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Futebol & Cia.

11/04/2002

Futebol entre amigos

MÁRCIO SENNE DE MORAES
Colunista da Folha Online

Sabe aquele sábado à tarde em que você consegue livrar-se dos empecilhos colocados, voluntária ou involuntariamente, por trabalho, cônjuge, filhos ou namorada e consegue tempo para bater uma bolinha com os amigos no sítio ou na chácara de um deles.

Bem, num sábado desses não são tão incomuns assim gols-moleques, irresponsáveis, como os dois que descrevo a seguir. Primeiro, uma virada de jogo para a intermediária do adversário, um passe de cabeça de primeira para o centroavante, que está na entrada da área. O atacante, de costas para o gol, aplica um sensacional chapéu em seu marcador, passa por ele, completa de voleio e marca um golaço.

Segundo, um passe anódino para o lateral-direito, que acaba de transpor a linha divisória do meio de campo. Ele domina e avança, dá uma passada de pé em cima da bola e chega à intermediária, como um meia-direita. Aí ele estica um pouco demais a bola, explode como um bólido, chega antes do zagueiro e, com mais uma passada de pé genial sobre a branquinha, o deixa na saudade. Ajeita e marca um gol antológico, com um chute da entrada da área.

Essas duas pinturas, que, de tão simples e ousadas, mais parecem obra de boleiros de final de semana (que enfrentam defesas no mínimo cansadas e um tanto acima do peso), aconteceram, respectivamente, na última semana no jogo entre Borussia Dortmund e Milan (4 a 0 para os alemães) e no último domingo, na vitória do Fluminense, por 2 a 1, no clássico contra o Flamengo.

Os autores desses dois golaços recebem, no entanto, tratamento distinto do técnico da seleção brasileira Luiz Felipe Scolari. Paulo César, autor do gol mais moleque do Torneio Rio-São Paulo deste ano, para o Fluminense, foi merecidamente lembrado e barrou Beletti (reserva do São Paulo) na seleção.

Já Amoroso, autor de um gol de Pelé para o Borussia, não passa de mais um esquecido. Seu nome, mais uma vez, não consta da lista de Felipão, que agora tem, entre outras aberrações, Euller, do Vasco da Gama. Como disse algum comentarista recentemente num programa de TV, poderíamos quase chamar a equipe nacional de "predileção de Felipão", não de seleção.

Afinal, o "tático de Passo Fundo" fez ao menos quatro convocações controversas (isso sem mencionar Edílson) por "confiar" em seus selecionados. Senão, como explicar a presença de Júnior, do Parma, na lateral esquerda e a ausência do intrépido Kléber, do Corínthians, ou do experiente e requintado Serginho, do Milan?

Como explicar a vaga garantida de Roque Júnior no time titular? Como justificar a convocação de Luizão, que, além de estar fora de forma, não tem nem um lugar claro para treinar? Já bastaria um atacante sem as melhores condições de jogo (Ronaldo Fenômeno), não? Isso sem falar na nova invenção do técnico, o velocista (e teatral) Euller.

É, a coisa parece obscura, sobretudo que, desta vez, não teremos o prazer de curtir um joguinho de futebol entre amigos no intervalo entre um jogo e outro da Copa do Mundo. Afinal, exceto o churrasco pós-futebol entre vampiros e corujas, não haverá muitas reuniões etílicas entre amigos durante as madrugadas de junho.

Triste coincidência
O excelente meia inglês David Beckham corre o risco de perder a primeira fase (ou mais) da Copa por causa de uma entrada criminosa do argentino Aldo Duscher, do La Coruña, aos 16min do primeiro tempo, na vitória do Manchester United por 3 a 2.

Cabe lembrar que a Argentina e a Inglaterra são adversários no duríssimo grupo F da Copa do Mundo, que ainda conta com a Nigéria e com a Suécia...

Beckham já não tinha terminado a partida de ida entre as duas equipes em razão de outra falta desleal, cometida pelo espanhol Diego Tristán.

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Em alta
A volta de Guga aos treinamentos. É verdade que nosso campeão ainda está longe da forma que tinha quando conquistava títulos memoráveis, mas, infelizmente, vivemos sem ele uma carência de campeões gravíssima. Concordo que Rodrigo Pessoa e Shelda/Adriana Behar vivem ganhando torneios, porém, para boa parte dos brasileiros, não é a mesma coisa.
Em baixa
Pela segunda semana consecutiva, venho a público para criticar as arbitragens nos diversos torneios que ocorrem no país. O último exemplo diz respeito à vergonhosa atuação de Luciano Almeida na partida que opôs o Vasco ao São Paulo. Sem mencionar o gol são-paulino anulado, o pênalti marcado pelo juiz foi um absurdo, pois Euller estava claramente fora da área _1,56 m, no tira-teima.

No mundo
Destaque para a definição das semifinais da Copa dos Campeões da Europa. A excepcional equipe do Manchester, apesar da ausência de David Beckham, é favorita contra o eficiente Bayer Leverkusen. Na outra partida, indefinição quase total, pois os dois maiores rivais espanhóis, Real Madrid e Barcelona, se enfrentam. O Real, graças a seus inúmeros craques, tem ligeira vantagem.
Nos EUA
Dois destaques. Primeiro, para a abertura da temporada de beisebol. Mas, por enquanto, ainda estamos naquela fase sonolenta do entrosamento das equipes. Segundo, para a aproximação dos playoffs da NBA. Na Conferência Oeste, as oito equipes classificadas já estão definidas, com ligeiro favoritismo para o LA Lakers. Na Leste, só há quatro classificados antecipados.

Márcio Senne de Moraes é formado em administração de empresas, pós-graduado em ciência política pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, redator e analista do caderno Mundo da Folha de São Paulo e escreve para a Folha Online às quintas-feiras

E-mail: futebolecia@folha.com.br

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