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Futebol & Cia.

12/12/2002

A alegria do torcedor

MÁRCIO SENNE DE MORAES
Colunista da Folha Online

Após o show de bola do Santos sobre o Corinthians no último domingo, recebi um telefonema de um amigo de Santos, que, logicamente, é fanático pelo Peixe.

"Irmão, bota na sua coluna que não tem pra ninguém. Neste ano, os meninos da Vila vão ficar com o caneco. Robinho! Diego!!!", bradou com a voz já sob nítida influência de seu estado etílico.

Dois minutos depois, toca novamente o telefone.

"Irmão, o Corinthians não era o time do ano? O que foi que aconteceu? Diego! Robinho!!!", espezinhou o santista, aludindo à minha coluna da semana passada, na qual afirmei que o Timão foi o time mais regular (e vencedor) de 2002.

Dez minutos mais tarde...

"Márcio, o que deu nesses moleques? A ala esquerda do Timão não viu a cor da bola. Vai ser punk virar a coisa na semana que vem. Escreve na sua próxima coluna que não tem problema, corintiano tá acostumado a sofrer. A gente não ganha nada sem um gol no último minuto ou um pênalti mal marcado. Mas vamos buscar esse resultado!", lamuriou um amigo corintiano, ainda esperançoso.

Os três telefonemas ilustram bem o clima nesta semana que precede a grande final do Brasileirão-02. De um lado, os santistas se tornam cada vez mais confiantes, embora, escolados, mantenham certo realismo (quase cético), evitando cantar vitória antes de ter certeza absoluta de que um gol no último minuto ou quase, como o de Ricardinho após jogada de Gil pela esquerda (num passado não muito distante), não estragará seu prazer.

Mas essa resignação empírica, que permite até que a torcida adversária cante parabéns pelos sei lá quantos anos sem título, apesar de o Peixe ter conquistado o Rio-São Paulo em 1997 e a Conmebol de 98, pode estar a alguns dias de acabar. Afinal, o Santos tem uma bela equipe, muito bem comandada por um surpreendente Emerson Leão, que demonstra ter amadurecido e se tornado um "mestre" para seus jovens comandados.

Do outro lado, os corintianos estão bem mais ressabiados do que gostariam, mas mantêm aquela esperança típica dos torcedores do Timão (que, aliás, exaspera sobremaneira os rivais). É verdade que muitos títulos do clube do Parque São Jorge vieram de modo sofrido, a começar pela sensacional vitória sobre a fortíssima equipe da Ponte Preta, em 1977, após mais de duas décadas de espera.

O excelente Carlos Alberto Parreira, que também amadureceu muito em relação ao homem que comandou o Brasil no tetra, se encontra numa sinuca de bico. Tomou dois bailes de Leão nas duas partidas disputadas até aqui entre os dois times e ficou sem sua arma mais forte: a ala esquerda, com Kleber, Gil etc. "O que fazer?", deve ter pensado no início da semana. Veremos se ele encontrou a resposta no domingo.

Por um lado, os santistas esperam que seu time jogue "apenas" o que jogou no último domingo. Por outro lado, os corintianos querem tudo menos que sua equipe jogue como na última partida. A nós, torcedores, comentaristas ou simples amantes do futebol, só cabe esperar para ver quem será o campeão, torcendo para que os dois finalistas do Brasileirão-02 façam outra excelente partida de futebol.

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Em alta
O jovem Diego, que acabou com o jogo no último domingo, comandando um Santos ousado e objetivo. É craque de bola, mas não tem o direito de dizer baboseiras racistas a quem quer que seja durante uma partida de futebol. Tem que jogar bola, não falar bobagem.
Em baixa
O centroavante Vinícius, do Fortaleza, que, embora tenha sido o artilheiro da Série B, protagonizou uma das cenas mais covardes da história recente do futebol brasileiro ao dar um direto no meia Juca, do Criciúma, na segunda partida da final, vencida pelos catarinenses.

No mundo
Destaque para a inconstância equipe do Barcelona, que ganhou todas na disputadíssima Copa dos Campeões, mas faz uma campanha bastante irregular no Espanhol.
Nos EUA
Destaque para Mario Lemieux, proprietário e melhor jogador do Pittsburgh Penguins, equipe de hóquei no gelo. Aos 37 anos, lidera a liga em pontos e assistências.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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