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Futebol na Rede

03/10/2005

Campeonato Brasileiro: credibilidade arranhada

HUMBERTO PERON
Colaboração para Folha Online

Na última semana escrevi porque a reta de chegada do Campeonato Brasileiro iria empolgar o torcedor, mas fazia um alerta no último parágrafo: "O cenário de um grande final de campeonato está armado. Só se espera que a arbitragem, o grande problema do campeonato até agora, não interfira e decida o torneio".

Quando me referia aos árbitros falava no baixo nível técnico deles, a falta de critérios e não os acusava de decidirem partidas por pertencerem a esquemas. Mas depois do episódio que envolveu os árbitros Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, principalmente o primeiro que apitou 11 partidas da Série A, não há como não dizer que existem árbitros desonestos e vendidos e que a história do Brasileiro-05 está manchada.

Antes de mais nada preciso dizer que concordo com a decisão do STJD em suspender as 11 partidas dirigidas (aliás, o termo dirigir cai bem, pois o árbitro teria como num roteiro de filme decidir o resultado das partidas, mas, em alguns casos, nem "competência" para fabricar resultado ele teve) por Carvalho, réu confesso, na tentativa de armar resultados dessas partidas. A medida tenta salvar a credibilidade do torneio.

Não vejo razão para que os clubes beneficiados "comemorem", ou os clubes que perderam pontos reclamem, pois estes terão em um jogo limpo a chance de recuperarem os pontos retirados. O mais importante agora é tentar salvar o campeonato. A decisão é correta, pois elimina do torneio partidas que tiveram seus resultados decididos fora do gramado. Mesmo aquelas em que o resultado final não foi o esperado pelo "esquema de apostas" estariam comprometidas, pois foram apitadas por um árbitro venal, que vendeu sua carreira e sua dignidade, por muito pouco. Só espero que a mesma medida de anulação de jogos seja tomada em outros torneios em que Danelon e Carvalho, ou qualquer árbitro, tenham confessado a fabricação de resultados.

Aliás, falando em Carvalho, a sua atitude até que não causa estranho. Como cobrar ética e dignidade de alguém que falsificou um diploma para continuar apitando. Estranho foi ele ter continuado apitando, apesar disso, como se a falsificação de um documento não fosse um ato grave. Até no submundo dos sites de apostas, que também merecem uma investigação, o nome dele era visto com desconfiança, pois os jogos que ele apitava não eram abertos aos apostadores.

O pior foi o ex-árbitro dizer que seu "único" erro foi participar desse esquema. Sinceramente espero que esse erro seja pago numa cadeia (não só de Carvalho, como de todos envolvidos nessa máfia de fabricação de resultados). Caro Edílson, não me interessa se o senhor é viciado em bingos, ou tem outros problemas, o que vale é que ninguém deve ter nenhum erro de conduta e moral. Por alguns trocados, o senhor acabou com a credibilidade da sua classe, os árbitros, e jogou no lixo o processo de moralização, mesmo lento, que o futebol brasileiro vinha passando nos últimos tempos. Por um bom tempo, não teremos como não duvidar da honestidade de um árbitro que marque um pênalti duvidoso, ou valide um gol em impedimento. Como o torcedor poderá aceitar que o resultado que viu em campo não foi arrumado?

Além de acabar com as carreiras dos venais e vendidos como Carvalho e Danelon, o escândalo tem como lado positivo a saída de Armando Marques do comando da arbitragem no futebol brasileiro. A sua passagem pela CBF foi um desastre. Não tivemos evolução na arbitragem, os árbitros ficaram sem retaguarda e, em alguns casos, tiveram que ouvir calados expressões como "diarréia mental". Finalmente, vamos nos ver livres dos ataques histéricos de Armando Marques diante das câmeras.

Para bem do Campeonato Brasileiro, espero que não surjam mais árbitros vendidos como Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, pois não sei se o torneio suportaria outro escândalo.

Até a próxima.
O destaque   O que deveria ser destaque
Na rodada que ficou marcada pelos erros do goleiro Eduardo, do Brasiliense, merece destaque a atuação dos goleiros Marcos, do Palmeiras, e Rogério Ceni, do São Paulo, que tiveram grandes atuações nas partidas contra o Vasco e o Botafogo, respectivamente. Marcos, que voltou a ser titular do Palmeiras após longo período afastado, fez três defesas importantes, já Rogério Ceni evitou que o Botafogo virasse o resultado em cima do São Paulo. No dia 1º de outubro de 1977, num amistoso entre Cosmos e Santos, Pelé fez sua despedida oficial. Passados 28 anos desse jogo, Pelé continua como o principal nome do esporte no planeta e o seu prestígio nesse período não diminuiu. É incrível observar como ele ainda atrai uma quantidade incrível de fãs, muitos que nunca o viram jogar. Mesmo com alguns problemas na sua vida pessoal, o que Pelé fez nos gramados vai demorar muito para ser esquecido.

Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve para a
Folha Online às terças-feiras.

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