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Futebol & Cia.

02/05/2002

Presa fácil?

MÁRCIO SENNE DE MORAES
colunista da Folha Online

Um casal de amigos que casa amanhã deu um grande churrasco de despedida de solteiro ontem, no qual tive a oportunidade de encontrar velhos amigos (que não via havia muito tempo). E, logicamente, o clássico entre Corinthians e São Paulo foi assunto obrigatório em várias conversas acaloradas.

Pati, uma são-paulina de longa data, me garantiu que a partida terminaria 3 a 0 para o Tricolor. Rico, são-paulino doente, e Maurão, outro fanático pelo Tricolor, queriam até me convencer a ir ao jogo. "4 a 1", diziam sem pestanejar.

Já Fabiano, corintiano "de nascimento e de criação", só me disse que seu Timão passaria para a final da Copa do Brasil. Não quis arriscar resultado, mas afirmou que o São Paulo talvez ganhasse por um gol de diferença. E não é que o mais comedido dos prognósticos foi o correto...

Razões não faltam para explicar o fracasso são-paulino e o triunfo corintiano na semifinal da Copa do Brasil. Mas é irrefutável que a crise interna que tomou conta do Morumbi desde a eleição do novo presidente do São Paulo teve uma influência crucial sobre o desfecho da disputa.

Afinal, tanto o futuro ex-técnico do São Paulo, Nelsinho Baptista, quanto seus comandados mostraram ter sentido o baque na primeira partida. Não adianta inventar outras desculpas, pois a incerteza sobre o futuro do comando técnico da equipe desnorteou os são-paulinos no primeiro jogo.

Todavia, por si só, isso não explicaria a flagrante superioridade corintiana. O time comandado por Carlos Alberto Parreira é, sim, melhor que o São Paulo atualmente. Não que tenha melhores jogadores numa comparação posição por posição, mas porque seu conjunto é mais coeso.

Vejamos. Dida tem feito ótimas partidas, porém não é superior a Rogério Ceni. A zaga corintiana, mesmo desfalcada de Scheid, continua a mostrar segurança, o que, de forma nenhuma, pode ser dito da defesa são-paulina. Esta, mesmo com a aquisição por empréstimo de Émerson, não consegue se acertar e demonstra uma fragilidade inexplicável.

O meio-campo do Corinthians é bem mais sólido apesar de Vampeta não estar brilhando individualmente. O do São Paulo tem lampejos extraordinários, mas some quando a coisa pega, além de não ajudar a zaga. O mesmo vale para seu ataque, que, apesar de ser o mais positivo do ano, não consegue concretizar as chances que aparecem durante os jogos decisivos.

Tudo isso para dizer que, apesar da falta de tato inicial, a nova diretoria são-paulina talvez tenha razão em querer trocar de treinador. Afinal, falem o que quiserem de Parreira, ele realmente acertou as coisas no Parque São Jorge, o que Nelsinho não conseguiu realizar no Morumbi.

Para o futuro ex-técnico do Tricolor, faltou mais personalidade para impor seu estilo de comando e para fazer com que os jogadores entendessem seus ensinamentos. Ontem o São Paulo foi um pouco melhor que na semana passada, contudo, ainda assim, mostrou-se desencontrado, sem uma linha de jogo definida.

Já o Timão não jogou tão bem quanto na última semana, mas também não precisava. Desde o início, mostrou que tinha uma tática de jogo bem clara e a manteve durante toda a partida. Parreira, cujo "retranquismo" de 1994 já critiquei em colunas anteriores, demonstrou amadurecimento e discernimento, apostando nos três atacantes e apoiando novos jogadores.

Assim, Futebol e Cia. faz questão de salientar hoje o ótimo trabalho de Parreira. Este, aliás, não conta com uma diretoria das mais virtuosas, mas isso não faz grande diferença quando o talento e a personalidade do treinador combinam com as características de seus comandados.

Só resta uma ressalva: após eliminar o Fluminense e o Atlético-MG, o Brasiliense merece respeito e não pode ser tratado como presa fácil. Afinal, o ex-senador Luiz Estevão, homem-forte do Brasiliense, deve elevar ainda mais os já vultosos bichos dos jogadores. E, como todo mundo tem o direito de querer 15 minutos de fama, por que não lutar por mais 180 de bom futebol?

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Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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