Colunas

Futebol na Rede

12/09/2005

Três motivos para nossa derrota no Sarriá

HUMBERTO PERON
Colaboração para a Folha Online

Assim com os torcedores antigos não conseguem esquecer a derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950, uma geração inteira de fãs não consegue entender como o Brasil perdeu para a Itália e não conseguiu vencer o Mundial de 1982.

É incrível como o time comandado por Telê Santana não sai da memória da torcida. Basta uma atuação boa da seleção (como a da vitória recente contra o Chile) que logo aparecem comparações com aquele time. Se o Brasil joga mal, lá vem a saudade do time da Copa da Espanha. Mesmo não vencendo o Mundial, o time de Sócrates, Falcão, Zico, Júnior e outros craques, arrisco dizer, marcou mais que os times que conquistaram o Mundial nas edições de 1994 e 2002.

Na semana passada, quando nosso selecionado jogou em Sevilha, lembrei que a cidade foi sede dos três primeiros jogos do Brasil e, para variar, fiquei pensando no jogo entre Brasil e Itália (disputado em Barcelona, no estádio Sarriá). Perdi um bom tempo, vi o teipe da partida e cheguei a três conclusões que podem explicar nosso revés (se isso um dia for possível).

Falta de experiência internacional do time - Vários jogadores que integraram o genial time da Copa de 1970 estiveram e, portanto fracassaram, no Mundial de 1966. Com o fracasso na campanha da Inglaterra, jogadores como Gérson, Tostão, Jairzinho ganharam experiência para quatro anos depois jogarem outra Copa do Mundo. Garanto que se eles tivessem debutado em Mundiais nos gramados mexicanos não teriam o mesmo desempenho magnífico. O mesmo se aplica ao time de 1994, que tinha como base o fracassado e criticado time de 1990. O grupo do quinto título mundial também tinha jogadores que aprenderam com a derrota de 1998.

No time de 1982, tínhamos muitos jogadores que não tinham jogado nenhum mundial. No time titular, Leandro, Luisinho, Júnior, Sócrates, Falcão, Serginho e Eder não tinham atuado em Mundiais. Até quem tinha participado tinha jogado poucas partidas. Waldir Peres, mesmo estando no terceiro Mundial, nunca tinha jogado uma partida. Zico e Toninho Cerezo estiveram na Copa da Argentina, mas não chegaram a atuar em todas as partidas. Só Oscar foi titular absoluto em 1978. Tirando Leandro e Luisinho, que eram os mais jovens do time, todos os outros deveriam ter ido para o Mundial de 1978 e chegariam à Espanha com grande bagagem internacional, que poderia fazer diferença no jogo contra a Itália, principalmente quando o jogo ficou empatado em 2 a 2.

Na época, experiência em Copas era fundamental, pois não havia um intercambio tão grande. O Brasil jogava duas ou três partidas contra europeus em um ano e, em 1982, apenas Falcão jogava fora do país. Com poucos jogos contra potencias européias, os jogadores brasileiros sofriam com times que marcavam individualmente. Isso pode se comprovar, pois contra a União Soviética e a Itália, que usaram esse sistema de marcação, o Brasil teve sérias dificuldades.

Derrota na estréia - A estréia contra a União Soviética foi o nosso pior jogo no Mundial da Espanha. O time sentiu a estréia (outro motivo que confirma minha tese de que faltava experiência). Em condições normais, com uma atuação correta do árbitro, o espanhol Augusto Castilho, o Brasil teria perdido a partida. O juiz não marcou dois pênaltis para os soviéticos. Um revés na estréia faria bem para o Brasil por dois motivos. O primeiro, porque iria diminuir a euforia de todos, jogadores, jornalistas e torcedores. Em segundo lugar, escaparíamos de ter Itália e Argentina na segunda fase, jogaríamos contra seleções mais fracas como Polônia e Bélgica.

O time da Itália Talvez este seja o motivo principal. A equipe italiana era muito boa, com craques em todos os setores. No gol, Zoff; na zaga, o líbero Scirea e o lateral-esquerdo Cabrini; no meio, o talento de Tardelli, Antognioni e Conti; e, no ataque, um artilheiro chamado Paolo Rossi. Na partida contra o Brasil, a Itália foi um time que se comportou taticamente melhor. Em nenhum momento, o time italiano foi inferior na partida. Poucos se lembram, mas os italianos marcaram o quarto gol, que foi anulado.

Voltando à teoria da experiência, a Itália tinha praticamente o mesmo time que ficou em quarto na Copa de 1978 e que venceu os argentinos, que ficaram com troféu.

Muito já se falou e escreveu sobre nossa derrota em 1982, talvez nunca saberemos porque os italianos nos derrotaram. A única certeza é a de que nunca vamos mudar o resultado daquela partida: Itália 3 x 2 Brasil.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Para o rebaixamento para Série C de Bahia e Vitória, dois dos mais tradicionais times do país. Para quem não sabe, o Bahia pode ser considerado o primeiro campeão brasileiro, pois em 1959 venceu a primeira edição Taça Brasil. Em 1988, o time venceu o Campeonato Brasileiro. O Vitória sempre revelou bons jogadores, e em 1993 foi vice-campeão brasileiro. A queda dos dois grandes da Bahia é duro golpe para os baianos, que amam o futebol e lotam os estádios para acompanhar seus times. A CBF cancelou o amistoso que a seleção iria fazer contra o Chelsea. Medida mais que acertada. Hoje o time brasileiro conta com os maiores jogadores do Mundo e não fica bem o Brasil sofrer para empatar com times como o Sevilla. Aliás, a maratona que nossos dirigentes fizeram nossos jogadores enfrentarem na última semana (com jogos e viagens num período menor que 48 horas) foi digna de um time de várzea, e não de uma seleção que conquistou em cinco oportunidades a Copa do Mundo.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

FolhaShop

Digite produto
ou marca