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30/01/2008

Zé do Sexo e sauna gay no Rio

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

No Carnaval, turistas gays lotam as saunas do Rio. Na maioria desses locais, predomina o serviço de "boys", eufemismo para garotos de programa, em bairros como Copacabana, Lapa e Glória. O sexo com penetração está cotado em R$ 50, mas pode chegar a R$ 150, dependendo das exigências do cliente, como beijos, carícias mais íntimas ou ousadas.

Para entender melhor como funciona esse mercado, é preciso visitar esses lugares e conversar com seus profissionais. No Rio, contabilizei 18 saunas e clubes de sexo --um número próximo do registrado em São Paulo (20). A entrada vai de R$ 13 a R$ 40. Na primeira incursão, encontrei um "boy" em uma sauna de Copacabana, em frente a uma estação de metrô.

Ele conta que mudou de Goiânia para o Rio no começo do mês e que seu plano é se prostituir por um tempo, até levantar um dinheiro e encontrar um emprego melhor. O seu serviço mais barato (sem sexo anal) sai por R$ 30. Ele diz ser hétero e ter uma namorada, que só suspeita de sua ocupação.

Sérgio Ripardo/Folha Online
Profissional de sauna diz precisar de R$ 1.500 para terminar tatuagem de Pietà
Profissional de sauna quer R$ 1.500 para terminar tatuagem de Pietà

No mundo dos michês, o goiano se encaixa na categoria dos "falantes". Ele aposta na sua lábia para convencer o cliente, demonstra interesse pela vida do outro e usa seu próprio drama para sensibilizar corações (e bolsos, também). O "boy" diz, por exemplo, ser muito religioso e que precisa de R$ 1.500 para terminar uma tatuagem nas costas: a imagem da célebre escultura Pietà (Jesus morto nos braços de Maria), de Michelângelo.

Em uma outra sauna, perto da igreja da Candelária, um angolano revela seu recorde: seis ejaculações por dia. Ele diz morar no subúrbio de Madureira e ser casado com uma mulher. Bem-dotado (acima de 20 cm), o pênis do africano permanecia em ponto de bala, embora a conversa fosse sobre amenidades nada eróticas. Os michês tomam remédios estimulantes e, às quintas, eles ficam sem toalha.

No Rio, são poucas as saunas sem a presença explícita de garotos de programa. Exemplos: Studio 64 (r. Redentor, 64) e a sauna Leblon (r. Barão da Torre, 522), em Ipanema. A primeira é reduto de barbies, enquanto a segunda atrai público de ursos e grisalhos.

Em Botafogo, há o Projeto SB (r. Dezenove de Fevereiro, 162) e o Club 29 (r. Professor Alfredo Gomes, 29) --a estrutura da primeira (com ar-condicionado) é bem melhor do que a segunda (com ventilador). Na sauna Catete (r. Corrêa Dutra, 34), reinam os cinqüentões.

Na ampla Point 202 (r. Siqueira Campos, 202, Copacabana), há uma sala em que os "boys" ficam vendo filmes pornográficos héteros e se excitando. É a estratégia para despertar nos clientes a fantasia de flagrar homens em momentos de intimidade.

Além de lugar para o sexo, as sauna são também espaços de convivência, onde grupos de amigos se encontram para conversar, beber e tentar relaxar. A higiene deixa muito a desejar. Nem todos os locais possuem armários espaçosos, com cabides, nem regulam a temperatura de suas saunas nem garantem a limpeza de banheiros e cabines.

Às vezes, detalhes melhoram a avaliação sobre o local. Na sauna Projeto SB, o cliente encontra em seu armário uma sacolinha com um pente, preservativo e lubrificante. Na Leblon, as TVs já são de tela plana e oferecem o canal gay For Man. Há ainda uma barbearia, e o cliente recebe duas toalhas, que são esterilizadas. Na Studio 64, além de TVs de tela plana, há um computador com acesso à internet disponível aos clientes.

Sérgio Ripardo/Folha Online
Com Marilyn Monroe na parede, o "Zé do Sexo" quer rebatizar jornal
Com foto de Marilyn Monroe na parede, o "Zé do Sexo" quer rebatizar seu jornal gratuito

Zé do Sexo

No mundo das saunas gays do Rio, ele é conhecido como o "Zé do Sexo". José Carlos Silva é editor do jornal mensal "O Sexo", que completa seis anos em abril. A publicação é gratuita e pode ser encontrada em points no Rio e São Paulo.

A publicação sobrevive graças aos anúncios de saunas e clubes gays. "Quando chego, logo alguém grita: 'Chegou o Zé do Sexo!' Todo mundo me conhece. Causo alvoroço", conta o jornalista, que antes trabalhou como assessor de imprensa de uma empresa de cosméticos.

No próximo mês, o jornal pretende lançar uma campanha com os leitores em busca de um novo nome. "Quero pegar novos anunciantes: uma Oi, uma Unimed, uma AmBev, eles não vão colocar seu anúncio em um jornal chamado 'O Sexo'."

Sob o olhar lânguido de Marilyn Monroe, Silva explica, em tom de brincadeira, a ausência de jovens na maioria das saunas cariocas: "Eles não precisam pagar ainda para conseguir sexo."

O escritório do jornal fica em um prédio em frente ao cine pornô Orly, em péssimo estado de conservação, que exibe filmes héteros, mas é dominado pelo público maduro, com presença também de travestis. Ao lado há ainda o prédio da Câmara Municipal e do Sexy Rose, uma das mais animadas galerias eróticas (com cabines) da cidade para o público gay, na rua Álvaro Alvim, à beira da praça Floriano e do Theatro Municipal.

"O Rio tem opções para gays de todos os gostos", conta o "Zé do Sexo".

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