Colunas

Destaques GLS

25/05/2008

São Paulo, a terra do sexo gay

SÉRGIO RIPARDO
Editor de Ilustrada da Folha Online

Folha Imagem
Além de promover a maior Parada Gay do mundo, São Paulo possui uma promissora indústria do entretenimento para o público GLS
Além de promover a maior Parada Gay do mundo, São Paulo possui uma promissora indústria do entretenimento para o público GLS

São Paulo popularizou o termo "balada" como sinônimo de festa e vida noturna. É um indício de que a cidade domina o assunto. Sem um mar na esquina e com as manhãs livres de sábado ou domingo, a diversão preferida de muitos paulistanos (de berço ou por adoção) é mesmo se jogar até altas horas da noite, dançar, beber, paquerar e beijar, principalmente nos finais de semana.

Hoje, a capital ostenta uma das maiores indústrias de entretenimento para o público GLS na América Latina. São dezenas de bares, boates, saunas, cinemas e festas temáticas. Nos clubes, a convivência entre as tribos avançou nos últimos anos. Nas pistas, ouvindo o mesmo tipo de som, em um ambiente de alegria e êxtase, héteros revelam uma tolerância maior à presença gay.

Esse segmento do setor de diversões chega a funcionar em regime 24h, como alguma saunas e cinemas de sexo, com atividade mais intensa nas vésperas de feriados, quando a cidade recebe número maior de turistas, além de moradores da Grande SP e interior.

As megaboates são as principais impulsionadoras desse movimento de encontro festivo entre noctívagos de diferentes orientações sexuais. Atualmente, os grandes clubes buscam áreas industriais, principalmente na zona oeste, fora dos circuitos tradicionais (Jardins e Centro), onde há menos trânsito ou problemas com excesso de barulho e queixas da vizinhança.

Vistos no passado como chefes de um negócio marginal, os empresários bem-sucedidos da noite profissionalizaram sua gestão e adotaram discursos dos setores tradicionais da economia (como o "respeito ao consumidor", a "corrida pela qualidade" e a "função social" do seu negócio de gerar empregos e impostos). Hoje comandar um clube noturno virou um caminho para se obter fama, status e até influência política e econômica na região.

Antes vivendo na penumbra e em círculos restritos, algumas saunas e clubes de sexo começaram a se apresentar, criando sites e divulgando suas localizações - muitas instaladas em bairros nobres, de perfil discreto, como Higienópolis, Perdizes, Aclimação, Vila Mariana e Brooklin. Já os bares investiram em seus nichos de mercado e tentam sobreviver às fiscalizações e às queixas de condomínios sobre o excesso de barulho.

Folha Imagem
Na época da Parada Gay, lugares como o parque de diversões Playcenter promovem festas para gays, lésbicas e simpatizantes
Na época da Parada Gay, lugares como o parque de diversões Playcenter promovem festas para gays, lésbicas e simpatizantes

Entre os destaques das última temporada da noite, o público feminino ampliou sua visibilidade. Nos últimos anos, eclodiram mais festas e points para as meninas. As atrações também são mais ecléticas: o som não fica só no bate-estaca, há espaço para a música brasileira ao vivo, novos talentos do rock. Elas também evitam uma apologia exagerada à estética dos corpos sarados e são entusiastas da comida saudável, principalmente oriental e vegetariana.

Mas São Paulo também é o paraíso do sexo gay, uma cidade dos sonhos, das fantasias, dos desejos e dos prazeres. Aqui, tudo tem seu preço. Vale pechinchar. Nas ruas, a paquera é violenta, nos redutos do circuitão cor-de-rosa. Olho no olho. Olho na altura do abdômen. Olho no olho. Sorrisinho discreto. E crau, a isca fisgou o peixe, a ratoeira funcionou.

Ao redor de clubes e bares, funciona uma rede de motéis com o "M" disfarçado em "H" em seus letreiros luminosos. Nas calçadas, garotos de programas indicam diversas opções de hospedagem rápida nas redondezas. Muitos já combinam preços especiais com os donos desses estabelecimentos.

O michê mais barato da cidade custa R$ 5. Pode ser obtido em um cinemão chamado Sala São Paulo, ao lado da Galeria do Rock, no largo Paissandu, a uma quadra do cruzamento das avenidas Ipiranga e São João. Foi esse valor promocional que um garoto de programa fixou, reclamando da baixa freqüência de clientes. Ele conta que tem de sair por dia com seis homens para obter por R$ 60, quantia necessária para que ele pague seu aluguel e sobreviva.

Em saunas na região central de São Paulo, profissionais cobram R$ 50 por uma transa e R$ 30 por uma massagem ou "brincadeira", como eles costumam dizer.

Em sites de acompanhantes que atuam na cidade, uma visita com uma hora de duração custa a partir de R$ 100, incluindo o gasto do rapaz com o transporte. A negociação é objetiva, com detalhes abertamente combinados entre as partes, como as posições sexuais autorizadas e os fetiches envolvidos (se for o caso).

Os banheiros públicos são points de intensa paquera, explícita troca de carícias e jogos sexuais de todos os tipos, em dupla, trio e até grupo. Shoppings centers, estações do Metrô, becos, escadas, passarelas, viadutos, tudo é uma arena para o flerte.

No Minhocão (como é conhecido o elevado Costa e Silva, considerado uma aberração de arquitetura urbana por muitos críticos), a presença gay eclode após a Companhia de Engenharia e Tráfego da cidade interromper o fluxo de veículos, bloqueando as rampas de acesso. De segunda a sábado, entre 21h30 e 6h30, e durante todo o domingo, o Minhocão é dos pedestres, ciclistas, famílias passeando com cães e gatos, ao longo de 3,4 quilômetros de extensão.

Na madrugada, noctívagos andam à procura de companhia, de drogas ou de sexo anônimo, sem compromisso.

Na praça da República, nos cinemões e cabines de sexo da rua Aurora, entre Vieira de Carvalho e av. Rio Branco, predomina a interação com o público de baixa renda e maduro.

Folha Imagem
Parque Ibirapuera, o mais famoso da cidade, é dos principais lugares de convivência e paquera gay na capital paulista
Parque Ibirapuera, o mais famoso da cidade, é dos principais lugares de convivência e paquera gay na capital paulista

Meninas lésbicas e roqueiras gostam de andar pela rua Augusta, principalmente entre a avenida Paulista a rua Peixoto Gomide. Na rua Frei Caneca, encontra-se de tudo. Na rua Haddock Lobo, esbarra-se com a turminha mais fashionista.

Salas de exibição de filmes de arte, teatros alternativos, galerias de exposições, feiras culturais e museus seduzem os mais discretos, descolados e cultos. Vale também um bom passeio por lojinhas, bares e restaurantes da Vila Madalena (caminhe pelas ruas Aspicuelta, Inácio Pereira da Rocha, Fradique Coutinho, Fidalga, Girassol e Harmonia).

Para quem prefere pegar o carro e explorar a noite, o roteiro inclui as avenidas ao redor do parque do Ibirapuera, como a República do Líbano, a Alameda Santos, no trecho que corta o Trianon, na esquina com Alameda Casa Branca. Na região do Copan, no centro, a prostituição gay e transex acontece nas calçadas das ruas do Arouche, Rego Freitas, Bento Freitas e Marquês de Itu --travestis costumam ficar também na rua Amaral Gurgel, próximo da faculdade Mackenzie.

O perigo mora em todos os points da cidade. Não há só riscos de roubos ou humilhações. De violência física também. A solidão grita até em ambientes aparentemente animados. E a energia sexual fala mais alto na terra de todos os pecados.

FolhaShop

Digite produto
ou marca