chico. Há uma clientela "rica, muito importante". No caso da prisão de um michê, "acaba sujando mais para o policial que pegou do que para o próprio cliente".

Outra surpresa para o estudante foi o discurso franco e bem-resolvido dos clientes entrevistados. Ele ouviu frases como "Tem momentos em que o homem precisa de sexo", "Já passei dos 30, não tenho mais saco para ir para uma balada", "Economizo tempo" e até uma defesa ferrenha da profissionalização dos serviços sexuais ("Sair em busca de companhia é foda. As pessoas são esnobes e não admitem precisar de sexo, cara. Aqui, é a quebra da hipocrisia total").

Daia Oliver/Folha Imagem
Grafite em túnel que liga as avenidas Paulista e Dr. Arnaldo, uma das referências da região
Grafite em túnel que liga as avenidas Paulista e Dr. Arnaldo, uma das referências da região

Ricos e pobres

Além do sexo, o livro de Chico retrata o mercado de serviços voltados para o público GLS nos Jardins e a imagem da região como uma "ilha de liberalidade", uma meca que desperta sonhos e fantasias em gays em todo o país. Um dos contrastes é o trecho da alameda Itu, ocupada por tribos de menor renda nos finais de semana, onde também se registram casos de violência.

O estudante ouve conhecedores da área, como o empresário André Almada, dono da The Week (zona oeste, longe dos Jardins), que fala do seu projeto de licenciar a marca do clube para outras cidades e da idéia de lançar um cruzeiro marítimo para seu público. E os Jardins? Para Chico, a tendência a longo prazo é que a elite gay fuja da região, em busca de isolamento e salvaguardas contra o processo de popularização. Ou como diz Chico, um outro "mundinho dourado para poucos e bons".

Silêncio dos inocentes

Criado pelo estilista alternativo Heitor Werneck, o projeto Luxúria (www.projetoluxuria.com) incentiva o uso de roupas fetichistas, com referências sadomasoquistas, circenses, militares e fantasias de couro ou látex, dando descontos na entrada para quem aparecer com um vestuário fora do convencional. A festa acontece no primeiro sábado do mês no clube Audio Delicatessen (r. Mourato Coelho, 651, Vila Madalena, tel. 3097-0880), reunindo um público de diferentes orientações sexuais. Os clientes são proibidos de fotografar as performances. A fotógrafa Daia Oliver conseguiu autorização para registrar um dos momentos mais arrepiantes da festa.

Daia Oliver/Folha Online
A palavra "luxúria" é costurada na pele do braço de uma mulher na festa fetichista do estilista Heitor Werneck
A palavra "luxúria" é costurada na pele do braço de uma mulher na festa fetichista do estilista Heitor Werneck

Mídia

A revista "Junior" vai ganhar um concorrente. No final de novembro, chega às bancas a primeira edição da revista "Dom", a ser lançada pela editora Peixes. Será mais barata (R$ 10) do que a "Junior" (R$ 12). São previstas 140 páginas. A periodicidade será bimestral. Sem nudez como a "G", o cardápio é similar: reportagens sobre moda, beleza, estilo, turismo e ensaio apenas sensual com garoto da capa, sem foco em militância ou política.

O diretor de redação é Jorge Tarquini, que escreveu "O Doce Veneno do Escorpião", best-seller da prostituta e blogueira Bruna Surfistinha. Sobre a "Junior", Tarquini comenta: "É uma revista bem feita. Ninguém melhor do que o André Fischer para trazer para essa mídia toda a sua experiência com o Mix Brasil. É saudável para os leitores e anunciantes a existência de outros títulos voltados para o público gay."

Tarquini explica a origem do nome: Dom é uma sigla de "de outro modo", além de uma referência ao título de nobreza e ao sinônimo de talento. A equipe é formada por seis profissionais (dois na arte, três no texto e um na área administrativa) --entre eles, o designer José Henrique Domingues, que trabalhou na revista "Nova", Taís Lambert (que foi da editora Leitura e Arte) e Valmir Junior. A tiragem será de 50 mil exemplares, acima dos 30 mil da "Junior". Para meados de 2008, o mercado aguarda o lançamento da "Romeu" pela editora Abril.

Sérgio Ripardo/Folha Imagem
DJ Edu Atlantis vai tocar na festa de Halloween da Ursound, no dia 27, a partir das 23h30
DJ Edu Atlantis vai tocar na festa de Halloween da Ursound, no dia 27, a partir das 23h30
Sérgio Ripardo/Folha Imagem
Pista da Ursound, uma das principais festas para gordinhos gays e seus admiradores de SP
Pista da Ursound, uma das principais festas para gordinhos gays e seus admiradores de SP

Ursos macabros

Os ursos de São Paulo vão fazer uma festa de Halloween na próxima semana. Será no próximo dia 27, um sábado, na Ursound (r. Álvaro de Carvalho, 35, próximo da estação do metrô Anhangabaú, tel. 0/xx/11/3101-2537). A entrada custa R$ 10. Os DJs Daniel MS e Edu Atlantis prometem uma noite horripilante, com projeção de filmes de terror, e brindes para os gordinhos com as melhores fantasias.

Chevrolet

O ator Wesley Aguiar, que está em cartaz na peça "Minha vida não vale um Chevrolet", de Mário Bortolloto, ilustra a sétima edição da revista gay "A Capa". A publicação traz um reportagem de Renato Fernandes (ex-colunista da "G") com cariocas famosos, como o novelista Gilberto Braga e o estilista Carlos Tufvesson.

Alexandre Campbell/Divulgação
Ator Wesley Aguiar, fazendo a linha bofe lixeiro de Ipanema, está na capa da 7ª edição da revista gay "A Capa"
Ator Wesley Aguiar, fazendo a linha bofe lixeiro de Ipanema, ilustra a sétima edição da revista gay "A Capa"

Dicas de sites

"AtlasMen" é o site do fotógrafo MJ Frauenheim, de Los Angeles, repleto de imagens com pretensões artísticas de homens atléticos e troncudos.

Tom Zine é o blog do fanzine gay homônimo, distribuído na cidade mineira de Frei Gaspar, com poesias, fotos, vídeos, relatos e nostalgia.

Dicas de vídeos

Mutant X era uma série de TV. Neste vídeo, o ator Victor Webster mostra por que seu personagem era cheio de energia.

So Damn Beautiful é o hit do Polaroid usado na trilha de "Nip/Tuck". Nesta versão restrita, a música embala imagens de anorexia.

Sérgio Ripardo e Hallan Moulin conversam sobre ficantes, praia de nudismo e clube Royal

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