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Futebol & Cia.

18/07/2002

Das necessidades de cada um

MÁRCIO SENNE DE MORAES
Colunista da Folha Online

No atual marasmo pós-Copa, diversos assuntos dominam a pauta esportiva sem que quase nenhum tenha grande importância. Quase porque uma vaga na Libertadores, o prêmio que receberá a equipe vencedora da Copa dos Campeões, não é algo desprezível, e o título da maior competição continental, que poderá ser conquistado pelo valoroso time do São Caetano, é um triunfo extraordinário.

Assim, o São Caetano, mais uma vez, é a única equipe do Estado de São Paulo com chances de ganhar um torneio de vulto. É verdade que o Palmeiras pode conquistar a tão sonhada vaga na Libertadores, mas o título da Copa dos Campeões em si não vale muita coisa. De qualquer modo, o segundo semestre só faz começar...

Com isso, vale analisar as chances e as esperanças de alguns grandes clubes. São Paulo e Corinthians protagonizaram a disputa mais acirrada da semana: quem fica com o pentacampeão Ricardinho. Ontem, após reunião entre os dois presidentes, o time do Morumbi desistiu do negócio. Contudo, segundo fontes mais ou menos seguras, o ótimo armador paranaense também não deverá ficar no Parque São Jorge. Afinal, privado do patrocínio da HTMF, o Corinthians precisa desesperadamente de dinheiro.

Para o time do Morumbi, o desfecho da novela foi particularmente duro, pois seus torcedores (e alguns de seus diretores) já davam como certa a contratação do meia corintiano. Cabe agora à nova diretoria são-paulina provar que tem outras balas na agulha para adquirir os direitos federativos de algum meio-campista que possa solucionar o crônico problema do time: a falta de um jogador criativo no setor, a ausência de alguém que chame para si a responsabilidade em momentos decisivos. Desde a saída de Raí, o São Paulo procura alguém assim. Talvez Robert, atualmente no São Caetano, fosse uma boa alternativa.

No Parque São Jorge, a situação pode ser difícil financeiramente, mas o técnico Carlos Alberto Parreira ainda conta com a base da formação mais vencedora do primeiro semestre do futebol brasileiro. Para os corintianos, uma coisa é certa: mesmo sem grandes investimentos, a equipe ainda assim deverá apresentar um futebol convincente nos próximos meses. O dedo de Parreira e a base do início do ano deverão garantir isso. É indiscutível que não se trata do "Timão dos sonhos" da Fiel, porém ele não é tão mau assim.

No Palmeiras de Wandeley Luxemburgo, a coisa parece menos promissora, mas os primeiros resultados do pós-Copa não são desprezíveis. O time já está nas quartas-de-final da Copa dos Campeões e, como no passado recente, poderá conquistar uma difícil vaga na Libertadores mais uma vez. Por outro lado, Luxemburgo tem razão quando diz que seu elenco de jogadores é limitado. Todavia, com Arce inspirado nos cruzamentos, com a volta de Lopes e com um pouquinho de sorte, a equipe poderá fazer bonito nas próximas competições.

O Santos se encontra numa situação deveras complicada. Não tem dinheiro para contratar jogadores nem para manter o melhores atletas de seu elenco. Robert, emprestado ao São Caetano, dificilmente voltará à Vila Belmiro. Segundo a imprensa da Baixada Santista, ele talvez não fique na equipe do ABC, mas seu retorno ao Santos é mais do que incerto.

No Rio de Janeiro, a coisa é ainda pior. Livre de Edmundo Santos Silva, o Flamengo quer iniciar um novo ciclo na história do clube, porém seus meios financeiros também são parcos, o que deverá impedir a contratação de jogadores de nome. No Vasco, cuja folha de pagamento inteira é de R$ 450 mil atualmente, a chegada de estrelas também já foi descartada. A única chance seria manter Romário, no entanto seu salário é quase tão elevado quanto toda a folha do time. Bom, como ele não recebe mesmo, talvez resolva ficar no lugar em que lhe querem bem...

Fluminense, Botafogo-RJ, Atlético-MG, Cruzeiro, Internacional-RS e Grêmio também sofrem dos mesmos males (com mais ou menos intensidade). E, em outros cantos do país, a situação é ainda mais grave no que se refere à penúria financeira e á falta de craques consagrados.

Tudo isso para dizer que, aparentemente, a única solução para as equipes brasileiras é apostar nas categorias de base. A experiência corintiana do primeiro semestre provou que isso pode dar frutos. O São Paulo, o Flamengo e o Vasco já lucraram muito com esse tipo de investimento no passado. O Santos tem em dois jovens atacantes "da casa" alguns de seus raros destaques atuais. A Ponte Preta e o Guarani já foram grandes celeiros de craques...

Senão há também a possibilidade de torcer para que a situação das redes de televisão melhore e que elas continuem a bancar o futebol brasileiro. Todavia, como mostra a experiência internacional, essa fonte não é inesgotável...

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Em alta
A bela equipe do São Caetano. Novamente, surpreende o establishment esportivo brasileiro e chega à final de uma competição importante. E como jogam direitinho os comandados de Jair Picerni! Não se desesperam ante fortes adversários e sempre mantêm o controle do jogo. Só falta agora a conquista do título.
Em baixa
A direção do futebol brasileiro, que marcou os jogos decisivos da primeira fase da Copa dos Campeões em horários diferentes. Vitória e Cruzeiro não fizeram um Argentina e Peru de 78, mas o 1 a 0 para os mineiros era o único resultado que desclassificava o São Paulo, o que, no mínimo, dá margem para dúvidas...

No mundo
Destaque para o ótimo ciclista americano Lance Armstrong, que, há pouco, venceu a primeira etapa de montanha da Volta da França e se mostrou forte candidato ao quarto triunfo consecutivo. A competição ainda está longe de estar definida, mas Armstrong provou para quem duvidava que ainda é grande.
Nos EUA
Destaque para o jogo das estrelas do basquete feminino profissional, que, mais uma vez, coroou Lisa Lesley como sua grande estrela. Não foi um jogo brilhante, porém deu para ver por que as americanas dominam o esporte atualmente. Vale a ressalva, porém, de que nossa Janeth cabia na seleção do Oeste.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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