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Futebol & Cia.

14/03/2002

Já é quase tarde demais

MÁRCIO SENNE DE MORAES
colunista da Folha Online

Inicialmente, devo pedir desculpas pela não-aparição de Futebol e Cia. na semana passada. Estava na Polônia e não consegui enviar a coluna porque não pude conectar-me à internet em Varsóvia. Fica registrado meu pedido de desculpas aos já assíduos leitores desta página, e, aliás, lanço uma demanda ao governo da capital polonesa: a cidade necessita urgentemente de um melhor serviço de conexão à rede mundial.

Agora ao que interessa. Será que alguém consegue explicar-me a lógica que segue o raciocínio de Scolari? Roque Júnior não cabe nem na seleção da Tunísia! E o Fenômeno? Será que o excelentíssimo treinador da seleção quer "queimar" o pobre Ronaldo? Afinal, sem ritmo de jogo, quem disse que poderemos ter uma noção do futebol que ele poderá apresentar na Copa do Mundo? Isso sem falar em Ronaldinho Gaúcho, que, de acordo com um grande amigo francês com quem conversei ontem, não faz mais do que enganar no Paris Saint-Germain há algum tempo.

Ademais, convocando apenas 12 jogadores que atuam no exterior, o xerife da seleção deixou transparecer que pretende levar à Copa um número significativo de atletas que jogam no Brasil. Ora, se fosse para convocar França, Kaká, Juninho Paulista e companhia, tudo bem. Mas, se for para selecionar Cris, Gilberto Silva, Belleti (banco no São Paulo) etc., não, obrigado...

Será que ninguém no alto clero da CBF percebe que, para termos uma chance razoável de derrotar a França nas quartas-de-final, deveremos jogar ofensivamente? Os franceses não mais temem o "portentoso" futebol brasileiro. Devemos, portanto, surpreendê-los, pois, sem isso, Zidane e companhia não tomarão conhecimento de nossa equipe.

Aliás, voltando de Varsóvia, li no avião um suplemento especial sobre o Campeonato Inglês. Após enaltecer os óbvios David Beckham, do Manchester United, e Denis Bergkamp, do Arsenal, o analista britânico foi enfático: o melhor jogador do futebol inglês atualmente é o francês Robert Pires. Ora, se em 98 tomamos 3 x 0 de uma equipe que não tinha atacantes e cujo segundo meia ofensivo era o limitado Djorkaëf, não quero nem imaginar o que pode ocorrer com a gente agora se as coisas não mudarem drasticamente no futuro muito próximo.

Bom, de qualquer modo, contra a Iugoslávia, poderemos ao menos ter uma idéia do time que teremos na Copa. O que vai dar, ninguém sabe. Só uma coisa é certa: a partir de agora, não há mais espaço nem tempo para experiências. Precisamos urgentemente de uma equipe-base, bem treinada, com opções táticas bem definidas, com atletas que se sintam seguros na seleção e que possam realmente buscar desenvolver um futebol de nível internacional.

Segundo um amigo palmeirense, Felipão é emoção pura sem deixar de ser competitivo. É estresse constante, mas vitorioso. Vai jogar feio, ainda de acordo com esse admirador do "tático de Passo Fundo", mas o Brasil tem boas chances de evoluir durante a competição e de surpreender os poderosos franceses e nossos arqui-rivais argentinos. Não devemos esquecer que a equipe dirigida por Parreira não jogou nada em 94, mas levou o caneco...

Ademais, Felipão tem uma qualidade irrefutável, que, aliás, talvez advenha de sua teimosia: sabe, como poucos treinadores no planeta, unir um grupo em torno de sua fortíssima personalidade. Até o outrora desafeto Edílson corre em direção ao banco para cumprimentá-lo após marcar um gol. E, se Djalminha, Denílson, Rivaldo e (por que não?) Ronaldo Fenômeno resolverem jogar bola, sai de baixo!

Assim, nem tudo está perdido. Todavia chegou a hora de entendermos que a Copa começa em menos de três meses e que temos de começar a levar a sério essa brincadeira. Afinal, para quase 170 milhões de brasileiros, futebol é quase uma religião, não uma brincadeira que permite que pensemos que somos tão superiores que não precisamos preparar-nos corretamente.

Em alta
A equipe do São Paulo, que, embora ainda tenha de provar seu poderio ofensivo contra times de melhor nível, tem marcado ao menos quatro gols por partida recentemente. E isso não é tudo, os pupilos de Nelsinho têm apresentado um futebol extraordinário, com tabelinhas envolventes, com passes precisos e com um jogo de conjunto que há tempo não se via no hoje limitado futebol brasileiro.
Em baixa
A Fifa. A administração de Joseph Blatter está sob a investigação de uma empresa de auditoria, pois, segundo dirigentes africanos, europeus e asiáticos, há uma série de casos de corrupção em sua história recente. Além disso, a Fifa proibiu a seleção de Camarões de usar seu inovador (embora de gosto duvidoso) uniforme. Será que os dirigentes não têm nada mais relevante para fazer?

No mundo
Destaque para a equipe do La Coruña, que, na semana passada, foi a Madri e estragou a festa do Real, vencendo a Copa do Rei. Anteontem parou o poderoso Arsenal de Pires e de Berkamp e impôs-lhe um indiscutível 2 a 0. Merecem também destaque as duas extraordinárias atuações de Mauro Silva. Se é para termos cabeças-de-bagre no meio-campo, então por que não Mauro Silva?
Nos EUA
Destaque para a primeira vitória da seleção americana sobre o Equador, ocorrida no último final de semana. É verdade que bater o Equador não deveria ser grande coisa, mas, na atual conjuntura, trata-se de um triunfo convincente. Ademais, o brasileiro Cristiano da Matta venceu a primeira etapa da Indy, mostrando que, mais uma vez, os brasileiros são sérios candidatos ao título.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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