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Futebol na Rede

30/08/2004

Futebol feminino: boa surpresa

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Terminaram os Jogos Olímpicos de Atenas. Apesar de o Brasil ter conquistado quatro medalhas de ouro, nossa melhor participação em Olimpíadas, ainda estamos muito longe de sermos uma potência esportiva. Conquistamos medalhas em esportes como vela, judô, vôlei, hipismo e vôlei de praia, modalidades em que nas últimas edições dos Jogos o Brasil já vinha conquistando as primeiras colocações.

Nos esportes tradicionais como natação e atletismo (tirando a excepcional atuação de Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona), por exemplo, nossas equipes foram muito mal. Exceto as modalidades que citei, o nosso esporte ainda depende de fenômenos, como a ginasta Daiane dos Santos, que surgem praticamente do nada, ou melhor, aparecem pelo acaso e pelo trabalho quase anônimo de técnicos que trabalham sem a mínima condição.

Voltando ao futebol, que é o tema desta coluna, não posso deixar de classificar como uma surpresa agradável a segunda colocação obtida pela nossa equipe feminina. Em nenhuma outra modalidade, no Brasil, existe um abismo de estrutura entre mulheres e homens como ocorre no futebol. Enquanto os jogadores do time masculino ganham milhões e são ídolos em todo o planeta, a maioria da equipe feminina era vista com descrédito. Mas foram elas que, por muito pouco, quase conquistaram o inédito ouro para o futebol brasileiro. Vale lembrar que os homens, que já conquistaram duas medalhas de prata, nem estiveram em Atenas, pois fracassaram no Pré-Olímpico.

O segundo lugar em Atenas tem que ser comemorado. Não podemos esquecer que atualmente não existem campeonatos oficiais de futebol feminino no país e, por isso, poucos clubes têm departamento de futebol feminino. Há alguns anos, a Federação Paulista de Futebol organizou um Campeonato Paulista da modalidade, mas o torneio caiu em descrédito quando na seleção de jogadoras surgiram denúncias de que os selecionadores levavam mais em consideração o "talento físico" do que a habilidade das jogadoras com a bola nos pés.

A missão de organizar a seleção foi dada ao treinador Renê Simões cinco meses antes do início dos Jogos Olímpicos. O técnico, que havia conseguido a proeza que conquistar uma vaga com a modesta seleção da Jamaica para o Mundial masculino da França, mal conhecia as jogadoras que iria treinar, pois a convocação foi feita pelo supervisor Paulo Dutra, incansável batalhador do futebol feminino do país.

O primeiro desafio da comissão técnica foi superar a falta de condições do futebol feminino. Além de ter um elenco com várias jogadoras desempregadas, o treinador recebeu algumas jogadoras que não atuavam havia oito meses, com excesso de peso e o mínimo de condição física. Depois de fazer o trabalho de recuperação física, Renê Simões partiu para acertar taticamente o time. Armou a equipe no 3-5-2 e conseguiu que, pela primeira vez na história, o time feminino tivesse um padrão tático e não dependesse exclusivamente do talento das jogadoras.

Organizado e com boas jogadoras, o Brasil fez uma campanha brilhante nos Jogos de Atenas. Até nas duas derrotas contra os Estados Unidos o time foi superior, mas falhou nas conclusões e foi derrotado por uma equipe mais acostumada à pressão de decidir títulos importantes.

Mais que a medalha de prata, o trabalho de Renê Simões, as arrancadas de Marta e os gols de Pretinha e Cristiane deram credibilidade à seleção feminina, que nos últimos tempos só era lembrada pelas constantes brigas entre as jogadoras e técnicos, ou pela convocação de Milene, ex-esposa de Ronaldo, do Real Madrid.

Talvez o pódio em Atenas faça mudar o enorme preconceito que existe contra a mulher que joga futebol. Preconceito que aumentou por causa das próprias torcedoras mulheres, que torcem e apóiam as mulheres em outros esportes, mas ironizam, discriminam e acham estranho que uma pessoa do sexo feminino jogue futebol.

Espero que o segundo lugar em Atenas dê a chance para que nossas jogadoras possam seguir suas carreiras de maneira digna durante os próximos anos e que não sejam lembradas apenas perto dos próximos Jogos Olímpicos.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para a grande reação do Cruzeiro na partida contra o Santos. O time mineiro, que perdia o jogo por 4 a 1, conseguiu o empate, mesmo jogando com um homem a menos. O resultado de igualdade foi ruim para o time da Vila Belmiro, que foi alcançado em número de pontos pelo Atlético-PR e pelo Juventude. Na boa campanha que o Goiás faz no Campeonato Brasileiro, além do artilheiro Alex Dias, merece ser destacado o jogador Paulo Baier. Polivalente, o jogador além de atuar lateral-direito, também consegue ter boas atuações quando escalado como ala e meia-direita e já fez vários gols.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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