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Futebol & Cia.

01/08/2002

Um mísero lance?

MÁRCIO SENNE DE MORAES
Colunista da Folha Online

Um lance. Um mísero lance. Podem um lance infeliz, um técnico exaltado demais, um árbitro rigoroso ao extremo e dois jogadores artistas demais mudar diametralmente o panorama de uma partida de futebol? Eis a pergunta que fica após a fatídica derrota do São Caetano na final da Libertadores, a terceira consecutiva na decisão de competições importantes.

O lance em questão é o que originou a expulsão do treinador do Azulão, o competente Jair Picerni, pouco antes do final da primeira etapa. O lateral Russo e um atleta do Olimpia disputavam uma bola anódina, perto do banco de reservas do São Caetano, sob o olhar atento de Picerni.

De repente, Russo dá um tranco desnecessário (pode um tranco jamais ser necessário?) no jogador paraguaio, que revida, tentando desferir um soco no adversário. Seu braço não atinge em cheio o atleta brasileiro, mal resvala seu corpo, porém Russo não perde tempo e, à la Rivaldo no primeiro jogo contra a Turquia no Mundial asiático, pula e finge ter sido atingido com violência.

Sabendo ou não que seu comandado fazia um teatro descabido, Jair Picerni dirige-se ao jogador paraguaio e o repreende com veemência, gesticulando e gritando. Em seguida, começa um fuzuê terrível, empurra-empurra, gritaria, troca de agressões verbais.

O árbitro, o ótimo colombiano Oscar Ruíz (que, ontem, teve uma atuação apenas correta), intervém e mostra, corretamente, o cartão amarelo a Russo e ao atleta paraguaio que tentara atingi-lo, Cáceres. Contudo, quando dá o vermelho a Picerni, ele exagera, pois, a dois minutos do final do primeiro tempo, poderia ter somente advertido verbalmente o treinador brasileiro.

Eis o lance que, de certo modo, definiu a partida de ontem. Não que um time não possa atuar bem sem ter seu técnico gritando no banco de reservas, mas o Azulão de ontem desmoronou após a exclusão de Picerni. Até então, o clube do ABC paulista não jogava bem, porém vencia por 1 a 0 e mantinha a partida sob controle.

Já na segunda etapa, privada de seu comandante (que, até ser expulso, não parava de gritar e de incentivar seus jogadores), a equipe de São Caetano desapareceu em campo. Sim, concordo com os que dirão que faltou um líder em campo ou com os que lembrarão que, contra o Vasco em 2000 ou contra o Atlético-PR em 2001, Picerni estava lá, e o Azulão ainda assim perdeu.

Concordo com os que afirmam que não há verdade absoluta (nem no futebol!) e que um time campeão não pode perder o rumo por conta de uma simples expulsão. Concordo, mas faço questão de lembrar aos esquecidos que o jogo foi outro no segundo tempo. Este, aliás, dispensa comentários (tal a dimensão da catástrofe que se abateu sobre o clube brasileiro).

Ao São Caetano, ficam os parabéns de Futebol e Cia. apesar da pífia apresentação de ontem. Como disse Paulo Roberto Falcão durante a transmissão da Globo, não é fácil ser campeão. Falcão, que viveu tantas glórias e amargou uma das mais duras derrotas do futebol brasileiro contra a Itália, em 1982, não poderia ter sido mais feliz em seu comentário.

São Caetano, o mundo dá voltas! Seu dia vai chegar...

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O time do Cruzeiro-MG, que, apesar de atravessar uma fase de renovação, chegou mais uma vez à final de um torneio nacional. Apesar de tudo, há luz no fim do túnel na Toca da Raposa.
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Gustavo Kuerten, nosso grande campeão, que vive um dos piores momentos de sua carreira. Nesta semana, abandonou na primeira rodada em Toronto e adiou um pouco mais seu "retorno".

No mundo
Destaque para a contratação de Rivaldo pelo Milan. O atleta brasileiro será muito útil à equipe milanesa, pois, com Rui Costa sempre machucado, seu meio-campo carece de um craque.
Nos EUA
Destaque para a sensacional enterrada da pivô Lisa Lesley, do Los Angeles Sparks, que se tornou a primeira atleta a enterrar uma bola na WNBA. Com 1,97 m de altura, ela é uma "gigante".

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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