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Futebol & Cia.

30/05/2002

Agora vai

MÁRCIO SENNE DE MORAES
colunista da Folha Online

Nesta véspera da abertura da Copa do Mundo, impossível não falar das perspectivas de cada equipe. Sem fugir à responsabilidade (ou à tentação) de buscar prever o desfecho da disputa em cada grupo, Futebol & Cia. faz aqui seu "bolão pré-Copa".

No Grupo A, que abre o Mundial amanhã, com França e Senegal, os atuais campeões do mundo são, em tese, favoritos absolutos. Porém a recente contusão do extraordinário meia-atacante Zinedine Zidane e a ausência do craque Robert Pires nos gramados asiáticos colocam em dúvida esse favoritismo.

Tudo depende do jogo de estréia. Se encontrarem seu melhor jogo e conseguirem bater os aguerridos senegaleses sem dificuldades, os franceses deverão dar muito trabalho na Copa.

Mas, se o Senegal, dos ótimos El-Hadji Diouf (atacante do Lens, da França, que deve se transferir para o Arsenal após a Copa) e Khalilou Fadiga (meia do Auxerre, também da França), conseguir complicar a partida de estréia dos atuais campeões, talvez a segurança dos franceses fique minada. E, atualmente, muito do favoritismo francês advém da segurança e da confiança de seus jogadores.

Mesmo assim, a jovem equipe senegalesa tem poucas chances de passar às oitavas-de-final. Com isso, a segunda vaga deverá ser disputada pela Dinamarca e pelo Uruguai. Levando em conta a pífia campanha uruguaia nas eliminatórias e a fragilidade de seu meio-campo, os dinamarqueses levam vantagem na disputa pela vaga.

Afinal, Álvaro "El Chino" Recoba é craque, mas não é mágico. E, atuando ao lado dos supervalorizados (mas limitados) Magallanes e Darío Silva, ele deverá ter grande dificuldade em fazer tabelas e em achar um jogador que acompanhe seu ritmo de jogo. Ademais, a Dinamarca tem um time acertadinho, no qual se destaca o oportunista atacante Ebbe Sand (Schalke 04, da Alemanha).

O Grupo B tem na Espanha seu grande favorito. Com os extraordinários Valerón (La Coruña) e Baraja (Valencia) no meio de campo, além de Mendieta, da Lazio, que busca recuperar a reputação que tinha quando atuava pelo Valencia, a Fúria é forte candidata a chegar às finais do Mundial. Ademais, Raúl (Real Madrid) e Tristán (La Coruña) são dois dos melhores atacantes do torneio.

A bela (mas inexperiente) equipe eslovena, na qual se destaca o habilidoso meia-atacante Zahovic, do Benfica, e a defensiva (mas competente) seleção paraguaia deverão disputar a segunda vaga. Mais uma vez, a África do Sul, da eterna esperança Benny McCarthy, fará papel de figurante. Não deverá conquistar nenhum ponto na Copa.

O grupo C é o mais fácil da primeira fase do Mundial. O Brasil é favorito e, novamente em tese, não deverá ter nenhum problema para ganhar com facilidade de seus três adversários. Todavia, sinal dos tempos (!!!), não arrisco dizer que a seleção de Luiz Felipe Scolari obterá três goleadas. Deveria, mas provavelmente não venha a fazê-lo.

Afinal, não bastasse o esquema tático com três zagueiros privilegiado por Felipão, nossos atacantes (exceto Ronaldinho Gaúcho) não estão no melhor de sua forma física ou técnica. Se o joelho de Rivaldo aguentar e se, por milagre, Ronaldo Fenômeno reencontrar seu jogo, tudo será possível. O "se", contudo, nunca foi boa coisa numa Copa.

A julgar pelo retrospecto de seu futebol nos últimos tempos em campeonatos europeus, a seleção turca não deveria encontrar dificuldade em abocanhar a segunda vaga. No entanto a equipe decaiu muito na última temporada, e seu maior craque, Hakan Sukur, está em péssima fase após ficar no banco da Inter de Milão e de não ter conseguido firmar-se no Parma.

Por outro lado, a fragilidade da China e a da Costa Rica não deverão ameaçar a esperança turca. Aliás, se conseguir marcar gols na Copa, a China já deverá ficar contente, pois o nível técnico dos poucos atletas chineses que atuam na Europa, como os atacantes Xie Hui (Alemannia Aachen) e Yang Chen (Eintracht Frankfurt), é baixíssimo.

No Grupo D, a lista dos classificados poderá apresentar uma surpresa: a Coréia do Sul, que, além de jogar em casa, tem futebol e disciplina tática para "roubar" a vaga que, teoricamente, deveria ficar com a Polônia.

Esta, com problemas internos por causa da presença do nigeriano naturalizado polonês Olisadebe (a imprensa internacional fala de preconceito e de racismo), deverá ser a grande decepção desse grupo. Os EUA, por sua vez, embora tenham sua melhor equipe dos últimos três Mundiais, não deverão causar grandes surpresas.

Já Portugal, mesmo prejudicado pelas recorrentes contusões dos extraordinários meias Luís Figo (Real Madrid) e Rui Costa (Milan), é um dos grandes times da Copa. Se não "tremer", a equipe lusitana tem tudo para chegar às semifinais (no mínimo).

No Grupo E, Camarões tem totais condições de protagonizar a maior surpresa da primeira fase do Mundial. Afinal, os atuais campeões olímpicos e africanos contam com uma formação que já joga em conjunto há um bom tempo e com atletas de altíssimo nível técnico.

Entre eles se destacam os atacantes Patrick M'boma (do Sunderland, da Inglaterra) e Samuel Eto'o (do Mallorca, da Espanha) e o meia Marc-Vivien Foe, campeão francês pelo Lyon (do esquecido Juninho Penambucano). Com isso, Camarões deve beliscar o primeiro lugar, que, pela tradição, deveria ficar com os alemães.

A esquadra alemã está longe de ser a grande equipe (de Mathäus, Klinsmann e companhia) que punha medo em qualquer adversário até o início da década passada. Ademais, com o talentoso Deisler e com os zagueiros Nowotni e Wörns fora da disputa por conta de contusões, o time do técnico Rudi Völler corre o sério risco de complicar-se na primeira fase.

A favor dos alemães, há a ausência de Roy Keane, o capitão do Manchester United, na seleção irlandesa. Era o único jogador de melhor nível da equipe, que terá de apostar tudo no conjunto e na aplicação tática. Embora participe de sua terceira Copa consecutiva, a Arábia Saudita não deverá dificultar para ninguém (talvez para a Irlanda, quem sabe?...)

O Grupo F, o "grupo da morte", é aquele no qual qualquer prognóstico é fadado a ser modificado no andamento do torneio. Ninguém se surpreenderia demais se, na primeira rodada da primeira fase, a Nigéria obtivesse uma consagradora vitória sobre a Argentina, como fez no último Mundial contra a Espanha, ou se a aguerrida Suécia batesse a tão decantada Inglaterra.

Trata-se de jogos em que o favoritismo pode prevalecer, mas surpresas não devem ser descartadas. Afinal, há muito tempo, a Nigéria vem apresentando um bom futebol e, se não fossem as brigas internas que assombram sua delegação, já poderia ter obtido resultados mais expressivos em Mundiais.

A Suécia, por sua vez, conta com o excelente meia-atacante Fred Ljungberg (do campeão inglês, Arsenal) e com o oportunismo de Henrik Larsson (do Celtic, da Escócia). É uma equipe muito bem montada, mas carece de mais talentos individuais. Mesmo assim, pode complicar para os dois grandes favoritos do grupo: Argentina e Inglaterra.

Estas, com craques do quilate de Verón, Crespo, López, Batistuta etc., do lado argentino, e Beckham (voltando de grave contusão), Owen, Fowler e companhia, do lado inglês, dispensam comentários.

O Grupo G tem a Itália como grande favorita, mas também poderá apresentar surpresas, visto que a Azzurra não costuma fazer boas campanhas na primeira fase da Copa. É verdade que, com um meio de campo e com um ataque de alto nível, os tifosi têm tudo para comemorar a passagem para a segunda fase já na segunda rodada. Totti (Roma) deverá ser o grande destaque da equipe, que ainda conta com o talento de Alessandro del Piero (Juventus).

Creio que o México, o Equador e a Croácia cheguem à Ásia em igualdade de condições para disputar a segunda vaga do grupo. Em tese, os croatas deveriam levar alguma vantagem, pois ficaram com a terceira colocação na França. Contudo a equipe croata é composta essencialmente por jogadores de idade avançada, como Davor Suker e Robert Prosinecki, e não deverá ter "fôlego" para chegar mais uma vez.

México e Equador possuem alguns jogadores de bom nível técnico e têm chance de surpreender até a favorita Itália. Se o veterano equatoriano Alex Aguinaga conseguir mostrar parte do futebol que apresentou nas eliminatórias, a seleção do Equador será forte candidata à vaga. O México tem o craque Blanco, que já mostrou seu talento na última Copa.

Finalmente, chegamos ao Grupo H, o do Japão. Mais uma chave indefinida, porém tudo indica que a Rússia e o Japão poderão ficar com as duas vagas. Os russos porque têm uma equipe experiente, em que se destacam os ótimos Mostovoi (meia) e Karpin (meia-atacante).

Os japoneses deverão ficar com uma das vagas porque, além de jogarem em casa, evoluíram muito nos últimos anos e não enfrentarão adversários de nível muito alto na primeira fase. Além disso, o instável (mas craque) Hidetoshi Nakata (Parma) poderá fazer a diferença.

A Bélgica é um time em franca decadência, sobretudo em virtude da ausência do habilidoso Émile Mpenza no Mundial. Só deverá bater a frágil Tunísia, que ganhará experiência nos gramados asiáticos, nada mais...

A partir de amanhã, Futebol e Cia. irá ao ar diariamente, com o título "Dia-A-Dia", com um formato especial para a Copa. Ademais, a coluna continuará a ser publicada em seu formato normal nas quintas-feiras.

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Em alta
A extraordinária equipe do Sacramento Kings, que vence o Los Angeles Lakers por 3 a 2 na final da Conferência do Oeste da NBA e já poderia ter fechado a série (não fosse uma miraculosa cesta de três de Robert Horry no último segundo da quarta partida). É, finalmente, os Lakers têm um adversário à altura.
Em baixa
A Fifa. Numa eleição em que ficou patente que leva quem tem mais a oferecer, o suíço Sepp Blatter bateu o camaronês Issa Hayatou, apesar das infindáveis denúncias que pesam sobre sua administração. Para piorar, Blatter disse que fará uma "devassa" na entidade (ou seja, tentará livrar-se de seus detratores).

No mundo
Destaque para o frisson provocado na França pela contusão do craque Zidane. Os franceses sabem que, com Zizou no comando da equipe, sua seleção é tão favorita quanto a poderosíssima Argentina. Sem ele, todavia, a França passa a fazer parte do grupo dos "quase favoritos", no qual estão o Brasil, a Inglaterra etc.
Nos EUA
Destaque para as finais da NBA. Tanto no Oeste (dos favoritos Lakers e Kings) quanto no Leste, só tem havido jogos fantásticos. O New Jersey Nets passou à frente do Boston Celtics ontem, mas ainda não garantiu sua vaga na final. Se Pierce e Walker repetirem as atuações da semana passada, Boston poderá surpreender.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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