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Futebol & Cia.

17/10/2002

Analisando o clássico friamente...

MÁRCIO SENNE DE MORAES
Colunista da Folha Online

Foi um jogo épico o clássico entre São Paulo e Santos, disputado ontem à noite no Morumbi. Teve de tudo, cinco gols, três bolas nas traves, inúmeras chances de gol e, até, goleiro culpando comentarista por decisão da arbitragem.

Apesar de todo o burburinho provocado por decisões controversas ou errôneas do árbitro, nenhuma das duas equipes pode dizer que foi realmente "prejudicada" pelo homem de preto.

Kaká sofreu um pênalti, não marcado, e ainda tomou um amarelo, é verdade. Também é indiscutível que Rogério Ceni merecia ter sido expulso por sua reação após a primeira cobrança de pênalti de Diego, defendida pelo arqueiro são-paulino, que, sim, tinha dado uns três passos antes da cobrança.

Foi por isso, aliás, não por conta da pressão do Milton Neves (que vem se revelando ser uma espécie de Roberto Avallone santista, tal seu fanatismo chato) que Cleber Abade mandou voltar o pênalti.

Analisando friamente, o Santos merecia melhor sorte na partida. Afora o gol perdido por Luís Fabiano aos 2min e a bola na trave chutada involuntariamente por Reinaldo ainda no início da partida, o time dominou toda a primeira etapa e poderia ter saído em vantagem em ao menos duas oportunidades claras desperdiçadas por seus velozes atacantes.

No início do segundo tempo, o panorama era o mesmo. Alberto chegou até a carimbar o travessão de Rogério Ceni antes que a bruxa descesse em Kaká. Em dois lances, o extraordinário (embora ainda verde) meia-atacante são-paulino quase decidiu a partida, sofrendo um pênalti e dando um passe açucarado para Reinaldo marcar o segundo gol tricolor.

E Kaká poderia ter concluído a fatura se Abade tivesse marcado um pênalti claro de André sobre ele pouco depois do segundo tento do São Paulo. Em vez disso, recebeu o cartão amarelo e quase se transformou em vilão num clássico que deveria ter sido dele (e de Fábio Simplício e de Maldonado, dois monstros no meio-campo são-paulino).

Primeiro, Robert diminui num belíssimo lance pela esquerda, que contou com a preciosa participação de Leo. Em seguida, Kaká derrubou o mesmo Leo (até então, herói santista) dentro da área, sendo expulso e abrindo caminho para o empate do Santos.

O pênalti convertido por Diego quase originou uma batalha campal. Diego, voluntária ou involuntariamente, foi comemorar o gol em cima do escudo do São Paulo, sambando, ato que desagradou ao extremo a Fábio Simplício, que partiu para cima do ótimo meia santista (que esteve relativamente apagado ontem).

Abade preferiu contemporizar em vez de expulsá-los. Poucos minutos depois, Leo sofreu na carne o que Kaká sentira ao cometer o pênalti sobre ele. Quase sem querer, derrubou Reinaldo dentro da área, possibilitando a vitória definitiva do São Paulo. Cabe ressaltar que, ajoelhado sobre o mesmo escudo tricolor, Ricardinho comemorou o gol como se fosse o primeiro de sua carreira...

Poderia ter sido um filme sobre futebol, um épico, como poderia ter sido a final do campeonato. Nem um nem outro, mas, indubitavelmente, foi a partida mais emocionante do torneio até agora. Aos amantes do futebol, resta torcer para que as duas equipes cheguem à segunda fase e que os outros clubes se espelhem no exemplo dado ontem por santistas e são-paulinos.

Analisando friamente, o Santos poderia ter vencido, um empate seria justo, e a vitória tricolor não foi injusta. No fim das contas, quem ganhou foi o futebol.

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O vôlei masculino do Brasil, comandado pelo excepcional Bernardinho. É verdade que, se sua tática de tirar os dois grandes nomes da equipe no Mundial, Maurício e André Nascimento, não tivesse dado certo, ele seria alvo das mais duras críticas da imprensa especializada. Fato é que ela deu certo, e Bernardo Rezende é o reizinho do Brasil nesta semana.
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O Atlético-PR, campeão brasileiro em 2001 e decepção na atual temporada, e o Internacional-RS. Após um bom início, o Furacão não pára de cair pelas tabelas, estando longe de demonstrar um futebol ao menos convincente. Castigo merecido para seus dirigentes, que mudaram de técnico muito cedo. O Inter continua mal e perdeu a terceira em casa para um dos lanternas.

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Destaque para o tenista francês Pierre-Henry Matthieu, vencedor dos dois últimos torneios da ATP, um em Moscou, outro em Lyon. Primeiro, bateu Marat Safin, em casa, na final. Depois, acabou com as esperanças de Guga de iniciar com chave de ouro em sua volta à Europa. Parece que Matthieu ainda vai dar o que falar.
Nos EUA
Destaque para o início da World Series, a final do beisebol americano. Annaheim Angels e San Francisco Giants se enfrentam a partir de sábado, numa série em, no máximo, sete partidas. O Giants conta com ótimos jogadores, além de ter em seus quadros Barry Bonds, um dos maiores rebatedores de todos os tempos.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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