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Futebol & Cia.

19/12/2002

Futebol, arte e bons presságios

MÁRCIO SENNE DE MORAES
Colunista da Folha Online

Alguns momentos da segunda vitória do Santos sobre o Corinthians na final do Brasileirão-02 foram verdadeiras pepitas de mais pura arte: as inúmeras defesas de Fábio Costa, a ginga de Robinho, a cabeçada de Deivid no primeiro gol do Timão...

Mas o mais importante foi a vitória do futebol-arte sobre a organização tática. Não que o Santos não tenha uma equipe muito bem montada taticamente pelo técnico Emerson Leão. Não que os atletas corintianos não sejam capazes de encantar sua torcida com lampejos de rara criatividade. Mas o Peixe foi, na fase final, a equipe que jogou aquele tipo de futebol que todo torcedor gosta de ver.

É verdade que, durante a fase de classificação, o São Paulo apresentou o melhor futebol. Porém, no mata-mata, só deu Santos e seus aparentemente irresponsáveis meninos/jogadores.

É, finalmente, 2002 foi um ano de júbilo para o futebol brasileiro. Primeiro, contra todas as expectativas (inclusive aqui no Brasil), fomos campeões do mundo, apresentando um futebol pra lá de convincente no que se refere à beleza plástica e à organização tática.

Kleberson confirmou ser um segundo volante de talento, Ronaldinho Gaúcho mostrou que o fiasco da Olimpíada já está esquecido, Ronaldo Fenômeno deu a mais bela volta por cima com que poderíamos sonhar. Até nossos zagueiros, no final das contas, demonstraram que sabem fazer o básico: impedir que os adversários marquem mais gols do que nosso ataque.

Mas são três os jogadores que dão mais esperança do que nunca aos torcedores brasileiros de que, desta vez, a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos seja possível: Kaká, Diego e Robinho.

O meia-atacante são-paulino foi o melhor jogador da fase de classificação e provou ter condições de tornar-se um verdadeiro craque num futuro não muito distante. Aliás, fez um golaço no jogo do Real Madrid contra o resto do mundo ontem, além de dar um passe açucarado para Cissé fazer o terceiro da legião estrangeira.

Já Diego e Robinho foram, indiscutivelmente, os grandes nomes do mata-mata final. Não teve pipoca, não houve medo da responsabilidade, não existiu temor de que a experiência adversária pudesse suplantar a inventividade adolescente dos santistas.

Diego decidiu a primeira partida da final, comandando com maestria o meio-campo do Peixe. Robinho infernizou a zaga corintiana no segundo jogo, bailou à frente de Rogério e conseguiu um pênalti, sambou diante de Kleber e Vampeta antes que a bola chegasse ao bom lateral Leo, que fechou a segunda partida da final com chave de ouro, marcando um golaço.

Assim, rendamo-nos à evidência: temos, sim, boas chances de conquistar o tão sonhado ouro olímpico. Afinal, além dos três acima mencionados, há uma miríade de jovens talentos à disposição do técnico Ricardo Gomes.

Resta agora torcer para que o campeonato por pontos corridos vingue, dando ainda mais emoção ao futebol brasileiro. No ano que vem, se os dirigentes tiverem o bom senso de segurar seus maiores expoentes, teremos um torneio invejável.

Boas festas e feliz 2003. Futebol e Cia. volta no ano que vem.

Clique aqui para conferir como foi o Campeonato Brasileiro.

Em alta
O habilidoso Robinho, que não sentiu o peso da responsabilidade na final do Campeonato Brasileiro contra o Corinthians. A revelação santista sofreu o pênalti, covertido por ele mesmo, e ainda participou dos dois outros gols que definiram a vitória da equipe da Baixada por 3 a 2 sobre o arqui-rival.
Em baixa
O narador da TV Globo Galvão Bueno, que, no jogo decisivo do Nacional entre Santos e Corinthians, ficou defendendo a manutenção do mata-mata na fase final na competição como desejava a emissora. A "pressão", no entanto, não deu resultado e o próximo Brasileiro será disputado em pontos corridos.

No mundo
Destaque para a decisão do Campeonato Colombiano entre os "pequenos" Independiente Medellín e Deportivo Pasto, que superaram os "grandes" América e Nacional.
Nos EUA
Destaque para o bilionário Robert Johnson, escolhido como dono da nova franquia da NBA para a cidade de Charlotte, tornando-se o primeiro negro a controlar um time.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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