Colunas

Diário, Depressão e Fama

24/04/2006

O que você me diz, parte 4D

Sabe quando você se sente útil e querido? E precisa deixar claro que usa certas pessoas porque são espertas e engraçadas (portanto, também úteis e queridas), e não apenas porque se deprime de vez em quando?

"Morri de rir! É compreensível: sou jornalista e lésbica. Não gosto muito de títulos porque tiram nossa liberdade de escolha, mas tudo bem. É por aí. No mais, só no chope porque senão perde a graça, a gente não vai ter o que conversar! Ah! Sua mulher está convidadíssima!" (R.)

"Li seu artigo, pois ando pesquisando sobre a Bruna Surfistinha e gosto de ler a respeito. O artigo é quase como os outros: tenta falar sobre algo mas não consegue. Tem uma coisa que aprendi, nesta vida: quando não há nada para falar, é melhor não falar nada. Abraço." (Rynaldo)

"'A peste do frango: sua hora chegou' é muito bom mesmo. Vou ficar ligado quando você colocar um texto no ar. Aproveitei e li o artigo de Natal. Gostaria de lhe apresentar o blog http://www.malditoseja.weblogger.com.br. Talvez encontre alguma coisa por lá." (Ismael)

"Obrigadíssima pelo anúncio do 'Jaulas vazias' na coluna. Se lessem jornal, os animais agradeceriam. Também adoro texto de pára-choque de caminhão e piada baixa: pela criatividade, e não exatamente pela 'mensagem', né? Acho que você não vai receber e-mails lhe passando pito, não. Já bastam os fundamentalistas islâmicos quebrando embaixada por causa de charge em jornal. Gostei da sua mistura de assunto alto e baixo, sério e esculhambado, no mesmo texto: livro de Nobel, livro de filósofo pelos direitos animais, adesivo militante, piada suja, samba-enredo etc. Bem Bahktin, carnavalização, aquelas coisas, né? Nada mais adequado a uma coluna publicada em pleno carná." (Regina Rheda, escritora brasileira radicada no EUA, a caminho da fama)

"... artigo de sua autoria no Equilíbrio dessa semana. Ganhou mais uma fã." (Carla)

"O mal entre os jovens daqui (EUA) não é apenas a depressão, mas muita coisa louca que está acontecendo. A última que me chocou foi o uso de tecnologia transformando crianças em objetos sexuais de predadores na internet. Nunca senti tanta revolta. Acho que você tem razão quando fala de vocação. Nunca vi tanta gente perdida! Conheço o trabalho do Arrigo Barnabé. Achei super interessante você fazer música com ele. Que ótimo o que você me falou sobre o PAM, que escreveu e gravou com Breim e Zein. É só para a escola em que leciona ou algo a que outros professores possam ter acesso? Uso música brasileira nas minhas aulas e os alunos amam. Seleciono a música pelo nível de dificuldade. Entrei na internet e li sobre o PAM -- super interessante! Eu adoraria ter acesso ao material! Tenho lido seus artigos. Adorei o da Carolina Dieckmann! Você escreve bem demais! Vi sua foto; agora você não é um desconhecido!" (Adelaide)

"Moro em BH e admiro o seu trabalho, que não conhecia. Tomei conhecimento no livro sobre a vida da Cássia Eller, 'Apenas uma garotinha', e resolvi pesquisar mais. Agora me considero sua fã. Se puder me informar sobre outros trabalhos, ficarei agradecida. O CD 'Cássia secreta' está disponível no comércio?" (Carolina)

"Gostaria de pedir desculpas pelos erros que eu possa cometer, o que pensando bem me contradiz, pois escrevo justamente para parabenizá-lo por sua matéria do dia 13/02 sobre certas ocasiões em que tais erros são permitidos. Achei interessante você ter valorizado a linguagem descomplicada da Surfistinha e mostrado que há público para linguagens mais simples. Estou no primeiro ano de jornalismo na Universidade Metodista de SP. O assunto das duas últimas aulas foi a linguagem que devemos usar nos textos jornalísticos, e muitos colegas, até eu, ficamos um pouco perdidos sobre qual adotar. Indiquei sua matéria a professores e alunos para mostrar que há momentos em que o certo é o errado e que, sim, ele faz sucesso. Ficarei muito feliz se responder. Entenderei que meu e-mail lhe interessou." (Giuliana)

"Você é nazista? Li seu texto na Folha Online sobre a Surfistinha --na verdade não consegui ir até o final-- e quase vomitei. Como essa mídia nativa consegue ser tão elitista? Você é um porco com alma nazista. Em um país que tem a segunda pior distribuição de renda do mundo, o que você queria? Se conseguiu chegar a ser professor agradeça muito. Essas pessoas que lhe causa nojo conseguiram ter sucesso sem condições básicas de tê-lo. Mas devemos bater palmas. Eles não são culpados e nem obrigados a falarem bem a sua língua e nem outra. O fato é que você vive de escolher literatura para porcos como você. Elite. Que merda!" (Guilherme)

"Brilhante a coluna 'Bruna Surfistinha e Ramon, o revisor amoroso'. O fato de essa ex-prostituta ter um livro publicado e ele ser o segundo mais desejado, mostra a ignorância da população e o seu interesse por assuntos banais. É incrível como essa mulher ficou famosa. Sou estudante de Administração de Empresas e faço estágio na Telefônica. E aulas de inglês e natação. Busco o meu 'lugar ao sol'. Fico indignada quando percebo que batalhar nem sempre é o suficiente, e me deparo com um presidente tão pouco preparado e pouco adequado para o cargo. E quando li o que Ramon escreveu, vi que definitivamente as pessoas que deveriam ler suas colunas não as lêem. Pergunto-me: como atingi-las? Acredito que seja uma tarefa árdua, pois os brasileiros se perdem em fatos de pouco conteúdo. A ignorância leva a ela mesma. Fazer o que? Tenha certeza de que me tornarei uma leitora fiel." (Renata, 21)

"Adorei a matéria sobre Dom Quixote, eruditíssima. E amei a forma elegante com que discorreu hoje sobre a Surfistinha. O texto gentil sobre Ramon está sensacional. Quanto ao que diz sobre os professores, é doce para meus sentimentos -- vou levar para o PROLER, posso?" (Sônia Bruno, a poeta)

"Quero agradecer-lhe, imensamente, pelas gentis palavras que me dedicou na última coluna. Logo nesta segunda-feira, que eu havia acordado bem 'tristinho', quase deprimido, suas palavras caíram-me como um bálsamo. Sei que, agora, podem dizer que não terei mais imparcialidade pra falar sobre você, pois poderia estar ocorrendo uma simultânea troca de favores -- dois sujeitos muito chatos, elogiando-se mutuamente." (Ramon, o revisor amoroso)

"Foi o próprio Ramon quem me repassou o texto, com os comentários dele. Quando nos encontramos, as discussões versam, invariavelmente, sobre os mesmos temas: o propósito da vida; o quanto somos débeis mentais (e o quanto tantos outros são mais débeis ainda do que nós); porque a vida é um ônus e não um bônus; se nossas preocupações (com a vida) devem ou não ser alimentadas; porque o simples fato de existir pode nos causar dano pela ação im(pensada) de terceiros; porque apesar de acharmos o ser humano vil e a sociedade 'um projeto falido', continuamos a discutir o tema; porque precisamos continuar lendo Hermelino, Calligaris, Schwartsman, Saramago, Mário Prata, João Ubaldo Ribeiro. Enfim, temas de uma polêmica que nunca se encerra e cuja solução jamais alcançaremos. Se isso causa depressão? Decerto. Se vale a pena? Não há duvida!" (Léo, da turma do Ramon)

"Ramon, cá estou curtindo o meu carnaval; longe dos foliões, da axé music, de suores corporais não-inaláveis, de serpentinas, de rompantes de alegrias sem graça forjadas à custa de farsa e estupidez. Hoje, pela manhã, terminei de ler, a duras penas, o livro de Frei Betto, 'A mosca azul'. Nunca tive grande admiração pelo autor, até porque não lera nada dele até então. Admirava-o meio que por inércia, porque defende uma causa que julgo legítima. Uma admiração fraca e, admito, leviana. O livro, todavia, é muito ruim. Em alguns momentos, parece-me transbordar a desonestidade intelectual do esquerdista que pensa que o mundo define-se apenas pelo ângulo trivial de sua pauta de boas intenções. Agora percebo nestes discursos, que considero cada vez piores (talvez me esteja tornando direitista!), um simplismo doentio, uma profusão de lugares-comuns típicos de estórias de fábulas. Quem são essas pessoas? Nefelibatas inconseqüentes, quando não desonestos mentirosos? Onde fica a História na perspectiva dessa gente? E o que dizer da 'natureza' do homem e a sua inegável propensão de se apropriar de tudo o que lhe cerca, tomando-o, não digo como seu, mas como 'só' seu, excluindo todos os demais? Elas nunca oferecem resposta clara para isso, tergiversam, não enfrentam o debate. Se tivermos que pressupor a mudança da natureza intrínseca do homem, que passaria a ser bom por índole própria, então, parece manifesto, o socialismo seria inútil. E por quê? Ora bem, porque segundo essa ótica, o bem adviria por força de leis necessárias. Pimba! Para não parecer que sou injusto, afirmo que há, no livro, excertos bem escritos, de estilo literário quase poético, embora isso seja acidental. Entrementes, o que me aflige são as idéias veiculadas e o modo de as defender. Dou um exemplo de exercício de cretinice intelectual, que extraio da página 260, in verbis: 'A formação religiosa, se dotada de força de conversão, modifica hábitos pessoais, elimina vícios, aprimora virtudes, incute valores e alarga o horizonte ético. Mas não induz necessariamente à crítica estrutural da sociedade. Antes, adequa melhor o convertido aos valores vigentes na ordem social. E nem sempre são valores positivos, como é o caso da competitividade, antagônica ao preceito evangélico da solidariedade'. Não sou você, por essa razão, não serei chato para dizer que o autor cometeu um erro brutal ao utilizar o verbo 'adequar' na terceira pessoa do singular do presente do indicativo, quando essa forma não existe porque o verbo é defectivo. Quero chamar a atenção para a afirmação do final da transcrição, onde se diz que a competitividade é um valor negativo e contrário ao valor positivo, de caráter evangélico, da solidariedade. Não há uma só linha que justifique uma afirmação dessa estirpe! O escritor sente-se em boa sombra para dizer uma coisa dessas sem ter que dar a menor satisfação de seu pensamento ou apontar onde estariam, não digo as provas, mas as evidências históricas, sociológicas, do alegado. Porra, é foda! É óbvio que se ataca a competitividade porque ela é inerente ao Capitalismo, enquanto a solidariedade, supostamente, seria ínsita ao Socialismo. É isso que chamo de desonestidade intelectual. Se não fosse a competitividade, o desejo tão propriamente humano de sair de onde se está e galgar um degrau a mais, e outro, e outro, provavelmente o autor teria escrito suas palavras nas paredes de cavernas, para depois ser comido pela primeira besta-fera ou mamute que aparecesse. Por que negar que a competitividade, o afã de ir além, legou-nos o mundo em que vivemos, a civilização, o progresso? Isso não conta? O cristianismo, por sua vez, não teve que 'competir' com as centenas de religiões que existiam à época de seu surgimento e só se afirmou na medida em que se espraiou pelo mundo, capturando consciências, dando um retumbante exemplo de eficaz processo de globalização muito antes de o Capitalismo surgir como idéia? Outro problema que pode ser visto no fragmento, é a vinculação entre a idéia de solidariedade e uma visão evangélica das coisas. Ou seja, a solidariedade seria um preceito positivo cuja dignidade é atributo autêntico dos que professam alguma perspectiva teísta da existência. Você, por exemplo, que é um filho da puta ateu, jamais poderia invocar para si a manifestação veraz de tão virtuoso princípio. Não importa o que você faça, efetivamente, do seu dia-a-dia; não importa que registre a CTPS de sua empregada e lhe pague o salário mínimo; não importa que não trate o seu porteiro a patadas, como muitos fazem depois de voltar das missas aos domingos. Parece-me um truísmo a afirmação de que a solidariedade é um valor que existe independentemente de eventual inclinação religiosa ou mística (não nego que tenha surgido e se expandido como valor cristão primordialmente!). A não ser, é claro, que a moral não exista fora do religioso. Há quem defenda, abertamente, semelhante idéia? Com autores dessa estirpe em suas fileiras, não me soa estranho o fracasso retumbante, até hoje, pelo menos, da causa socialista. Abraços fraternos, mas não evangélicos." (Túlio, como Léo, amigo de Ramon, e outro com aquela verve e inteligência nordestinas que demonstram que nem sempre "prolixo, pro lixo", como quer um poeta do sul.)

"Sou Túlio, o amigo de Ramon. Ele lhe enviou uma cartinha minha, sem que eu soubesse. Não há problemas! Você pode publicar os trechos que desejar, desde que, por favor, não sejam aqueles, digamos assim, mais duros, de linguagem mais rasteira. Identifique-me, se for o caso, apenas por Túlio. Quando o descobri como articulista, comuniquei o fato ao Ramon. Ficamos, ambos, seus fãs. Temos algo em comum: a depressão!" (Túlio, amigo de Ramon, o missivista articulista da citação anterior, fazendo-me novamente pensar que deprê serve pra alguma coisa. Túlio, sinto, não consegui suprimir a linguagem rasteira: ela está bem colocada, expressivamente. Você sabe, em alguns momentos, só um palavrão.)

"Hummm... como começar... do começo! Ontem eu tava muito entediada no trabalho e fiquei procurando todas as coisas possíveis na Folha Online... então, me deparei com a sua coluna e claro, li... Aí resolvi ler as anteriores, desde o começo... 'Praia com chuva', e não parei... como eu não tinha muitas coisas pra acertar, fiquei lendo até a hora de ir embora... eu ri tanto... Mandei 'Deprê é bom pra quê?' pra minha amiga que está saindo de uma crise depressiva à base de medicamentos e terapia. A parte mais importante da coluna foi a citação por uma das leitoras da entrevista de Randolf Nesse: perfeito! Pensei em tantas coisas pra escrever, que dariam horas de email... (eu me perguntei se não deveria escrever colunas também... sem pretensão de ser famosa nem, nada... se bem que eu tb gostaria de ser... às vezes... porque eu sempre escrevo para um grupo de amigas algumas coisas bobas, pra entretenimento delas, pq eu sou a boba da turma mesmo... mas às vezes saem coisas produtivas que geram certa discussão... ), mas se eu escrevesse tudo, seria uma sessão de terapia... e você não ganha pra isso, né?" (Ana)

Sabe quando você tem a impressão de ter tocado as cordas certas e o som que vem é tão harmonioso que mesmo as esbarradas nas cordas erradas não sujam o resultado final?
Hermelino Neder é compositor e professor de música. Venceu vários prêmios nacionais e internacionais por suas trilhas sonoras para cinema. É doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP. Tem canções gravadas por Cássia Eller e Arrigo Barnabé, entre outros.

E-mail: nederman@that.com.br

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