Colunas

Futebol & Cia.

05/09/2002

Torci para a Argentina, quem diria?

MÁRCIO SENNE DE MORAES
Colunista da Folha Online

Hoje Futebol e Cia. trata mais da companhia que do futebol. Afinal, a Argentina fez história ontem à noite, em Indianápolis, ao bater os EUA por 87 a 80 no Mundial masculino de basquete. Foi a primeira derrota de uma seleção americana composta por atletas da NBA (liga profissional de basquete) em dez anos e 59 partidas.

O feito dos platinos foi histórico por vários motivos. Atuando com humildade e com enorme qualidade individual e coletiva, os argentinos mostraram aos todo-poderosos americanos que não basta mais enviar uma seleção de segunda categoria para subjugar adversários maravilhados, para quem, o simples fato de poder enfrentar o "Dream Team" já era uma honra.

É verdade que o "Dream Team" atual está muito longe daquele que realmente merecia esse apelido e que conquistou os Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. Não há mais a genialidade de Larry Bird, nem a inventividade de Magic Johnson, nem a combatividade defensiva de Scottie Pippen, muito menos a grandiosidade de Michael Jordan. Isso para citar só algumas das feras que encantaram o mundo à época.

O menosprezo com que os EUA tratam as seleções estrangeiras quase já tinha custado caro na última Olimpíada, em Sydney, quando os lituanos, desfalcados de Sabonis e de Igauskas, só não venceram os americanos porque tremeram nos momentos finais da partida. Porém, na Austrália, o "Dream Team" ainda contava com excepcionais jogadores, como Vince Carter, Allen Iverson e Danny Manning.

Desta feita, além dos três citados acima e dos já ausentes em Sydney, Shaquille O'Neal e Kobe Bryant, também não estão presentes Jason Kidd, o excelente armador do New Jersey Nets e Ray Allen, do Milwaukee Bucks, entre outros. Assim, graças a nossos vizinhos argentinos, os EUA talvez tenham aprendido que não podem mais esnobar o restante do planeta.

Outra razão da vitória argentina é o enorme intercâmbio existente atualmente. Há dez ou quinze anos, excluídos alguns russos ou iugoslavos (e raras exceções africanas, como Mutombo ou Olajuwon), poucos estrangeiros tinham lugar na NBA. Hoje até o Brasil terá em Nenê (infelizmente ausente em Indianápolis por conta de uma contusão) seu representante.

É verdade que os pivôs Rolando e Pipoka passaram pela liga mais importante do planeta, porém só para fazer figuração, o que não deverá ser o caso de Nenê, um dos primeiros atletas escolhidos no draft deste ano. No caso dos argentinos, o intercâmbio é mais intenso com a Europa, mas logo seus craques, como Ginóbili e Sanchez, figurarão entre as melhores equipes americanas ou canadenses.

Outro fator inegável é que se trata da melhor geração do basquete argentino de todos os tempos. Além dos dois "monstros" citados acima, a seleção platina ainda conta com ao menos oito jogadores de alto nível. Em qualquer posição, a equipe argentina está bem servida. Prova disso é que vários atletas ficaram em torno dos dez pontos ontem à noite.

Outros tantos aspectos contribuíram para o feito histórico de ontem, contudo não tenho aqui a veleidade de esgotar o tema. Deixo a tarefa para os especialistas em basquete, que, certamente, têm mais referências sobre o assunto para tratá-lo com mais riqueza de detalhes.

Agora, aos amantes de basquete, resta esperar as quartas, que ocorrem ainda hoje. Só tem duelo de cachorro grande (ou quase). A surpreendente seleção de Porto Rico pega a Nova Zelândia, e a poderosa Argentina enfrenta o Brasil. Não fosse um clássico regional, perderíamos de 30 pontos. Mas, entre brasileiros e argentinos, tudo é possível.

Os outros dois confrontos tendem a ser extraordinários. A disciplinada e empolgada Espanha pega a boa Alemanha, que conta com um dos melhores jogadores do torneio, Dirk Nowitzki. Este, aliás, é o cestinha da competição. No outro jogo, o que fecha as quartas hoje à noite, o "ex-Dream Team" enfrenta os atuais campeões mundiais, a Iugoslávia. Vai pegar fogo...

Clique aqui para ir ao site de Esporte.

Em alta
O goleiro Doni, que, após ser duramente criticado pelos torcedores corintianos, fechou o gol contra o Paysandu e garantiu a vitória de sua equipe. Não digo aqui que se trata de um extraordinário goleiro, porém Doni não merece as descabidas críticas de que vinha sendo alvo.
Em baixa
O Fluminense, de Romário, tão decantado no início do Brasileiro-02, mas que tomou de cinco do Flamengo. A equipe da Gávea, diga-se de passagem, não vencia no Maracanã havia mais de um ano. Verdade seja dita, com Beto e com Fernando Diniz na armação, pobre Romário...

No mundo
Finalmente, acabou a novela em torno da transferência de Ronaldo da Inter de Milão para o Real Madrid. Não quero aqui julgar ninguém, mas não tive como responder às acusações proferidas por dois amigos italianos. Ele passou um bom tempo sem jogar na Inter e, agora em alta, resolve partir...
Nos EUA
Destaque para o US Open de tênis. Guga, como de costume ultimamente, perdeu para um "freguês", mas devemos ter paciência com nosso campeão, que ainda não atingiu o melhor de sua forma após a operação. O campeão deverá sair do jogo entre Hewitt e Agassi, mas Sampras não pode ser desprezado...

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

Leia as colunas anteriores

FolhaShop

Digite produto
ou marca