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Futebol na Rede

18/10/2004

Dez grandes técnicos

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Por muito tempo, na história do futebol brasileiro, os técnicos, quase sempre, não recebiam créditos pelas suas conquistas. As vitórias eram todas creditadas aos jogadores e aos treinadores só sobravam as críticas pelas derrotas. O desprezo era tão grande que foi criada a frase: "Técnico não ganha jogo, só perde". Nos últimos anos, com a saída de nossos maiores talentos, começou-se a dar a importância ao trabalho dos treinadores, pois, sem grandes craques no campo, uma boa estratégia pode definir o resultado de um jogo.

Como fiz algumas semanas atrás, na qual relacionei os dez melhores times que vi jogar, vou fazer uma lista dos dez melhores treinadores que eu observei. É lógico que está lista se resume a trabalhos de técnicos a partir da década de 70, portanto, alguns treinadores que fizeram história, como Lula, Flávio Costa, Vicente Feola, Fleitas Solich e os irmão Aymoré e Zezé Moreira, ficaram fora.

A relação segue em ordem alfabética.

Carlos Alberto Parreira - Tem grande conhecimento da parte teórica e história do futebol. Seus times sempre tiveram um formação sólida na defesa, a característica de ficar muito com a posse, sempre erram muito pouco e têm um aproveitamento muito grande nas chances que criam. Parreira, sempre equilibrado, tem o mérito de acreditar no trabalho que ele planeja, mesmo que muitas vezes isso possa ser chamado de conservadorismo. Seus times podem não agradar aqueles que gostam de um futebol mais ofensivo, mas não se pode tirar o mérito de suas conquistas, principalmente a Copa de 1994.

Cilinho - Quem gosta de times que jogam com velocidade e ofensivamente, Cilinho deve ser sempre uma referência. Além de ser um grande motivador, fez um trabalho primoroso na revelação de talentos para o nosso futebol, principalmente na Ponte Preta, São Paulo e XV de Jaú.

Cláudio Coutinho - Conhecedor teórico das táticas do futebol, Cláudio Coutinho foi introdutor de algumas mudanças táticas no nosso futebol como o avanço constante dos laterais. Na sua época e, principalmente, na Copa de 1978, foi muito criticado, pois, para muitos, queria que o nosso futebol tivesse o estilo de jogo dos europeus. Infelizmente, Coutinho morreu em 1981, quando estava atingindo sua maturidade como técnico.

Ênio Andrade - Não existe um jogador que não tenha trabalhado com Ênio Andrade que não cita o treinador como uma referência. Isto é, o maior elogio que um treinador pode ter. Três vezes campeão brasileiro, pelo Internacional (1979), Grêmio (1981) e Coritiba (1985), ele não tem seu trabalho tão valorizado por não ter conseguido sucesso em times de São Paulo e Rio de Janeiro.

Luiz Felipe Scolari - Grande motivador de elencos, Luiz Felipe Scolari tem como grande mérito conseguir a confiança de todos seus jogadores e fazer com que eles executem o que ele pede. Dinâmico quando está na beira do campo, passa aos jogadores a impressão de que está jogando com o time. Grande observador, Scolari consegue fazer substituições que acabam sempre dando resultado. Diferentemente de outros treinadores, ele sempre deixa saudades nos times em que trabalhou --palmeirenses e gremistas que o digam.

Oswaldo Brandão - Somente o fato de conseguir títulos importantes com os três grandes times de São Paulo (Palmeiras, São Paulo e Corinthians), além de fazer sucesso como treinador na Argentina, já credenciam Oswaldo Brandão como um dos nossos grandes treinadores. Os seus times tinham como forte o toque de bola e muita determinação, pois os times treinado por ele lutavam até o último minuto. Além do conhecimento técnico, sabia motivar os seus comandados e tinha grande preocupação em orientar os mais jovens sobre como investir o dinheiro ganho com o futebol. Responsável por acabar com o longo jejum sem títulos do Corinthians, tinha uma intuição muito grande que pode ser resumida em dois episódios. O primeiro aconteceu na final do Campeonato Paulista de 1977, quando falou ao meia Basílio que ele faria o gol do título. Já na final de 1974, quando treinava o Palmeiras, escalou o zagueiro de área Jair Gonçalves improvisado na lateral-direita. E foi com ele que teve início a jogada que terminou no gol do título palmeirense.

Rubens Minelli - Único técnico treinador que conquistou três títulos seguidos do Campeonato Brasileiro --1975 e 1976 pelo Internacional e 1977 pelo São Paulo--, Rubens Minelli tinha como mérito um profundo conhecimento tático. Seus times conseguiam unir técnica e força. Suas equipes sempre apresentavam um enorme repertório de jogadas preparadas em treinos. Infelizmente, no melhor momento de sua carreira, não foi escolhido para comandar a seleção brasileira.

Telê Santana - Trata-se to melhor treinador que eu acompanhei. Telê Santana transformava qualquer time, independente da qualidade de elenco que tinha, em uma equipe que tinha padrão de jogo e jogava ofensivamente. Detalhista ao extremo, fazia questão de cuidar até dos gramados de treinos dos times que comandava. Exigia perfeição no fundamento dos jogadores, por isso, não poupava treinos específicos para combater à deficiência de seus jogadores.

Vanderlei Luxemburgo - Pode-se não gostar da arrogância de Vanderlei Luxemburgo, mas seu trabalho com treinador é incontestável. Seus times sempre têm um diferencial tático. Com tempo e bons jogadores, forma grandes times como fez com o Cruzeiro no ano passado. Infelizmente, não soube aproveitar a chance que teve na seleção brasileira.

Tite - O atual técnico do Corinthians pode se tornar o principal técnico brasileiro no futuro muito próximo. Estudioso e conhecedor profundo das táticas de jogo, ele já realizou trabalhos importantes e marcantes com o título do Campeonato Gaúcho que conquistou com o Caxias (2001), a Copa do Brasil (2001) que ganhou com o Grêmio e o atual trabalho que faz no Corinthians.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Depois da boa vitória contra a Venezuela e um empate decepcionante contra a Colômbia, o Brasil ficou numa posição muito boa para conseguir uma vaga na próxima Copa do Mundo, momento muito diferente do que aconteceu nas últimas eliminatórias. Contra a Colômbia,o Brasil teve grandes dificuldades em construir jogadas ofensivas contra um time que jogou todo fechado na defesa. O grande desafio de Parreira nestas situações é fazer que o time jogue pelas laterais e não tente tantas jogadas pelo meio.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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