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Futebol na Rede

05/07/2004

Não foram zebras

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

As conquistas do Santo André (Copa do Brasil), do Once Caldas (Libertadores) e da Grécia (Eurocopa), nos últimos dias, foram consideradas zebras pela maioria das pessoas. Mas eu não me incluo nesse contingente. As três equipes venceram e mereceram os títulos, pois disputaram torneios com seqüências de partidas grandes. Não venceram apenas um jogo.

Não se pode deixar de glorificar a conquista do Santo André. O time do ABC foi, realmente, a melhor equipe da Copa do Brasil. Sua campanha para ficar com a taça foi sensacional. Após o final do Campeonato Paulista, o clube perdeu vários jogadores e mesmo assim eliminou times da primeira divisão, como Atlético-MG e Guarani. Nas quartas-de-final, contra o Palmeiras, conseguiu a classificação ao marcar dois gols em apenas dez minutos e chegar ao empate que lhe dava a vaga. Nas semifinais, o time de Péricles Chamusca também foi heróico. Depois de estar perdendo por 4 a 1, em casa, o Santo André reagiu e mudou o placar para 4 a 3. Na partida de volta, a equipe que precisava vencer por dois gols de vantagem. Levou o primeiro gol, mas mesmo assim alcançou o resultado que a levou a final.

Na primeira decisão contra o Flamengo, o Santo André dominou grande parte da partida, e o empate foi comemorado como vitória pelos flamenguistas. Na grande final, no Maracanã, o time do ABC não tremeu, como muitos clubes tradicionais já fizeram ao enfrentar o Flamengo em decisão. O time andreense ditou o ritmo da partida, esfriou o ímpeto do adversário do primeiro tempo. Na segunda etapa, fez dois gols e ficou com a taça.

Fosse qualquer time de tradição que fizesse o que narrei nos últimos parágrafos, a campanha seria imortalizada. Mas como foi o "pequeno" Santo André, isso muitos consideram como zebra.

A mesma coisa acontece com o Once Caldas. A equipe colombiana pode não ser nenhuma maravilha, mas jogou com um time deve atuar na Libertadores, ou seja, procurava empatar, ou perder de pouco, como visitante para decidir em casa. E fez isso muito bem, pois, dessa maneira, conseguiu eliminar clubes que já conquistaram títulos do torneio, como Santos e São Paulo. Na final, ficou com o título ao bater o Boca Juniors comandado por Carlos Bianchi. Vale lembrar que os brasileiros tentam bater o vitorioso técnico argentino desde a decisão do torneio continental de 1994.

Finalmente chegamos à conquista dos gregos. De maneira alguma o título da Eurocopa da Grécia pode ser uma zebra. Ninguém se lembra, mas os gregos se classificaram em primeiro em seu grupo na fase eliminatória, jogando a Espanha para a repescagem. Durante a fase decisiva, venceu Portugal e eliminou, de novo, os espanhóis. Após a derrota para os russos, todos os times classificados queriam enfrentar os gregos. Nas quartas-de-final a sorte seria da França. Não foi, os gregos passaram. Na semifinal seria a vez da República Tcheca, mas os gregos passaram. A final foi contra Portugal e os gregos venceram.

Agora eu volto a perguntar. Como classificar a Grécia como zebra se os gregos conseguiram eliminar o campeão da Eurocopa 2000, o único time que conquistou quatro vitórias nas quatro primeiras partidas e, principalmente, que venceu os anfitriões do torneio em duas oportunidades, inclusive na grande final.

O Santo André pode cair para a terceira divisão, o Once Caldas pode nem passar da primeira fase da próxima Libertadores e a Grécia pode nem se classificar para a próxima Copa do Mundo, mas posso afirmar com certeza que suas conquistas em 2004 não foram zebras.

Zebras existem em um jogo isolado, mas não em um torneio.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para a Copa América, que começa nesta semana, no Peru. Sem seus principais jogadores, a competição servirá para que o técnico da seleção brasileira, Carlos Alberto Parreira, possa observar vários atletas que não são utilizados com freqüência pelo treinador nas partidas das eliminatórias, como os casos de Juan, Júlio Baptista, Renato, Alex e Adriano, além de novatos que têm sua primeira chance na seleção principal, como o atacante Vágner. Está certo que Luiz Felipe Scolari fez um grande trabalho no comando da seleção portuguesa, que conquistou o vice-campeonato da Eurocopa. Mas o grande técnico do campeonato foi o alemão Otto Rahhagel, que comandou a Grécia. O treinador conseguiu tirar o máximo de um elenco que não tinha grandes destaques individuais e, principalmente, armou um time que soube se defender muito bem e que foi extremamente eficiente nas finalizações.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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