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Futebol na Rede

18/07/2005

Futebol brasileiro: visão do exterior

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Na última semana fiz uma viagem à Suíça. Durante cinco dias, junto com mais de 15 jornalistas de todas as partes do planeta, tive a oportunidade de conhecer um pouco desse país. É lógico que ao me apresentar como brasileiro, logo os outros jornalistas já me perguntavam sobre o nosso futebol. Mas de todo grupo, o nosso guia, chamado Eugenio (suíço de origem italiana), era a pessoa mais ligada ao nosso futebol, sabendo escalações, jogos e informações sobre os nossos times. Agora passo as impressões de um torcedor europeu, que não é jornalista, sobre o futebol brasileiro.

Time de 70

"Félix; Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Pelé; Jairzinho, Tostão e Rivellino" foi com esta escalação que Eugenio confirmou que era fã do nosso futebol. Ele disse que esse time foi a melhor equipe que ele já viu jogar. E o seu respeito ao nosso futebol deve-se a esse elenco. Na sua paixão pelo time tricampeão do mundo, ele me conta detalhes de todas as partidas. Mas mostra sua admiração no jogo entre Brasil e Inglaterra. "Foi o melhor jogo da história", afirma. Na sua descrição da partida, fala que os dois times eram fantásticos, fala da defesa de Banks na cabeçada de Pelé e a grande intervenção de Félix na cabeçada de Lee. Mas ao descrever o gol do Brasil ele se emociona. Com gestos, vai imitando a seqüência de dribles de Tostão pela esquerda, o cruzamento para Pelé, a ajeitada de Pelé para Jairzinho e o chute final do nosso atacante. Depois, imitou Jairzinho fazendo o sinal da cruz. Outro fato que deixou o suíço encantado com o nosso futebol foi a seqüência de dribles de Clodoaldo no final do jogo contra a Itália, na decisão.

Eurico Miranda

Num longo período de uma viagem de trem ele me perguntou se o "cartola" Eurico Miranda ainda era presidente do Vasco. Antes de responder, pergunto como ele sabe do dirigente vascaíno. Ele me responde que leu sobre o dirigente no livro "Futebol: The Brazilian Way of Life", escrito por Alex Bellos (O livro foi lançado no Brasil, por Jorge Zahar Editor, como o nome de: "Futebol O Brasil em Campo").

Ronaldo x Ronaldinho

Para Eugenio, o jogador do Barcelona é mais completo. "Ele mostra a verdadeira essência do futebol brasileiro", afirma ao descrever os dribles do camisa 10 do Barcelona. Para o suíço, o atacante do Real Madrid é "apenas" um artilheiro, mas não tem a habilidade do seu homônimo.

Estilo de jogo

Ele admira a técnica e habilidade dos brasileiros, mas ele acha que os nossos jogadores, às vezes, são muitos lentos e não se empenham com afinco nas partidas. Mesmo fã do futebol brasileiro, o suíço diz que quando joga futebol prefere atuar no estilo inglês, com muita correria, choques, marcação e lançamentos longos. Pensei em fazer um comentário, que só atua assim quem não sabe jogar futebol, mas fiquei quieto, pois poderia perder meu novo amigo.

Times preferidos

Entre os times da Europa, ele prefere os times ingleses. Eugenio comenta que os ingleses jogam com vontade os 90 minutos e nunca se entregam. Para ele, italianos e espanhóis falam muito durante as partidas e se esquecem de jogar.

Equipes brasileiras

Apesar de não acompanhar os jogos aqui do Brasil, ele conhece as principais equipes do eixo Rio-São Paulo, mas sua equipe preferida é o Palmeiras, pela cor verde da camisa e pelo time ter sido fundado por italianos.

Robinho

Como não acompanha muitos jogos do futebol brasileiro, Eugenio disse que só conheceu o jogador do Santos na Copa das Confederações, mas gostou dos seus dribles. "Não posso dizer mais que isso", completa sem muito entusiasmo.

Falsa Impressão

No último dia da viagem, Eugenio me confessou que gostaria de assistir um jogo aqui no Brasil. Surpreso, perguntei qual era a razão. Ele diz, que pela alegria dos torcedores, pelas coreografias e pelas belas mulheres que sempre aparecem nos jogos da seleção brasileira na Europa. Pensei em explicar para ele que ir ao estádio no Brasil está longe de ser uma maravilha... mas não poderia estragar o seu sonho.

Foram cinco dias que eu deveria conhecer a Suíça e esquecer o futebol, mas, quando se fala que é brasileiro, é impossível não falar sobre futebol.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Destaque para o São Paulo, que conquistou pela terceira vez o título da Taça Libertadores da América. Dos títulos sul-americanos que o São Paulo ganhou, com certeza, esse foi o que o time teve menos dificuldades. O time sobrou na competição, e nem times tradicionais como Palmeiras e River Plate foram obstáculos difíceis na campanha são-paulina. De se lamentar apenas a atitude dos vândalos, que quase conseguiram manchar a conquista do título. Mesmo não tendo a simpatia de uma parte da diretoria, Márcio Bittencourt mostra que consegue alterar, com sucesso, no decorrer das partidas. No jogo contra o Palmeiras, ele colocou Rosinei e o novato com dois gols decidiu a partida. Na vitória contra o Paraná, ele colocou Dinélson no lugar de Carlos Alberto e o jovem meia fez o terceiro gol do time.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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