Colunas

Futebol & Cia.

09/05/2002

Futebol e política*

MÁRCIO SENNE DE MORAES
colunista da Folha Online

No futebol, como na política, toda história tem dois lados, todo fato tem duas interpretações que, devido ao caráter passional de ambos, são geralmente distintas. Na política, como no futebol, cada um defende seus argumentos à exaustão, cada lado sustenta suas posições "até a morte".

Na política, como no futebol, há injustiças, como a derrota do competente ex-premiê francês Lionel Jospin no primeiro turno da eleição presidencial para o truculento líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen ou as derrotas da seleção brasileira em 1982 e da holandesa em 1974.

No futebol, como na política, há dúvidas que jamais são esclarecidas, denúncias que jamais serão investigadas. Vejamos o que essas constatações dariam se transpostas para o Corinthians e Brasiliense de ontem.

Versão do torcedor do Corinthians

"Polêmica é coisa de palmeirense, que não tem nada pra fazer antes da Copa, ou de são-paulino, que não aguenta mais tomar nabo do Timão. Só concordo que o cara não estava impedido no primeiro tempo, mas o lance foi tão rápido que não dá nem prá culpar o bandeirinha. E, além disso, o Dida defendeu o chute do cara..."

"Nos dois lances que causaram tanto fuzuê ontem, não houve nada. Primeiro, no lance do segundo gol do Deivid, o Gil estava olhando prá bola e nem viu a chegada do zagueiro, que, aliás, tropeçou nele. No suposto pênalti para o Brasiliense, o atacante deu um pulo ridículo prá tentar enganar o juiz. E o Anderson quase não tocou nele."

Versão do torcedor do Brasiliense

"É brincadeira como meteram a mão na gente ontem no Morumbi. Foram quatro lances claros, que mudaram a história do jogo. O impedimento marcado no primeiro tempo foi um absurdo, como o próprio tira-teima mostrou. Não é possível que o bandeira não tenha visto!"

"Já no segundo tempo, foi um festival. Primeiro, o Anderson dá uma porrada no Wellington Dias e não toma o segundo amarelo. Depois, teve a falta clara do Gil no Tiago, que o Simon, que, vergonhosamente prá nós, vai prá Copa, não marcou."

"E, finalmente, houve o pênalti clamoroso no Carioca que ele também não marcou. É impressionante como todo mundo tem uma carta na manga contra a gente!"

.........................................................................

É, realmente é impressionante como, no futebol, como na política, muitos acreditam que todo mundo tenha uma carta na manga nesse nosso Brasil "varonil". Se isso for verdade, então Luiz Estevão terá de mostrar a sua na próxima quarta-feira, o que, para o futebol brasileiro, seria lamentável.

Mas ainda pior é a suspeita de que isso também ocorra na política. Afinal, contra a Roseana, a carta não demorou muito a sair da manga (não que ela fosse inocente...). Agora, tem gente que já está dizendo que foi o PSDB que "fritou" o Serra porque sua candidatura não decolava.

Bom, isso sem mencionar a política dentro do futebol, pois o presidente da Fifa, Joseph Blatter, está no centro de uma série de escândalos. Se, separados, os dois já se complicam. Juntos, então, futebol e política são uma das mais explosivas misturas. Vide Eurico Miranda...

*Inspirado em "Sexo e futebol", de Luiz Fernando Veríssimo (sem veleidade de imitar seu talento...)

Clique aqui para ler as colunas anteriores e aqui para voltar à página de Esporte.

Em alta
Tim Duncan e a competente equipe do San Antonio Spurs, que bateu o Los Angeles Lakers por 88 a 85 anteontem. Duncan, além de ser o cestinha com 27 pontos e de ter obtido 17 rebotes, recebeu o prêmio de melhor jogador da temporada regular antes da partida. Apesar de toda a sua força, Los Angeles que se cuide.
Em baixa
Toda a politicagem em torno da disputa pela presidência da Fifa. Se houvesse um título para o órgão internacional, público ou privado, que só fez piorar nos últimos anos, a Fifa seria forte candidata. Agora é a vez de Michael Zen-Ruffinen, ex-braço direito de Blatter, que denuncia graves irregularidades na entidade.

No mundo
Destaque para a vitória de 3 a 2 do Feyenoord sobre o Burussia Dortmund na final da Copa da Uefa. Foi o segundo título da equipe de Roterdã, que já havia vencido em 1974. Na semana que vem, ocorre a final da Copa dos Campeões da Uefa, Real Madrid contra Bayer Leverkusen. Programa imperdível para os fãs de futebol.
Nos EUA
Destaque para o armador Jason Kidd, do New Jersey Nets, para muitos, o injustiçado MVP deste ano. Após uma batalha extraordinária contra o Indiana Pacers, do excelente Reggie Miller, na primeira rodada dos playoffs, Kidd comandou os Nets nas duas primeiras belas vitórias contra o Charlotte Hornets. É um craque.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca