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Futebol na Rede

09/08/2004

De olho no apito

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

O Campeonato Brasileiro pode não contar com os nossos melhores jogadores, as equipes estão longe de ter um nível técnico alto, mas não podemos deixar de afirmar que ao final do primeiro turno o torneio está muito emocionante. Tanto na parte de cima da tabela como na zona do rebaixamento existe, a cada rodada, muitas trocas de posições e hoje é impossível afirmar qual clube ficará com o título e quais as equipes que estarão na Série B no próximo ano.

Se algo me decepciona no atual torneio, é o nível de arbitragem. Não existe uma rodada na qual não ocorra, no mínimo, um erro grave de um trio de arbitragem. Está certo que jogadores, torcedores e técnicos tentam jogar nas costas dos árbitros a responsabilidade de uma derrota, mas a quantidade de erros que está acontecendo no atual torneio chama atenção. As falhas são tão primárias que muitas vezes parecem que os juízes não conhecem as regras do jogo.

O que falta na arbitragem brasileira no momento é uma uniformização de critérios. No aspecto técnico, o mesmo tipo de lance tem as mais diversas interpretações, principalmente na marcação de faltas. A maioria dos nossos juízes parecem não lembrar que o futebol é um jogo que existe contato físico e marcam infrações a todo instante, parando o jogo. Sem dizer que eles mudam de critério quando um lance acontece no meio de campo e outro na área. Os nossos árbitros são extremamente rigorosos na zona central do gramado, mas não marcam pênaltis em lances que marcariam faltas em outros lugares do campo.

Na parte disciplinar, o desastre também é grande. Muitos não têm a mínima autoridade numa partida. Em algumas partidas, alguns jogadores fazem o que querem com a arbitragem. Não são raros atletas que terminam uma partida sem serem advertidos mesmo fazendo reclamações em excesso ou cometendo faltas violentas. Nossos árbitros se acomodaram a dar cartões em lances banais, como para um jogador que está com a camisa fora do calção, mas não punem uma jogada ríspida.

É inegável que os juízes brasileiros apitam pressionados. Eles sabem que alguns dirigentes e a Comissão de Arbitragem podem atrapalhar suas carreiras, então eles tentam dirigir uma partida politicamente, para continuarem sendo escalados para os próximos sorteios que definirão os árbitros para as próximas rodadas. Podem observar como é diferente e melhor o comportamento dos nossos principais árbitros quando eles apitam uma partida válida pelas eliminatórias ou da Taça Libertadores da América. Parecem outros e, geralmente, realizam grandes atuações.

Não há como falar de arbitragem do atual Campeonato Brasileiro sem se lembrar do atual presidente da Comissão Brasileira de Arbitragem, o ex-árbitro Armando Marques, que continua tendo como dirigente as mesmas características que tinha quando atuava: arrogante, prepotente e com uma incrível vontade de aparecer. Não vou dizer que Armando Marques não conheça o assunto, mas não se observa nenhum trabalho do dirigente em melhorar a arbitragem nacional.

Num torneio tão equilibrado com o atual e com o nível da arbitragem tão ruim, quem pode decidir quem vai ficar com a taça são os erros dos juízes.

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O destaque   O que deveria ser destaque
Para a Ponte Preta que se manteve entre os primeiros colocados do Campeonato Brasileiro durante todo o primeiro turno. Vale lembrar que o time de Campinas, que só se livrou do rebaixamento no torneio do ano passado na última rodada, perdeu os técnicos Estevam Soares e Marco Aurélio durante o torneio e, mesmo assim, manteve a regularidade. Se conta com um ataque que marca poucos gols, vale lembrar que a Ponte Preta, ao lado do Palmeiras. tem o recorde de vitórias fora de casa no torneio --cinco. Começa nesta semana os Jogos Olímpicos, e o futebol brasileiro só vai ser representado pelas mulheres. O técnico René Simões e suas jogadoras tiveram que superar a falta de estrutura do futebol feminino no Brasil para conseguirem chegar com uma equipe competitiva em Atenas. A chance de medalha é pequena, mas uma boa campanha pode dar viabilidade para a modalidade no país e pode servir para que algumas atletas possam conseguir atuar em algum país onde o futebol feminino é profissional.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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