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Futebol na Rede

13/09/2004

Dez grandes times brasileiros que eu vi jogar

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Durante o atual Campeonato Brasileiro, em várias oportunidades, falei do baixo nível técnico das equipes que disputam o torneio. Por isso, vários leitores me escreveram pedindo exemplos de grandes times. Atendendo ao desafio, fiz uma lista das dez melhores equipes que eu vi jogar.

É lógico que nesta lista não estarão o Santos, bicampeão do Mundo em 1962 e 1963, o Botafogo de Nílton Santos, Didi e Garrincha do início da década de 60, o Vasco do final da década de 40 e início da de 50, apelidado de "expresso da vitória", o Cruzeiro campeão da Copa Brasil de 1966, o Bahia vencedor da Copa Brasil de 1959, a "Academia" de Filpo Nuñes, o Palmeiras do meio da década de 60, times que gostaria de ter visto e que sempre estarão entre os melhores da história, mas que não vi e não teria como julgar.

Para fazer a lista dos dez melhores, fiz uma seleção com vinte times e depois escolhi os dez melhores. Vamos à relação, que está na ordem cronológica.

Palmeiras (72-74) - Por três anos, os torcedores do Palmeiras decoraram a escalação desse time: Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu, Leivinha e Ademir da Guia; Edu, César e Nei. O que mais impressionava neste time, comandado por Osvaldo Brandão, era o padrão de jogo da equipe. O Palmeiras desse período era um time extremamente eficiente, que não errava e marcava muito bem. Comandado em campo por Ademir da Guia, o time conseguia impor o seu ritmo cadenciado contra qualquer equipe. Talvez por isso o time não ficou marcado por ter imposto aos seus adversários grandes goleadas, mas sim pela regularidade e pelas poucas vezes que perdeu. Esse time conquistou o bicampeonato brasileiro (72-73) e só não foi tricampeão em 1974 porque o time jogou o sem seis titulares que disputaram a Copa da Alemanha.

Internacional (75-76) - Desde o início da década de 70, o Internacional sempre chegava perto do título do Campeonato Brasileiro, mas acabava perdendo. Em 1975, com a chegada do técnico Rubens Minelli, do goleiro Manga e do ponta-esquerda Lula, a equipe gaúcha ficou pronta para conquistar o título. O grande mérito do time era unir força --a equipe tinha um preparo físico muito bom-- e a técnica, com grandes jogadores como Falcão, Jair e Valdomiro. Para a campanha de 1976, o elenco ficou mais forte com as chegada do atacante Dario e do zagueiro Marinho Peres. Com a chegada do defensor, que teve passagem pelo Barcelona, o time passou a usar com perfeição a linha do impedimento.

Cruzeiro (74-77) - Se o time campeão da Copa do Brasil de 1966 fez o Cruzeiro ser conhecido no Brasil todo, o elenco formado entre 74 e 77 fez o time mineiro aparecer no cenário mundial, pois conquistou a Libertadores em 1976 e foi vice em 1977. O time que ficou em segundo nos Campeonatos Brasileiros de 1974 e 1975 contava com o apoio constante e os chutes certeiros do lateral-direito Nelinho, a eficiência de Piazza e Zé Carlos, uma grande dupla de ataque formada por Jairzinho, que sem a mesma velocidade que o consagrou na Copa de 1970, atuava também na armação de jogadas, e Palhinha. Além disso, o time tinha dois pontas abertos extremamente habilidosos, Roberto Batata (que morreu durante a Libertadores de 1976) pela direita, que foi substituído por Eduardo Amorim, e Joãozinho pela esquerda.

Palmeiras (79) - Foi o último time que entrou na minha lista e entre os meus dez melhores. E foi também o único que não ganhou nenhum título. Essa equipe é o grande exemplo de como um técnico pode tirar o máximo de jogadores comuns e transformar um elenco limitado em um grande time. Foi o que fez Telê Santana com Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão, Polozzi e Pedrinho; Pires, Mococa e Jorge Mendonça; Jorginho, César (Carlos Alberto Seixas) e Baroninho. O time, que jogava ofensivamente, sempre procurando o gol, tinha um leque enorme de jogadas ensaiadas que surpreendiam os adversários. O jogo que marcou esse time, que conseguiu uma seqüência incrível de goleadas, foi a vitória sobre o Flamengo, por 4 a 1, no Maracanã. Com esse resultado, Telê Santana garantiu o cargo de técnico da seleção. Após a saída de Telê, o time perdeu o rumo e o mesmo elenco quase foi rebaixado no Campeonato Paulista de 1980.

Flamengo (80-83) - Não há como contestar. Entre 80 e 83, o Flamengo dominou o futebol brasileiro. Nesse período de quatro anos, o time chegou e venceu três finais de Campeonato Brasileiro (80, 82, 83), além de ganhar a Libertadores e o Mundial Interclubes em 1981. Liderado por um fora de série, Zico, o time tinha vários craques que foram formado no clube, como Leandro, Júnior, Andrade e Adílio. Essa equipe foi uma das primeiras a não usar pelo menos um ponta fixo e usar o constante apoio dos laterais (Leandro e Júnior).

Fluminense (83-85) - Após o time de craques do Flamengo dominar o futebol do Rio de Janeiro, foi a vez de o Fluminense ficar com essa hegemonia. Se a equipe de Zico era forte pelos talentos, esse Fluminense era forte pelo seu conjunto. Tinha um craque, o paraguaio Romerito, e jogadores que tiveram seus melhores momentos no time das Laranjeiras, como a dupla de atacantes Assis e Washington e o ponta-esquerda Tato. Bem armado taticamente e com uma marcação eficiente, o time atingiu seu auge no Campeonato Brasileiro de 1984, quando ficou com o título.

São Paulo (85-86) - Depois de conquistar o bicampeonato Paulista de 1980 e 1981 e os vices de 1982 e 1983 com a mesma base, o São Paulo começou uma renovação em seu elenco em 1984, comandado pelo técnico Cilinho. Em 1985, o treinador lançou no time principal jovens como Márcio Araújo (volante), Silas (meia), Muller e Sidnei (atacantes), que ao lado dos experientes zagueiros Oscar e Dario Pereira, do meia Pita e do centroavante Careca formaram um time excepcional, que tinha um contra-ataque mortal. O time foi campeão paulista em 1985 e, com a mesma base, só que comandado por Pepe, foi campeão brasileiro em 1986.

São Paulo (91-93) - Assim como o Flamengo no início da década de 80, o São Paulo dominou o futebol brasileiro no começo dos anos 90. Na verdade, a estrutura do time vencedor começou numa das fases mais negras do time, quando o clube caiu para o grupo dos pequenos no Campeonato Paulista e com a chegada de Telê Santana, em setembro de 1990. Em pouco tempo de trabalho, o treinador já levou o time desacreditado ao vice-campeonato brasileiro. Em 1991, veio o título brasileiro. No ano seguinte, a Libertadores e o Mundial, títulos que seriam repetidos no ano seguinte. Na verdade, o São Paulo não teve apenas um grande time com os mesmos jogadores, como os outros exemplos citados. Teve, na verdade, várias mudanças de jogadores no período, mas sempre conseguiu mostrar um grande futebol.

Palmeiras (93-94) - Com a parceria com a Parmalat e com muito dinheiro, o Palmeiras conseguiu montar uma autentica seleção brasileira no período. Vai ser difícil outro time conseguir montar um elenco com tantos jogadores que podem ser titulares da seleção com craques, como Antônio Carlos, Roberto Carlos, César Sampaio, Zinho, Mazinho, Edmundo, Evair e Edílson, sem contar Rivaldo, que chegou em 1994. Nesses dois anos, o time conseguiu o bicampeonato Paulista, após quebrar um longo jejum de títulos, e o bi Brasileiro.

Santos (2002) - Outro grande time que surgiu em um momento de dificuldade. No segundo semestre de 2002, o técnico Leão assumiu o Santos, que vinha de campanha ruim no Rio-São Paulo e estava desfigurado pela saída dos principais jogadores. Sem reforços de expressão, Leão teve o período das Copas do Mundo e dos Campeões para fazer uma forte intertemporada e conhecer e montar o time de acordo com as características dos jogadores --o que conseguiu com sucesso e é seu grande mérito. Conseguiu que atletas medianos, como Alex, Maurinho, Paulo Almeida, Renato, Elano e Alberto rendessem mais do que o esperado. Assim, fez com que os principais talentos, Léo, Robinho e Diego, pudessem desequilibrar. Ao ganhar o Campeonato Brasileiro de 2002, o técnico Leão provou, com aquele time, que é possível ser ofensivo sabendo se defender.

Os outros dez times pré-selecionados foram: Fluminense (75-76), Guarani (78), Ponte Preta (77-79), Atlético-MG (78), Grêmio (95-96), Palmeiras (96), Vasco (97-98), Corinthians (98-99) e Vasco (2000), Cruzeiro (2003), mas esses últimos foram inferiores aos dez selecionados.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Mesmo sem a mesma presença na mídia como no ano passado, o Campeonato da Série B está muito disputado. Faltando apenas duas fases para o final da fase de classificação, das 24 equipes participantes, apenas cinco estão com o seu destino sacramentado: Náutico, Bahia e Brasiliense, já classificados para a próxima fase, e Mogi Mirim e Londrina, rebaixados para a Série C. As outras 19 equipes continuam lutando pelas cinco vagas restantes na segunda fase ou para escapar do descenso. Enfrentar o time do Vasco, em São Januário, foi durante muitos anos uma preocupação, pois era muito difícil o time do Rio de Janeiro perder em casa. No atual campeonato, o Vasco não está conseguindo fazer valer seu mando de jogo. Em 15 partidas atuando como mandante, o jovem time comandado por Geninho só ganhou cinco vezes e já perdeu sete (aproveitamento de 40% dos pontos disputados). Com esse mau desempenho em casa, o Vasco começa a ficar muito perto da zona do rebaixamento.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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