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08/08/2005

Dez grandes goleiros que eu vi jogar no futebol brasileiro

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Assim como os zagueiros atualmente, os goleiros brasileiros foram, por muito tempo, desvalorizados. É lógico que tivemos grandes jogadores nesta posição, como Oberdan Catani, Barbosa, Castilho e Gilmar, mas, tirando essas exceções, os nossos arqueiros eram vistos com desconfiança. Os brasileiros admiravam os goleiros argentinos e uruguaios, principalmente pela qualidade na saída do gol. A situação começou a mudar no final da década de 60, quando Valdir Joaquim de Moraes, ex-goleiro da seleção e do Palmeiras, começou um trabalho específico de treinamentos de goleiros. A partir desse momento, os nossos arqueiros evoluíram muito e hoje estão entre os melhores do mundo.

Agora faço uma lista dos dez melhores goleiros (oito nacionais e dois estrangeiros) que eu vi atuar no futebol brasileiro nos últimos 35 anos.

Leão - Ninguém é titular da seleção brasileira por dez anos por acaso. Leão foi o goleiro titular do Brasil de 1970 (após a conquista do tricampeonato no México até o início de 1980), e só isso já serve para comprovar a qualidade do goleiro Leão. Dono de uma personalidade forte, era enérgico ao orientar a sua defesa e se empenhava muito nos treinamentos (por isso o técnico Emerson Leão é tão exigente nos treinamentos das equipes que dirige). Além das qualidades embaixo das traves, Leão tinha grande precisão e visão ao repor a bola com as mãos. Disputou quatro Copas do Mundo (1970, 74, 78 e 86) e poderia ter disputado a quinta, em 1982, quando vivia grande fase no Grêmio, mas não foi convocado por Telê Santana para disputar o torneio da Espanha.

Cejas - Goleiro argentino que atuou no Santos no início da década de 70. Representante clássico da antiga escola de goleiros argentinos, ele era seguro embaixo da trave, colocava-se muito bem e saia muito bem do gol. Foi destaque do Santos na conquista do Campeonato Paulista de 1973, mas suas atuações, principalmente na decisão contra Portuguesa, foi ofuscada pela besteira do juiz Armando Marques que errou na contagem dos pênaltis e fez com que o título fosse dividido.

Manga - Fracassou com a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1966, mas isso não abalou a carreira de Manga, que jogou profissionalmente até os 45 anos. No Botafogo, ganhou quatro títulos estaduais (1961, 62, 67 e 68). Também fez sucesso no Nacional de Montevidéu, mas foi no Internacional onde viveu seus melhores momentos. Com suas defesas, ajudou ao time gaúcho a ganhar o bicampeonato brasileiro (1975 e 76). A sua atuação na final do Campeonato Brasileiro de 1975, contra o Cruzeiro, foi antológica. O goleiro travou um duelo sensacional com o lateral Nelinho e fez duas defesas (milagres) em cobranças de faltas do jogador do time mineiro.

Raul - Numa época em que os goleiros usavam apenas camisas cinza, preta ou azul escuro, ele começou a jogar com uma camisa amarela. Está certo que o uso do amarelo só surgiu porque seu uniforme tradicional foi esquecido e ele teve que improvisar o uniforme com uma camisa de manga comprida de cor amarela. Com seu estilo sóbrio, sem muitos saltos, e com muito boa colocação, Raul foi titular do Cruzeiro entre 1965 e 1978. Aos 34 anos, chegou ao Flamengo e transmitiu experiência para um grupo de jovens que três anos depois se consagraria campeão do mundo.

Carlos - Apesar de ter disputado três Copas do Mundo (1978, 82 e 86), o goleiro revelado pela Ponte Preta foi taxado de azarado por sempre perder decisões ou não levar sorte em jogos decisivos. O lance mais marcante de sua carreira foi o pênalti nas quartas-de-final da Copa do Mundo de 1986, quando na decisão contra a França uma bola que tocou na trave bateu nas suas costas e entrou no gol. Excelente goleiro, Carlos se destacava por sua frieza (muitas vezes confundida com apatia).

Rodolfo Rodríguez - Goleiro uruguaio que fez muito sucesso no Santos na década de 80. Apesar de alto, tinha muito agilidade e reflexo nas bolas rasteiras. Fazia defesas incríveis como a seqüência de milagres que fez numa partida contra o América de São José do Rio Preto em uma partida válida pelo Campeonato Paulista-1984. Aliás, com suas defesas, ajudou o Santos a conquistar o seu último título estadual em 1984. Além de grande qualidade no gol, destacava-se pela liderança que tinha entre seus companheiros. Infelizmente, não disputou um jogo de Copa do Mundo, pois, em 1982, o Uruguai não se classificou, e quatro anos depois sofreu uma operação poucos dias antes do início da Copa do México.

Taffarel - Titular da seleção brasileira em três Copas do Mundo consecutivas, Taffarel foi o goleiro mais eficiente da história do nosso futebol. Com seu estilo discreto, em que não dava grandes saltos para fazer defesas, transformava qualquer chute difícil em uma defesa fácil, graças ao seu senso de colocação apurado. Tinha um qualidade única: jogava bem melhor na seleção do que nos clubes que atuava. Abriu o mercado de goleiros brasileiros na Europa ao se transferir para a Itália no início dos anos 90.

Zetti - Quando se firmou como titular do Palmeiras, em 1987, Zetti já demonstrou sua qualidade como goleiro ao ficar mais de 900 minutos sem tomar um gol. Sua carreira, ainda em crescimento, sofreu uma parada brusca, quando o goleiro quebrou a perna, em 1988, em uma partida contra o Flamengo. Recuperado, teve poucas chances no Palmeiras e se transferiu para o São Paulo. Em poucos meses, ganhou a posição de Gilmar e se tornou titular absoluto no período mais glorioso da história do clube. Foi fundamental nas conquistas do título da Libertadores de 1992 e na decisão do Mundial interclubes contra o Milan em 1993.

Marcos - A grande característica de Marcos é fazer "milagres", ou seja defender bolas que todos julgavam impossíveis. Foi fazendo milagres que ele levou o Palmeiras à conquista da Taça Libertadores de 1999 e a seleção brasileira (principalmente nos jogos contra a Bélgica e Alemanha) ao título do Mundial de 2002. Em forma, ainda é o melhor goleiro do Brasil, mas um problema crônico no pulso esquerdo o impede de disputar uma seqüência de jogos e voltar a sua melhor forma.

Rogério Ceni - Muito bom goleiro, Rogério Ceni teve o grande mérito de ser o primeiro goleiro no futebol brasileiro a perceber que, com as mudanças das regras, os arqueiros deveriam aprender a jogar com os pés. Com isso, melhorou a reposição de bolas e se transformou numa opção segura para os zagueiros do time. Além disso, virou m exímio batedor de faltas e salvou o time várias vezes com seus gols. Recordista de jogos com a camisa do São Paulo, Ceni conseguiu ao ganhar a Libertadores-05 a conquista que faltava em sua carreira no clube.

Ser goleiro é difícil, entrar na história como goleiro é mais complicado ainda.

Até a próxima.

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Para o Palmeiras, que, desde a chegada do técnico Emerson Leão, não perdeu. Está certo que o futebol apresentado ainda está longe do que o time pode mostrar, mas, pelo menos, os resultados estão aparecendo. Agora, com dois jogos em casa contra times que estão na sua frente, Ponte Preta e Internacional, se conseguir dois triunfos, o time vai ficar muito próximo da zona de classificação para a próxima Taça Libertadores da América. Para a incrível seqüência de jogos sem vitória do São Paulo. Está certo que era esperada uma queda de produção do time após a conquista da Libertadores, mas não da maneira que está acontecendo. O São Paulo precisa voltar a vencer, pois caso contrário os maus resultados deverão gerar dúvidas sobre a capacidade do treinador e de alguns jogadores e irá atrapalhar a preparação do time para o Campeonato Mundial.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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