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Futebol & Cia.

07/02/2002

Zobor, 3030

MÁRCIO SENNE DE MORAES
colunista da Folha Online

Planeta Zobor, 3030. Esse distante mas gigantesco ponto no firmamento é o último reduto de vida inteligente no universo. O esporte planetário desperta, é claro, a paixão avassaladora dos torcedores e a inesgotável cobiça dos dirigentes. Seu nome: zandor, que tem suas origens no remoto e selvagem futebol, um dia praticado no decadente planeta Terra.

Contudo, a exemplo do que contribuiu para a derrocada do rudimentar futebol, há algo de podre no reino de zandor. O chefe da Confederação Planetária de Zandor (CPZ), que a controla há mais de 200 anos, sente sua reeleição ameaçada pela primeira vez. Como precisa dos votos dos líderes das federações dos países zeons, que são liderados pelo riquíssimo Reino de Zeon, ele aceita proposta feita pelo chefe da federação zeoniana.

Este tem seus próprios motivos: presentear o rei de Zeon no dia de seu aniversário. Assim, propõe ao chefe da CPZ que consiga que a seleção de zandor do longínquo Reino da Zanana, considerada a melhor de todos os tempos, jogue na festa em troca de seu voto na eleição para a liderança da CPZ.

O chefe da CPZ, cuja reeleição nem está verdadeiramente ameaçada, não perde a oportunidade de assegurar os votos dos zeons. Para tanto, contata o líder da Federação Zananiana de Zandor (FZZ) e explica a situação. O astuto chefe da FZZ, que atravessa grave crise em seu país por conta de denúncias de corrupção, também não desperdiça a chance. Afinal, além dos 500 mil zandors (moeda planetária) que o amistoso pode render à sua federação, ele necessita do apoio da CPZ para continuar no cargo.

É, portanto, por essa razão que, pouco menos de três meses antes do mais importante torneio de zandor do planeta (que só ocorre de quatro em quatro anos), a outrora poderosíssima seleção zananiana enfrenta insuportáveis 30 segundos de teletransporte para jogar contra a equipe zeoniana no dia do aniversário do rei. Mal preparada, conquista uma vitória magra, mas não agrada ao público e, muito menos, a seus torcedores.

No Reino da Zanana, a preocupação só faz crescer, pois o importante torneio planetário se aproxima. Um coro cada vez mais forte pede a saída do treinador ou a convocação de estrelas por ele preteridas, mas nada muda até o início da disputa. Esta reserva poucas glórias à cambaleante seleção zananiana, que, há algumas décadas, joga amparada por conquistas passadas jamais renovadas.

Que bom seria se o planeta Zobor fosse efetivamente tão remoto no tempo e no espaço. Que bom seria se o esporte que deu origem a zandor não provocasse tanta comoção na Terra Brasilis, que ele fosse só um pouquinho mais levado a sério. Que bom seria se o Reino da Zanana não fosse uma "zueira", para continuarmos no "z".

Que bom seria se, a menos de três meses da Copa do Mundo, a preparação da seleção brasileira de futebol fosse bem organizada e desprezasse interesses menores. Que bom seria se nossa equipe nacional treinasse contra seleções ao menos relativamente expressivas. Que bom seria se ainda tivéssemos Telê Santana como treinador ou Paulo Machado de Carvalho como dirigente...

Aí, quem sabe, o futebol jamais perderia a primazia para o moderno mas frio zandor, do remoto planeta Zobor. Aliás, alguém pode explicar-me como esse distante mas gigantesco ponto no firmamento se tornou o último reduto de vida inteligente no universo?

Em alta
O excelente meia Roger, do Fluminense, que, no último domingo, no Morumbi, marcou o gol que Pelé não conseguiu marcar na Copa de 70. A jogada toda foi uma pintura, com o belo gol de Rogério Ceni, a emoção da comemoração dos são-paulinos (que asseguravam uma sofrida vitória naquele momento) e a presença de espírito do jogador do Fluminense. Sem dúvida, foi um dos mais belos gols da história do Morumbi.
Em baixa
O goleiro Dida. Novamente, mostrou-se inseguro na saída do gol e cometeu um pênalti ridículo num atacante saudita (sim, foi fora da área, mas o juiz também errou). Não são poucas as falhas de Dida com a camisa da seleção, porém ele não deixa de ser convocado. Quem não deve entender nada é Rogério Ceni, que continua a apresentar um excelente futebol para desgosto de seus detratores.

No mundo
Uma pena para o futebol mundial e para nós, brasileiros, que Roberto Baggio esteja praticamente fora da Copa do Mundo por causa de uma séria lesão no joelho. O único italiano que deve ter ficado contente com isso é Trapattoni, técnico da seleção italiana, que tinha com Baggio o mesmo problema que Scolari tem com Romário: um jogador experiente, mas pouco aplicado taticamente, que continua a jogar um bolão.
Nos EUA
Destaque para a vitória do New England Patriots na disputa do Superbowl. Se Parreira e Scolari acompanham futebol americano, certamente ficaram contentes. Afinal, foi a vitória da defesa sobre o ataque, do jogo tático sobre o virtuosismo e a criatividade. Não foi, contudo, desmerecido, pois qualquer time que vence os dois grandes favoritos na semifinal (Pittsburgh Steelers) e na final (Saint Louis Rams) de um torneio merece ser campeão.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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