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Futebol na Rede

29/11/2004

Dez craques brasileiros que eu gostaria de ver jogar

HUMBERTO PERON
Colunista da Folha Online

Todos aqueles que gostam de futebol são saudosistas. Nós nem podemos perceber, mas em qualquer bate-papo sobre futebol, mesmo que o assunto seja o tema mais forte da atualidade, em algum momento, o passado será lembrado e a história será o tom da conversa. Sem perceber, contamos fatos sobre algum ano que não éramos nem nascidos, mas que ouvimos falar. Pode parecer estranho, sentir saudade de fatos e pessoas que não vimos, mas alguns deles são tão comentados que se tornam íntimos para nós.

Seguindo isso, preparei uma lista de jogadores que, de tanto ouvir histórias, alguns vendo imagens e outros conhecendo pessoalmente já como ex-atletas, gostaria de ver atuando.

Friedenreich - O primeiro grande jogador da história do nosso futebol e grande ídolo na era amadora. Segundo relatos, era um atacante de técnica única (alguns o consideram o inventor do drible curto e do chute dado com efeito). Ficou famoso pela sua garra em campo e recebeu o apelido de "El Tigre". Quem o viu jogar garante que ele foi tão bom (ou melhor) do que Pelé. Alguns zagueiros que atuaram na mesma época que "Fried" afirmavam que ele era impossível de ser marcado. Com essas características, foi artilheiro várias vezes do Campeonato Paulista e, segundo alguns relatos, teria marcado 1.329 gols, o que o transformaria no jogador recordista de gols na história do futebol mundial. (o historiador Alexandre da Costa mostrou na revista Placar de junho de 1999 que um número mais confiável é de 554 gols).

Domingos da Guia - Em quase todas as listas que surgem sobre o qual foi o melhor zagueiro da história do nosso futebol, Domingos da Guia aparece com destaque. Também pudera. Domingos da Guia foi o primeiro zagueiro brasileiro a jogar visando a bola. Jogava com elegância, dava poucos "chutões", gostava de sair driblando e foi um dos primeiros defensores a sair jogando com a bola no chão. Entre suas proezas, está o fato de conseguir ser campeão em três países diferentes em três anos seguidos: foi campeão uruguaio em 1933 (Nacional), carioca em 1934 (Vasco) e argentino em 1935 (Boca Juniors). Graças ao seu estilo clássico, recebeu o apelido de "Divino Mestre" que depois seria passado para Ademir da Guia, seu filho que fez história atuando pelo Palmeiras.

Leonidas da Silva - Artilheiro da Copa de 1938, foi reverenciado pelas sua arrancadas, grande poder de finalização, impulsão e, principalmente, por sua elasticidade principalmente quando realizava suas históricas "bicicletas". Depois de fazer sucesso em clubes do Rio de Janeiro (como Vasco, Botafogo e Flamengo), foi contrato pelo São Paulo, sendo um dos primeiros ídolos do clube. Tinha o apelido de "Diamante Negro" que se transformou em nome de chocolate que é vendido até hoje.

Oberdan Catani - Já no início da década de 40, o goleiro Oberdan Catani já tinha uma virtude que é o ponto falho dos goleiros brasileiros até hoje: a saída de gol. Oberdan abandonava a meta com perfeição para cortar os cruzamentos dos adversários. Atuando com sua lendária camisa azul escura com o símbolo no peito (primeiro do Palestra Itália depois do Palmeiras), o goleiro se destacava pelo tamanho de suas mãos que para muitos se transformavam em "imãs gigantes" que atraiam os chutes dos adversários. Palestrino e, depois, palmeirense mostrava seu amor pelo clube ao jogar com dedos fraturados ou com as unhas penduradas após choques com atacantes adversários. Atualmente, aos 85 anos, está presente em todos os jogos do Palmeiras, no Parque Antarctica, e sua casa pintada de verde é um autêntico museu sobre a história do Palmeiras.

Zizinho - O fato de ser o maior ídolo de Pelé já transforma Zizinho em um dos maiores craques da história do futebol brasileiro. Dono de uma técnica refinada e um estilo único de tratar na bola, o armador, que viveu grande fase no Flamengo na década de 40, foi comparado a gênios como Pablo Picasso e Leonardo Da Vinci por jornalistas estrangeiros que cobriram a Copa de 1950. Aliás, a derrota neste Mundial tirou um pouco do brilho da sua carreira. Mesmo assim, aos 35 anos, foi contratado pelo São Paulo e comandou o clube na conquista do Campeonato Paulista de 1957.

Julinho Botelho - Ponta-direita que começou no Juventus e estourou na Portuguesa em meados da década de 50 ao jogar num time que tinha oito jogadores titulares na seleção paulista e quatro na seleção brasileira. Dono de uma força física fora do comum para os padrões da época, era um driblador fantástico e tinha um chute muito forte. Melhor jogador brasileiro na Copa do Mundo de 1954, ele foi vendido para a Fiorentina. Na Itália, conquistou um título italiano e virou ídolo em Florença, onde é reverenciado até hoje. Convocado para a Copa de 1958, recusou a convocação por não achar justo tomar o lugar de jogadores que atuavam no Brasil. De volta ao país, ao ser contratado pelo Palmeiras em 1959, teve o grande momento de sua carreira. No dia 13 de maio, ao ser escalado no lugar de Garrincha, num amistoso do Brasil contra a Inglaterra, levou uma vaia de mais de 100 mil pessoas. Depois de fazer um gol, dar o passe para outro e fazer uma atuação fantástica, transformou as vaias em aplausos e saiu como herói. Infelizmente, se machucou durante a preparação para a Copa de 1962 e não pode se sagrar campeão do mundo.

Garrincha - Para muitos o segundo maior jogador da história do nosso futebol, só atrás de Pelé. Ponta-direita, era um driblador fantástico que não tinha dó dos seus marcadores. Era reserva na Copa de 1958, ganhou a posição e foi um dos responsáveis pela conquista do título. Quatro anos depois no Chile, para muitos ganhou a Copa do Mundo "sozinho". Sem Pelé no time, Garrincha, além de passes perfeitos e dribles, fez gols de pé direito, pé esquerdo, falta e de cabeça. Infelizmente, teve um final de carreira melancólico e morreu passando sérias dificuldades.

Canhoteiro - Ponta-esquerda de extrema habilidade e dribles curtos que fez muito sucesso no São Paulo no final da década de 50. Dotado de uma habilidade fenomenal, ele controlava a bola como poucos e conseguia, com os pés, fazer malabarismos com uma moeda. Considerado o "Garrincha da esquerda", também teve vários problemas longe do campo e não conseguiu disputar uma Copa.

Didi - É impossível não ver os velhos filmes que mostram Didi em ação e notar que ele era um jogador diferenciado. A classe ao carregar a bola (sempre com a cabeça levantada sem olhar para a bola), os passes perfeitos, a precisão no lançamento, tudo isso temperado com um toque de malandragem. Poucos sabem, mas Didi foi eleito o melhor jogador da Copa de 1958. Aliás, outra característica do craque era a liderança. Ficou para a história o seu gesto de ir pegar a bola no gol do Brasil após a Suécia marcar o primeiro gol na final do Mundial da Suécia e ir caminhando, lentamente, quicando a bola, passando confiança a cada companheiro.

Nílton Santos - O apelido de "Enciclopédia" dado a Nílton Santos porque ele "sabia tudo" de futebol mostra o quanto ele foi craque. Melhor lateral-esquerdo da história do nosso futebol, Nílton Santos não se limitava a marcar apenas os pontas adversários, como faziam os laterais na época. Graças a sua técnica, ele várias vezes arriscava avançadas ao ataque. Surpreendeu o mundo ao fazer um gol na Copa de 1958, contra a Áustria, ao tomar a bola da defesa, fazer uma tabela e aparecer na cara do gol adversário. Tinha grande habilidade com a bola ao ponto de dizer que ela nunca o traiu e nunca pegou na sua canela.

No futebol, assim como na vida, é sempre bom lembrar do passado, mas é importante não esquecer o que está acontecendo atualmente.

Até a próxima

Outras Listas
  • Dez Grandes Técnicos

  • Dez grandes times
  • O destaque   O que deveria ser destaque
    Para o Grêmio que não conseguiu evitar o rebaixamento, mas colocou emoção na reta final do Campeonato Brasileiro ao empatar com o Atlético-PR por 3 a 3 após estar perdendo por 3 a 0. Se tivesse vencido, o time paranaense teria colocado uma mão na taça, pois abriria quatro pontos de vantagem sobre o vice-líder . Com a igualdade, além de ficar com Santos muito próximo, devolveu esperanças de título ao São Paulo e ao São Caetano. O quadrangular decisivo da Série B que está muito equilibrado. Na rodada do último final de semana, o Brasiliense (que era lanterna) passou a ser líder ao bater ao Avái (que caiu do primeiro para o quarto lugar). Já Bahia e Fortaleza empataram e, junto com os catarinenses, têm cinco pontos, um a menos do que o líder. Com dois jogos para cada time (um em casa e outro como visitante), a luta pelas duas vagas promete ser emocionante.

    Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
    Folha Online às terças-feiras.

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